Ideias para filmes e séries podem estar nos jornais, na observação do cotidiano, em livros, em histórias de conhecidos ou pessoas aleatórias. Outras, podem bater literalmente na porta.
Foi o que aconteceu com Breno Silveira, diretor e criador de “Dom”, em 2009. O diretor estava trabalhando na Conspiração quando um homem chegou na recepção e falou que não iria embora até falar com ele. Veja entrevista no vídeo acima.
Era o policial Luiz Victor Lomba, pai de um bandido de classe média alta que assaltava prédios de luxo no Rio nos anos 2000, o Pedro Dom.
Victor queria que alguém contasse a história do filho por uma outra ótica diferente das páginas de polícia dos jornais da época. Na série, o pai do protagonista também recebeu o mesmo nome.
“Comecei a escutar aquele cara ainda muito transtornado com tudo. A princípio, me pareceu uma história muito pesada para contar, mas percebi que, no fundo, tinha uma história de pai e filho ali. Tinha uma outra camada que não era só o que ele me contava”, diz Silveira ao G1.
Não é por acaso que o foco da série que estreou neste mês é a relação entre Pedro e Victor. O desgaste da família e o fato do pai nunca ter desistido do filho são destacados nos oito capítulos disponíveis no Prime Video, serviço de streaming da Amazon.
Série ‘Dom’ foca na relação entre Pedro Dom (Gabriel Leone) e seu pai Victor (Flávio Tolezani); história é inspirada em bandido que roubava prédios de luxo no Rio — Foto: Divulgação
Série ‘Dom’ foca na relação entre Pedro Dom (Gabriel Leone) e seu pai Victor (Flávio Tolezani); história é inspirada em bandido que roubava prédios de luxo no Rio — Foto: Divulgação
“De alguma forma, era uma história tão rica, com personagens tão diferentes, com uma história que retrata a nossa sociedade, a transformação dela através da droga, do o dinheiro dela”, continua.
Com idas e vindas, a série mostra como Victor entrou para polícia ainda muito jovem e combateu a entrada de droga no Brasil nos anos 70. Na parte da juventude, essa missão ficou com Filipe de Bragança, ja na parte adulta é Flávio Tolezani que interpreta o policial.
Terror dos prédios de luxo
Ainda criança, Pedro Dom se viciou em cocaína, começou a roubar objetos de casa para financiar e chegou a ser internado várias vezes. Mais velho, ele acabou virando o líder de uma quadrilha que assaltava prédios na Ilha do Governador, Barra da Tijuca, Recreio e Zona Sul do Rio.
Ele ganhava os porteiros na lábia e na aparência, que lhe rendeu o apelido de “bandido gato”, para entrar nos apartamentos.
Por si só a história, que também foi contada no livro “Dom” (2020), escrito por Tony Belotto, já tem momentos que parecem de cinema. Mas, Silveira garante que o que mais impressiona aconteceu de verdade.
Cena em que Victor (Flávio Tolezani) sobe no morro para buscar o filho, Pedro Dom; momento aconteceu na vida real e pai diz que foi ‘para morte’ — Foto: Divulgação
Cena em que Victor (Flávio Tolezani) sobe no morro para buscar o filho, Pedro Dom; momento aconteceu na vida real e pai diz que foi ‘para morte’ — Foto: Divulgação
Um exemplo é a noite em que Victor Lomba subiu o morro para procurar o filho. Na série, o personagem homônimo refaz exatamente a situação.
“As coisas mais surreais da série são as mais verídicas de todas. Quando ele me contou que tinha subido armado em uma favela para tirar o filho de lá, ele me disse que tinha ido para morte, ele tinha certeza que aqueles traficantes iam matá-lo”, lembra Silveira.
“Não é o Rambo, eu estou falando de um cara que fez isso por amor ao filho”, continua.


Elenco de ‘Dom’ fala sobre série inspirada na história real de Pedro Dom
Outro momento em que o pai algema o filho na cama para que ele não fuja de casa mais uma vez também aconteceu na família de Pedro Dom. Assim, como o momento que o bandido aparece encurralado em um túnel com uma granada na mão.
Segundo Silveira, Victor Lomba estava muito feliz com a série sobre o filho, mas morreu de câncer em 2018, antes de vê-la estrear. Ele passou apenas um dia com o time de roteiristas.
“Ele dizia que a minha história com filho era muito simbólica, muito icônica, no sentido de que ele viu u a droga dentro de casa com o filho e na vida dele ferrar com tudo, com uma sociedade inteira. Então senti que era uma história importante de contar”, diz.
Vontade de explicar o Brasil
Na série ‘Dom’, quadrilha era formada por Lico (Ramon Francisco), Jasmin (Raquel Villar), Pedro Dom (Gabriel Leone), Armário (Digão Ribeiro) e Viviane (Isabella Santoni) — Foto: Divulgação
Na série ‘Dom’, quadrilha era formada por Lico (Ramon Francisco), Jasmin (Raquel Villar), Pedro Dom (Gabriel Leone), Armário (Digão Ribeiro) e Viviane (Isabella Santoni) — Foto: Divulgação
Histórias brasileiras e inspiradas em fatos reais são predominantes na carreira de Breno Silveira, com “2 Filhos de Francisco” e “Gonzaga” e a série “Um Contra Todos” como exemplos bem sucedidos.
A vontade falar sobre o Brasil é uma constante para o diretor de 57 anos.
“É uma coisa de tentar explicar mesmo, seja de um lado ou de outro. As histórias brasileiras me encantam, aquelas histórias que nos explicam, que a gente consegue se reconhecer, se identificar. Por elas serem tão genuínas, elas conseguem viajar pro mundo todo também”, defende o diretor.
“É importante a gente se entender até para se analisar. Para gente entender, porque que a gente está tão errado. Vou te dizer, uma hora essa série vai chegar, no ponto das milícias porque tem a ver. Então é assim o tempo todo tentando entender esse país de alguma forma”, conclui.


Caso Pedro Dom: delegado que investigou criminoso conta bastidores da investigação
Fonte: Pop & Arte