Depois de se consagrar como atriz no remake de “Nasce uma Estrela”, a cantora Lady Gaga criou uma grande expectativa sobre como se sairia no projeto seguinte como atriz. Ela, então, escolheu estrelar “Casa Gucci”, drama baseado em fatos reais que envolveram os integrantes da família que se tornou um dos grandes nomes da moda. Mas, infelizmente, o filme que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 25 de novembro, ficou bem abaixo do esperado. Nem mesmo a estrela conseguiu se salvar do fraco resultado.
Na trama, Gaga interpreta Patrizia Reggiani, uma mulher que tem sua vida totalmente mudada quando conhece Maurizio Gucci (Adam Driver, de “História de um casamento”), integrante da influente Família Gucci no final dos anos 1970. Os dois se apaixonam e Maurizio chega a romper com o pai, Rodolfo Gucci (Jeremy Irons, o Alfred de “Batman vs Superman”) para se casar com ela.
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Mas logo, os dois voltam às graças da família, através do tio de Maurizio, Aldo (Al Pacino, de “O Irlandês”), que administra os negócios e tem problemas com o filho, Paolo (Jared Leto, de “Blade Runner 2049”), que acredita ser o futuro da marca Gucci, mesmo sendo incompetente e sem nenhum talento.
Aos poucos, Patrizia começa a mostrar sua ambição e passa a querer participar das decisões administrativas do império dos Gucci, fazendo com que Maurizio, Aldo e Paolo entrem em conflito pelo poder e iniciando um perigoso jogo de fraudes, mentiras e traições, que tem consequências fatais para todos.
Lady Gaga e Jared Leto numa cena de “Casa Gucci” — Foto: Divulgação
A primeira parte de “Casa Gucci” é até promissora. Os eventos mostrados no período em que a protagonista é introduzida na vida luxuosa e exagerada dos Gucci são mesmo interessantes e mantêm a atenção do público.
Mas depois da metade do filme, a trama perde o fôlego e se arrasta, a ponto de provocar um cansaço desnecessário ao espectador. O roteiro, escrito por Becky Johnston e Roberto Bentivegna e inspirado pelo livro “The House of Gucci”, de Sara Gay Forden, demora a encontrar novos elementos que possam empolgar e despertam justamente o efeito contrário. A produção se mostra muito mais interessada em ressaltar os figurinos e penteados de gosto duvidoso dos personagens e deixa a história um pouco de lado.
Lady Gaga e Adam Driver vivem um casal em “Casa Gucci” — Foto: Divulgação
Parte desse problema é devido a direção fria e pouco inspirada de Ridley Scott (de “Gladiador” e “Blade Runner”), o que é até surpreendente. Principalmente pelo fato de que o cineasta mostrou bem mais criatividade e vigor em outro projeto que também foi lançado esse ano, o drama de época “O Último Duelo”.
Já em “Casa Gucci”, o diretor se mostra mais preocupado com a estética e menos em aprofundar melhor os conflitos envolvendo os personagens, para deixar mais claros os motivos que levaram os Gucci a quererem destruir uns aos outros. A montagem também é responsável por esse problema, já que deixa várias lacunas na narrativa, não fazendo-a fluir naturalmente e criando incongruências nas ações mostradas na telona.
Assim, não fica claro quando, de uma hora para outra, uma personagem que demonstrava amor por outra, passa a odiá-la de forma repentina e drástica. Isso ajuda a causar estranheza maior do que qualquer figurino cafona que surge nos vários desfiles que o filme mostra.
Lady Gaga interpreta a ambiciosa Patrizia Reggiani em “Casa Gucci” — Foto: Divulgação
Extravagância e falta de noção
Outro problema grave que aparece em “Casa Gucci” é a insistente ideia de que os italianos são todos exagerados na hora de se expressar. Assim, os atores raramente parecem convincentes com seus sotaques macarrônicos, misturando inglês e italiano.
Enquanto Jared Leto (debaixo de uma pesada e convincente maquiagem, que o deixa irreconhecível) abraça a galhofa do medíocre Paolo e não parece se importar de estar acima do tom, Jeremy Irons, Al Pacino e Adam Driver (que também trabalhou com Scott em “O Último Duelo”) tentam falar de forma mais discreta e pouco afetada. Não por acaso, são os dois melhores atores do elenco.
O mesmo não acontece, infelizmente, com Lady Gaga. A atriz acredita que carregar no sotaque e fazer caras e bocas vão fazer com que sua Patrizia seja plausível por ser uma mulher intensa. Mas o que fica claro é que tudo o que ela faz com a personagem é torná-la afetada e artificial demais. Assim, mesmo nas cenas mais dramáticas, ela nunca parece uma pessoa de verdade. Mas alguém que só está preocupada em não errar uma linha do script. Ou seja, uma verdadeira decepção.
Jared Leto, Florence Andrews, Adam Driver, Lady Gaga e Al Pacino em cena de “Casa Gucci” — Foto: Divulgação
Os méritos de “Casa Gucci” vão para o fantástico design de produção, que recria apuradamente o estilo de vida glamoroso do mundo da moda e suas extravagâncias. Para quem gosta dessa área, o filme é um verdadeiro deleite e uma forma de estudar a época retratada. A trilha sonora, que mistura músicas do período e outras que foram criadas muito tempo depois, como “Faith”, de George Michael, também merecem destaque.
Com um desfecho apressado, “Casa Gucci” tinha tudo para ser um filme bem mais memorável do que se tornou e talvez funcionasse até melhor como uma minissérie. Mas deve agradar aos fãs pouco exigentes de Lady Gaga que podem até curtir a nova empreitada cinematográfica da diva pop. Mas ela tem potencial para fazer muito mais do que isso. Basta querer.
Fonte: Pop & Arte