‘Batidão Tropical’ da Pabllo Vittar, o guia: Produtores comentam faixa a faixa com detalhes dos bastidores | Música


“Zap Zum”, “Ânsia”, “Bang Bang” são sucessos gravados pela banda paraense Companhia do Calypso no começo dos anos 2000. Quem cresceu no Norte e Nordeste deve ter alguma lembrança dessas músicas, mas, certamente, muitas pessoas ouviram pela primeira vez no “Batidão Tropical”.

O quarto álbum de Pabllo Vittar é cheio de memória afetiva da infância da cantora no Pará e no Maranhão. Foram essas lembranças que guiaram tanto a escolha do repertório quanto os caminhos dos arranjos.

Primeiro, os produtores e DJs Rodrigo Gorky e Zeby apresentam propostas bem diferentes, mas acabaram com arranjos atualizados, mas relativamente próximos dos originais. Eles detalharam os bastidores no faixa a faixa no G1 Ouviu abaixo.

Covers, autorizações…

Pabllo já tinha vontade de regravar músicas de tecnobrega e forró que são importantes para ela, mas a ideia não sairia do papel em 2021, se não fosse a pandemia.

Com o adiamento de shows importantes como o do Coachella e do Primavera Sound, a cantora conversou com Gorky e eles começaram a pensar nas possibilidades.

“Os nossos planos mudaram muito por conta da pandemia. Esse disco, na verdade, ia ser um EP em que só fossem as covers, só que a gente acabou juntando alguns projetos e amarrando tudo”, diz Rodrigo Gorky ao G1.

Produtores Gorky e Zebu, da Brabo Music, comentam os bastidores do ‘Batidão Tropical’, quarto álbum de Pabllo Vittar — Foto: Reprodução/Instagram/Gorky, Zebu

São nove faixas, três inéditas e seis regravações de sucessos das bandas Companhia do Calypso, Ravelly, Brega.com e Batidão. Para chegar no repertório das covers, Pabllo e a equipe da Brabo Music partiram de uma seleção de 30 músicas.

“A gente começou a cortar por questões burocráticas, porque precisava pedir autorização para tudo quando é cover, algumas eram versões e a gente não sabia…”, explica Gorky.

“No fim, a gente foi diminuindo, por isso até que Pabllo soltou que talvez tenha volume 2, 3 no futuro. Isso é com ela, mas repertório não falta, né?”.

O produtor diz que as autorizações demoraram mais até do que a produção do álbum. De junho a dezembro do ano passado, eles ficaram nesse processo mais burocrático até começar a produzir, de fato.

Gorky, Zebu, Pablo Bispo, Maffalda e Arthur Marques são os produtores e compositores da Brabo Music, que trabalham com Pabllo desde o começo da carreira em 2017.

Nomes fortes dos bastidores do pop brasileiro, eles também assinam produções com artistas como Anitta, Urias, Jão, Luísa Sonza, MC Zaac, Mateus Carrilho, Alice Caymmi.

Com as músicas decididas, eles se dividiram e começaram a pensar como seriam os arranjos das covers, além de formatar as inéditas para que elas estivessem dentro do conceito do álbum. Leia um resumo do faixa a faixa a seguir. A íntegra está no podcast acima.

Capa do single ‘Ama sofre chora’, de Pabllo Vittar — Foto: Divulgação

“Piranha também ama, piranha também chora…”. Inicialmente nomeada como “Piranha”, a música foi escrita em um momento de zoeira dos compositores e produtores da Brabo Music.

Antes da pandemia, eles costumavam se reunir para escrever e a letra saiu no violão, assim como “Triste com T”.

“A gente quis fazer uma coisa bem sofrida, mas um sofrido safado… Foi meio que assim que surgiu, de uma brincadeira”, conta Zebu.

“É uma bachata arrocha. A gente queria muito tirar o som da guitarra de bachata do começo, porque é um som muito característico assim, muito sofrido e brasileiro”.

Pabllo Vittar no clipe de ‘Triste com T’ — Foto: Reprodução/YouTube/PablloVittar

Essa é outra música que surgiu no mesmo encontro dos produtores. A ideia inicial era que ela fosse mais devagar, quase uma pisadinha, mas Pabllo pediu para aumentar a velocidade algumas vezes.

