Em ‘O peso do talento’, Nicolas Cage interpreta versão ainda mais desenfreada de si mesmo; g1 já viu | Cinema


A estratégia de “O peso do talento” para conseguir público é clara e até um pouco óbvia. O filme, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (12), tem como principal atrativo a interpretação de Nicolas Cage com uma versão ainda mais desenfreada e caricata de si mesmo.

Mas, por mais que ajude, não é necessário ser fã do ator americano de 58 anos para desfrutar da produção. A mistura de comédia e ação sem grandes pretensões diverte ao fazer o arroz com feijão bem feito, sem tentar ser mais do que é.

“O peso do talento” é uma aventura louca com um Nicolas Cage beijando um jovem Nic Cage (para os íntimos) de computação gráfica chapado até as tampas de cocaína, recuperando suas pistolas douradas de “A outra face” (1997) e sem o menor medo de explorar sua fama de excêntrico e as escolhas mais questionáveis de sua carreira.

Assista ao trailer de

Assista ao trailer de ‘O peso do talento’

Tudo isso com o apoio de um Pedro Pascal (“The Mandalorian”) totalmente entregue ao ridículo de toda a situação, com uma grande combinação entre canastrice e autoconsciência – testada em “Mulher-Maravilha 1984” (2020) e alçada aqui à perfeição.

Quem for ao cinema atraído pelo pomposo (e, claro, muito superior) título original, “O peso insuportável do talento gigante” (em tradução livre), no entanto, sairá invariavelmente decepcionado.

Este não é, nem tenta ser, um grande estudo de personalidade e/ou personagem como outras obras em que protagonistas se interpretam, como os excelentes “Quero ser John Malkovich” (1999) e “JCVD” (2008).

Pedro Pascal e Nicolas Cage em cena de ‘O peso do talento’ — Foto: Divulgação

Apesar do que foi dito no último parágrafo, os pontos iniciais entre “O peso do talento” e o filme estrelado por Jean-Claude Van Damme são bem parecidos.

Assim como acontece com o astro da produção belga, Nicolas Cage começa sua própria história como uma versão não tão longe da realidade, com uma reputação desgastada por péssimas decisões de carreira e a vida familiar em frangalhos.

Mas, por mais que ambos façam bom trabalho em misturar talentos dos atores em suas principais obras, a estreia desta quinta não está tão interessada em entender quem é Nicolas Cage, mas em elevá-lo à enésima potência.

Nicolas Cage em cena de ‘O peso do talento’ — Foto: Divulgação

É por isso que, se “JCVD” partia de um fiapo de roteiro, “O peso do talento” explora todos os clichês possíveis em uma grande aventura de espionagem.

Sem projetos e à beira de uma aposentadoria frustrada, o ganhador do Oscar por “Despedida em Las Vegas” (1995) abraça o fim de carreira ao aceitar uma boa quantia para ir ao aniversário de um fã bilionário (Pascal) na Espanha.

Lá, além de construir uma bela amizade e encontrar um museu pessoal dedicado à sua obra, ele é convocado pela CIA para espionar seu anfitrião, que pode ser o líder de um grande cartel de armas – por mais que seus instintos xamânicos discordem.

Ao aceitar o ridículo de um currículo recente questionável (que se estende além do profissional), Cage proporciona uma das melhores e mais desenfreadas atuações dos últimos anos – repletos de atuações desenfreadas.

Entre gritos, tiros, bebidas e drogas, nada mais Nic Cage do que ver o astro dando um beijaço estalado em uma versão mais jovem e rejuvenescida digitalmente de si mesmo.

Por outro lado, por mais que a cena já compense o ingresso, o filme sofreria sem um Pedro Pascal totalmente entregue ao ridículo.

Nicolas Cage e Pedro Pascal em cena de ‘O peso do talento’ — Foto: Divulgação

Sem o chileno, “O peso do talento” dificilmente seria aceito por públicos além dos fãs do protagonista. Com um desapego único, ele dá dignidade ao humor físico utilizado pela produção.

Por mais que o filme dê diversas piscadelas ao público em uma suposta metalinguagem, é o ator quem ele o que seria um pastiche a uma paródia verdadeiramente engraçada.

O roteiro apresenta alguns lampejos de brilhantismo, como os já mencionados encontros de Cage com Cage, mas é previsível toda vida.

Por isso, deve 96% de seu sucesso ao inspirado elenco – algo apropriado para um filme sobre um dos atores certamente mais únicos de Hollywood.



Fonte: Pop & Arte