Como MC Davi, dono do funk mais ouvido de 2021, enfrentou fome e virou cantor com DVD dos Racionais | Música


MC Davi tem 23 anos e o funk mais ouvido do país no Spotify. O autor do hit “Bipolar” começou a carreira com 14 após vencer uma tristeza profunda com a ajuda de um sonho e um DVD dos Racionais.

“Até o ano de 2013, eu só escutava música como todo mundo. E, por meio de um pequeno sofrimento, me peguei numa situação quase de depressão. Morei um ano no interior de Sorocaba. Morava em uma casinha na Raposo Tavares, sozinho, sem vizinho. Minha mãe trabalhava o dia inteiro no emprego. Minha única função era ir para a escola. Como era longe, tinha dia que não tinha dinheiro para o transporte e ficava sozinho”, conta em entrevista ao G1.

“Às vezes, não tinha o que comer porque, para andar até o emprego da minha mãe, levava uma hora. Minha irmã trabalhava em uma pastelaria e, de vez em quando, trazia massa de pastel. Eu não tinha recheio e comia pura no óleo. Tinha que cortar o cabelo com gilete porque não tinha dinheiro, passei vários perrengues.”

Ele encontrava alento e força nas músicas dos Racionais. Via os DVDs todos dias até aprender. “Em um dia de muita tristeza, comecei a escrever. Peguei papel e caneta e usei tudo o que tinha: os DVDs do Racionais e o sofrimento para fazer minhas letras.”

MC Davi no clipe de ‘Deboche’ — Foto: Divulgação

As letras encheram um caderno. O suficiente para dar a Davi, com 14 anos, coragem para fazer uma mochila com 5 peças de roupa e entrar em um ônibus para São Paulo sozinho. “Meu foco era vender as letras, não achava que minha voz era boa para cantar.”

Sem um centavo no bolso e morando com a avó, ele trabalhou como cobrador de ônibus no Jardim Brasil, zona norte. Enquanto isso, continuava trabalhando nas letras e cantando para os mais chegados.

“Meus amigos faziam vários vídeos meus cantando e postavam no Facebook. Um dia, fui até um estúdio na comunidade. A música não era boa, o DJ não era bom e eu não era tão bom, mas gravamos e chegou até o ouvido da GR6. Eu recebi o convite e entrei em 2014.”

MC Davi durante show em Florianópolis — Foto: Adriel Douglas / Agência PHE

De lá pra cá, ele emplacou “O verão está chegando”, em 2016; “Pra inveja é tchau”, em 2018 com o MC Kevin; e “Me negaram amor”, Cynthia Luz e Gaab, em 2018.

Ele continua escrevendo todas as músicas que lança, e também faz composições para outros MCs. “Todo dia eu mostro música aqui na empresa. Tenho 40 produzidas e prontas, esperando o momento certo para lançar”.

As raízes na comunidade nunca deixaram Davi. Por isso, ele gosta de escrever o que o pessoal da quebrada curte escutar.

“Com minhas músicas, eu viso o reconhecimento da comunidade, ver minhas músicas tocando nos carros, as crianças cantando. A gente sempre vai mirar nosso público da comunidade que foi quem sempre nos recebeu e deu força.”

“Hoje o forte do funk é o consciente, a realidade. Olhar o dia a dia do que acontece e falar a verdade. Ou você vai passar a visão de um moleque sonhador que está tentando conquistar ou já conquistou. Se você falar que a pessoa vai batalhar e conseguir, pega. A putaria, o proibidão, têm vários caminhos para chegar à comunidade. E os boys acabam gostando.”

Seu último EP foi lançado em 2020 e se chama “Rua”. Com batidas que misturam funk ao rap e trap e letras que falam sobre “sonho de MC”, amor não correspondido e exemplo para as crianças, ele mantem o nas ruas.

Seu sonho a curto prazo é comprar uma casa e montar um estúdio para produzir. Ele costuma compor de madrugada, chegar no estúdio às 16h e sair às 5h da manhã, com mais de seis músicas prontas. “Tenho uns macetinhos para compor: acendo um narguilezinho, deixo a luz do estúdio bem baixa. Gosto de ir quando estou tretado com a minha esposa. Procuro estar em uns picos de muita alegria, muita raiva ou de muito estresse”, conta.

Já a longo prazo, o sonho é outro: deixar a vida frenética de MC e ser “tipo o Roberto Carlos: fazer um show por ano”. “Não pretendo ser MC por muitos anos. Quero me aposentar e ter uma gravadora para lançar outros MCs. Eu não queria fazer isso e acabei me tornando. Acho que têm artistas que gostam mais dessa vida brilhosa que eu.”

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Fonte: Pop & Arte