Outra curiosidade é que o verso “hoje eu tô com tesão” foi gravado na demo por Pablo Bispo, de forma provisória, mas acabou ficando, segundo Zebu.

“Tinha uma espaço na música que a gente não sabia o que fazer, logo depois do refrão. Daí o Bispo falou ‘deixa eu gravar qualquer coisa aqui, depois a gente pensa…’ A Pabllo ouviu, falou ‘eu amei’ e ficou”.

Gorky destaca também que é a primeira vez que a cantora e a equipe pensam em uma versão “light”, sem ser explícita das músicas. A decisão antecipa eventuais mudanças que seriam necessárias para tocar as faixas nas rádios e televisões.

Montagem com Pablo Bispo, Zebu, Maffalda, Gorky e Arthur Marques, os produtores e compositores da Brabo Music; eles assinam a produção de ‘Batidão Tropical’ — Foto: Reprodução/Instagram/Zebu

A primeira versão veio da cantora Alice Caymmi, vizinha e amiga de Gorky, e era um reggaeton. Pabllo e os produtores transformaram no forró que entrou no álbum, além de mexerem na letra.

“Foi coisa de 20 minutos, juro, a gente sentou e escreveu. Sempre quando o processo é fácil e rápido, a gente sabe que as coisas vão soar bem, sabe?”, explica Gorky.

“Em todos os discos acaba que nas músicas originais tem bastante bate e volta, mas as três inéditas tiveram pouquíssimo isso”, diz Zebu.

No fim, as três inéditas soam muito coesas ao resto do disco, inclusive Pabllo disse ao G1 que lembrou da Paulinha Abelha, vocalista do Calcinha Preta, quando escutou as novas músicas.

A música foi lançada pela banda Brega.com, na voz de Eliza Mell, mas Pabllo conheceu com a Companhia do Calypso, com Mylla Karvalho. Era uma das músicas que “tinha que ter” no disco, não importava o quão difícil fosse para conseguir a autorização.

“A ideia era fazer quase um bolero, um forró devagar muito emocionante, só que colocando uns sons meio Kali Uchis e tem um breque de heavy metal no final”, conta Zebu.

Eles consideram que foi simples de produzir e contam que o processo, que se repetiu com as outras covers, era abrir a original e ir criando a nova versão a partir dela.

“A Pabllo tem um apego muito grande às músicas, então a gente sentia que às vezes a gente puxava demais para longe e depois voltava mais para o que elas eram originalmente”, continua.

Sucesso da banda paraense Batidão, a faixa acabou ficando bem próxima da original por um pedido de Pabllo, mas nem sempre foi assim.

A ideia inicial era um drum and bass com reggae, mas não passou.

“A gente tinha dois tecnobregas classicões “Ultra Som” e “Apaixonada”. Uma a gente dava para ‘despirocar’ mais e a outra a gente ia só dar uma remexida em sons aqui e ali”, explica Gorky.

Foi o tecnobrega que eles foram “mais longe” da original e é a preferida dos produtores por conta da citação: “Com o DJ Gorkinho é muita curtição, também tem o Zebu e o Maffaldão”.

Quem tocou esse arranjo da música da banda Ravelly foram Maffalda e Pabllo, que tinham a ideia de criar “um som de crack de software de videogame velho e muito barulhento”.

Outra característica da música são os agudos, que fazem parte da identidade do tecnobrega. Gorky explica um pouco sobre isso.

“A gente tem que citar também que o que acontece no pessoal do Pará é que eles gravam em um bpm (batidas por minuto) e aumentam a velocidade depois, com isso aumentam o tom da música também”, destaca Gorky.

“Aquelas vozes que a gente ouve lá em cima, na verdade, foram gravadas um pouco mais grave, só que eles aumentam depois a velocidade e o tom. Mas a Pabllo, não, ela gravou na velocidade que era pra ser e no tom”.

Três músicas do repertório da Companhia do Calypso entraram no “Batidão Tropical”, mas se deixasse virava um álbum só da banda. “Música não falta, algumas ficaram de fora e era tudo Companhia”, afirma Gorky.

“Em ‘Zap Zum’, a gente acabou fazendo quase uma releitura da original só usando os timbres da Brabo Music. A bateria é bem mais eletrônica, a gente gravou umas guitarras ultra processadas”, diz Zebu.

