Abertura ‘mais discreta’ evitou nacionalismo e respeitou momento da pandemia, analisa especialista | Pop & Arte


As quatro horas da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que aconteceu sem o tradicional público do estádio por conta da pandemia, foi marcada pelo tom bem menos festivo do que as anteriores.

O fato gerou uma série de comentários nas redes sociais. Em especial, comparações com a festa de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.

Para Raoni Machado, professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e membro do Grupo de Estudos Olímpicos da USP, “foi uma cerimônia em que, muito mais do que trazer o sentimento nacionalista do Japão, trouxe a mensagem de continuidade da humanidade”.

“Não era um momento de fazer aquela superfesta, era momento de marcar a abertura dos jogos de maneira respeitosa. E isso já vinha sendo debatido, falado, então já era esperado que a abertura fosse feita dessa forma. Da maneira ‘discreta’.”

“Os próprios jogos de Tóquio, desde de 2020, vêm sendo questionados. Muita gente falando que eles não deveriam ser realizados. Então mesmo que estivesse em protocolo, acho que não caberia fazer festa nesse momento. Essa foi a tônica, na verdade, da abertura como um todo”, analisou.

Para Raoni, a questão da pandemia também norteou um ponto no diferencial da abertura de Tóquio. Tradicionalmente, o país que recebe os jogos costuma levar para o evento inicial um pouco de suas características, reforçando a cultura e tradições.

Fotos mostram a delegação brasileira com dezenas de integrantes na Rio 2016 e com apenas dois representantes, Ketleyn Quadros e Bruno Mossa, na abertura da Tóquio 2020 — Foto: Phil Noble/Reuters; Reprodução/TV Globo

“O foco costuma ser muito mais nacionalista. E aqui, no caso dessa cerimônia dos Jogos do Japão, foi ao contrário. Lógico, eles trouxeram elementos tradicionais da cultura japonesa, mas abdicaram de falar da história do Japão, sobre elementos da cultura japonesa. Eles trocaram isso para falar algo mais humanitário.”

Isso explicaria a ausência sentida de personagens de animação que são ícones do Japão, como Pikachu, Jaspion, Godzilla, Super Mario, ponto que foi levantado através de memes nas redes sociais.

Para Raoni, a escolha da tenista japonesa Naomi Osaka para acender a pira olímpica também tem relação com esse momento e todo o contexto.

“Ela, lógico, foi a melhor tenista da história do Japão. Mas ela traz de uma maneira recente um problema de saúde mental que chamou a atenção para o mundo. E a forma como ela encarou esse problema com naturalidade… Ela mesma diz: ‘qual o problema de não nos sentirmos bem?’’.”

“E a saúde mental foi uma constante na pandemia. Então acho que ela representa essa adversidade da saúde mental junto com a superação que são os Jogos Olímpicos e do que é a ideia principal especificamente desses jogos.”

“Esses são os jogos da superação, do enfrentamento e da adversidade. Da saída de uma situação confusa, daquele apagar das luzes iniciais, onde não temos um vislumbre de um futuro, pra que de repente a gente possa começar a reconstruir tudo.”

Fogos dourados são lançados após a pira olímpica ser acesa durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão — Foto: Marko Djurica/Reuters

A música “Imagine”, de John Lennon, apresentada no evento, também “reforça essa ideia inicial da humanidade mesmo”, segundo Raoni.

“Você quer algo melhor do que isso, do que o resgate da música ‘Imagine’? ‘Imagine all the people..’. A bandeira olímpica, os anéis olímpicos são isso, são povos unidos em uma única ideia. Então a música traz isso principalmente nesse momento e, lógico, ligado a visão do comitê organizador, de todos juntos, embaixo da bandeira olímpica, com paz e respeito, enfrentando as adversidades.”

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Fonte: Pop & Arte