Conheça o império que LeBron James está montando fora do basquete


Narrativa. O substantivo feminino é mais uma dessas palavras da moda. Na economia, na política, nas artes. Todos querem controlá-la. Quem dita a forma como uma história é contada, geralmente pode apresentar os fatos da maneira que achar mais conveniente. E se existe algum problema em deter tal poder é que, na enorme maioria dos casos, o controle da narrativa é usado apenas para benefício próprio, ou de um grupo em particular. Mas e se o grupo defendido por quem dita a narrativa reune pessoas que nunca tiveram voz? É justo esse controle?

Um dos que acham justo é o astro do basquete LeBron James, um dos principais nomes da NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos, há quase duas décadas. O jogador de 34 anos é um exemplo no que diz respeito ao uso de sua imagem e da sua voz em prol de movimentos contrários a injustiças sociais. Os investimentos, financeiros inclusive, mais recentes do astro do Los Angeles Lakers são prova desta atuação, especialmente em relação ao tal “controle da narrativa” (ou sua variável na língua inglesa: storytelling).

A revista americana de negócios Bloomberg Businessweek traz em sua capa mais recente um LeBron diferente, sem o uniforme de atleta. Ao lado do amigo de infância, sócio e seu empresário, Maverick Carter, o camisa 23 dos Lakers se apresenta como presidente do conselho da Springhill Co., um conglomerado de mídia que une os diversos negócios fundados pela dupla e que arrecadou cerca de 100 milhões de dólares (algo como 536 milhões de reais) em uma recente rodada de investimentos.

SpringHill é o nome do conjunto habitacional popular onde LeBron morou com sua mãe na juventude, na cidade de Akron, em Ohio. A ideia da nova companhia, como os dois amigos defendem em entrevista à Businessweek, é dar voz a criadores e consumidores que foram destratados, ignorados ou desassistidos.

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“Quando falamos sobre narrativa, queremos impactar nossa casa, queremos atingir muitas casas, todas que sintam que são parte dessa história”, disse LeBron James. “Queremos que pensem: ‘sabem de uma coisa? eu me identifico com isso. Parece fiel à forma como fui criado’”. O sócio e amigo do craque do basquete complementa: “Quando você cresce em um lugar como o que nós crescemos, não importa o quão talentoso você seja, você nem sabe que existem outras coisas. É impossível se sentir empoderado pois você pensa que está confinado a esse pequeno universo. Esse é nosso papel, dar voz e exposição a essas pessoas.”

A SpringHill tem vários braços: uma agência de marketing e uma produtora de vídeo – o quadro The Wall, criado originalmente para a rede americana NBC e que faz parte do programa de Luciano Huck na TV Globo, tem LeBron como produtor-executivo. O braço de entretenimento da empresa também atua em parceria com a Netflix na criação de filmes e séries, além de tocar a sequência de Space Jam, a animação com os personagens de desenho animado Looney Tunes, estrelada pelo jogador e que deve ser lançada no ano que vem.

Mas um dos projetos mais próximos de LeBron é o canal Uninterrupted, uma rede de programação digital que produz documentários, séries e podcasts com participação de negros e de minorias. Um de seus produtos de maior sucesso foi a série de conversas ambientada em uma barbearia. O bate-papo é conduzido por James e Carter e conta com convidados de peso, sejam eles do universo dos esportes ou do entretenimento.

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Parte da receita virá de parcerias com marcas fortes, algo já visto anteriormente com a Uninterrupted, que tem uma linha de roupas em parceria com a Nike, patrocinadora de James. Dentre as estrelas que fizeram parte do projeto, estão Megan Rapinoe e Sue Bird, estrelas do futebol e basquete feminino, que assinaram uma linha de roupas em homenagem ao mês do orgulho gay.

Segundo Devin Johnson, chefe de operações da Springhill, 64% de seus funcionários são negros e 40% são mulheres. Ele também explicou que a empresa vai muito além do próprio LeBron. “Ele é nosso fundador e nossa estrela, mas o negócio não é construído em volta dele. Não é possível criar um verdadeiro negócio digital baseado apenas em uma celebridade”, comentou.

O momento para o surgimento da empresa não poderia ser melhor, pois os Estados Unidos, após a morte de George Floyd, tem tido grandes manifestações contra o racismo, que inspiraram o mundo inteiro. Os protestos obrigam que as maiores estrelas também se mobilizem e o silêncio ou demora, caso de Neymar, causa danos à imagem. Em terras americanas, jogadores da NBA e da NFL lutam, inclusive, foi mais igualdade em cargos administrativos das franquias. No futebol, vários atletas se posicionam e lideram movimentos pela igualdade.



Fonte: Jovem Pan