“Eu estava conversando com Pabllo sobre show e ela já falou para preparar todas as bases do show novo, porque vai ter que tocar todas as músicas, sem deixar nenhum de fora”, conta Gorky.

E é totalmente factível tocar o álbum inteiro, já que ele é relativamente curto, são 23 minutos. (Leia o que os produtores falaram sobre o tamanho do disco no final da reportagem).

A música que fez parte do repertório da banda Kassikó ganhou uma versão mais moderna e eletrônica no disco de Pabllo.

Além da equipe da Brabo, outros e jovens produtores trabalharam em “Batidão Tropical” e trouxeram ideias diferentes. Foi o caso dessa faixa, com o mineiro SLASHRR.

“A Pabllo gostou [da versão dele], mas falou que tinha que ser animado, para cima, tinha que ser irreverente como a música original. A gente acabou pegando o que ele tinha feito da parte harmônica, os teclados, os sintetizadores tudo meio doido assim e refez a bateria do nosso jeito”, conta Zebu.

“Como esse foi um disco atípico e foi muito uma coisa: ‘A Pabllo vai saber falar muito melhor pra gente do que a gente’. A nossa é uma visão externa de algo que ela viveu”, adiciona Gorky.

“E, agora, posso fazer uma confissão: se o disco tivesse saído com as versões que a gente tinha na nossa cabeça, não teria dado certo. Então a Pabllo estava certa assim, porque ele é estranho na medida certa e tem o toque dela na medida certa”, diz Zebu.

O clima de faroeste já existia na versão original da Companhia do Calypso, mas ganhou contornos mais acentuados na regravação de Pabllo, que teve produção dividida entre a Brabo Music e o paulista Tin.

“Ele gravou essa guitarra super novela faroeste que ficou muito, muito legal também. A gente sempre tenta trazer o que é a nossa referência de eletrônico, de moderno, mas tem que ter pessoas, coisas de verdade, porque são músicas feitas por bandas”, explica Zebu.

“São músicas que as versões ao vivo são as mais famosas, então é muito difícil replicar essa energia em algo coisa que tem muito computador no meio, tem que botar gente para gravar coisas mesmo”.

“Bang Bang, pra mim, é exatamente o conceito e fecha bem o disco, trazendo a nossa visão, mas ainda de um jeito mais tradicional”, finaliza Gorky.

Sim, já acabou… Por que é um álbum tão curto?

Apenas 23 minutos. Esse é o tempo que dura “Batidão Tropical” até você começar a ouvir tudo outra vez. Os argumentos dos produtores seguem três linhas:

  • Eles seguiram o tempo dos arranjos originais, que eram músicas mais curtas mesmo;
  • Para o público dar ouvir tudo outra vez logo;
  • Como DJs, eles gostam de músicas curtas.

“É justamente para você escutar de novo, mas também porque o álbum é feito por pessoas jovens que tem o attention span [tempo de concentração e atenção exclusiva] de uma mosca”, brinca Zebu.

“Eu também sempre tive aquela coisa de tocou o primeiro refrão? Próxima. Quero ouvir o máximo de música possível. Também uso a explicação de que se fosse uma música de 5 minutos, a gente teria que ter 5 minutos para explicar ali, mas se a gente consegue passar a mensagem em 2…”, continua Gorky.

“Muitas músicas antigas que você escuta hoje, elas soam como se fossem longas porque repetiam tudo, era a estética da época. A estética da nossa está virando essa coisa de entregar a mensagem”, explica Zebu.

“Acho que o importante é entregar a mensagem, a animação. Se determinada música foi feita assim, não faz sentido esticar, porque você está inventando uma coisa que não é. E também a gente gosta de música rápida”, conclui.

Entenda, no podcast abaixo, como o forró que Pabllo tanto escutou na infância e adolescência foi ficando mais pop e eletrônico nos anos 90:

Pabllo Vittar em festivais, lojas de brinquedo, no Semana Pop e sempre indo longe demais
Pabllo Vittar em festivais, lojas de brinquedo, no Semana Pop e sempre indo longe demais

Pabllo Vittar em festivais, lojas de brinquedo, no Semana Pop e sempre indo longe demais



Fonte: Pop & Arte