Desde que teve a primeira exibição no Festival de Veneza de 2021, onde ganhou o prêmio do público, “Deserto Particular”, de Aly Muritiba (de “O Caso Evandro”), vem chamando a atenção em mostras pelo mundo.
Esses bons resultados fizeram com que o filme fosse a escolhido para representar o Brasil numa vaga na categoria de melhor filme internacional no Oscar 2022. Agora, o público brasileiro poderá conferir o longa nos cinemas a partir desta quinta-feira (25).
Assista ao trailer de ‘Deserto Particular’, do diretor Aly Muritiba
O filme conta a história de Daniel (Antonio Saboia, de “Bacurau“), um policial de Curitiba. Após cometer um grave erro, ele é afastado da corporação. Enquanto não volta ao trabalho, fica cuidando do pai idoso e faz alguns serviços de segurança de boate.
A única coisa que o deixa com alguma alegria é a relação virtual que tem com uma mulher chamada Sara, na qual troca confidências e declarações de amor.
Só que Sara, que diz morar no interior da Bahia, para de responder as suas mensagens de uma hora para outra, o que deixa Daniel preocupado. Ansioso por saber o motivo de seu sumiço, o policial deixa o Sul do Brasil e vai até o interior cearense atrás da garota. Durante o caminho, ele vai se meter em situações que não imaginava, mas que não o fazem desistir de encontrar a moça.
Cena do filme “Deserto Particular”, que vai tentar uma vaga entre os indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional — Foto: Divulgação
Assim como em “Ferrugem”, longa que dirigiu e ganhou o Kikito de Melhor Filme do Festival de Gramado de 2018, Aly Muritiba discute em “Deserto Particular” como a tecnologia pode influenciar as relações humanas.
Enquanto em “Ferrugem”, a principal questão é o cancelamento nas redes sociais, “Deserto Particular” se volta para os relacionamentos à distância. É possível se apaixonar de verdade por alguém que você nunca viu? É possível encontrar sua “alma gêmea” trocando mensagens num aplicativo de encontros?
São perguntas que o diretor procura levantar ao mostrar a saga de seu protagonista para encontrar quem conquistou seu coração, mesmo do outro lado do país.
Pedro Fasanaro e Thomas Aquino vivem dois amigos em “Deserto Particular” — Foto: Divulgação
O interessante em “Deserto Particular” está no fato de que, diante de questões tão reflexivas, o filme está mais preocupado em contar bem a sua história de amor. E nesse aspecto, ele é muito bem-sucedido.
O roteiro, escrito por Muritiba e Henrique dos Santos, cria situações que levam o público a torcer para que Daniel consiga encontrar e viver um grande romance com Sara.
Outro ponto criativo do filme é que a história começa a ser contada pelo ponto de vista de Daniel. Depois, em certo momento, a trama passa a ser centrada nos mistérios de Sara e do pessoal que vive no interior baiano.
Robson (Pedro Fasanaro), por exemplo, se divide entre o trabalho e os cultos religiosos que vai com a avó. O rapaz tem como único amigo o cabelereiro Fernando (Thomas Aquino, também de “Bacurau”). As duas histórias se cruzam e se tornam o grande destaque do filme.
Mas é filme para ganhar Oscar?
‘Deserto particular’ — Foto: Divulgação
O que muitos devem se perguntar é se “Deserto Particular” tem chances de ser um dos cinco finalistas do Oscar de Melhor Filme Internacional. Depende de vários fatores, inclusive um bom lobby para a produção ser mais notada.
Mas o Brasil tem um bom representante para disputar o Oscar, sim. O filme toca em questões atuais e universais. Fala de solidão, representatividade, solidariedade. Mas, acima de tudo, é uma singela e delicada história de amor.
Contando com um bom elenco, que tem as participações especiais de atores como Flávio Bauraqui e Laila Garin, “Deserto Particular” cria uma empatia entre o público e o que está sendo contado.
Além de fazer refletir sobre as relações atuais, o filme mostra, como poucos recentes, que a busca pela felicidade pode não ser fácil, nem do jeito que se imagina. Mas que quando é encontrada, é impossível abrir mão dela. Não importa onde ela esteja.
Fonte: Pop & Arte