‘Vou correr atrás de refazer a prova em braile’, diz estudante cega que recebeu prova convencional do Enem em Ribeirão Preto | Ribeirão Preto e Franca


A estudante Letícia Gabriele Nunes Araújo, de 18 anos, vai entrar com um recurso para tentar refazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Ribeirão Preto (SP). A jovem, que é cega, alega que os pedidos para fazer as provas em braile não foram atendidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep).

“Eu espero ter mais uma chance em janeiro se eu puder. Eu vou correr atrás disso e vou continuar correndo atrás de refazer a prova em braile.”

Nos dois domingos de aplicação, a estudante só respondeu às questões porque contou com a ajuda de uma ledora – pessoa responsável em ler a prova para pessoas com deficiência visual.

Assim mesmo, Letícia se diz prejudicada porque não conseguiu fazer a redação no primeiro domingo e pela dificuldade na segunda etapa, com questões de matemática, física, química e biologia.

“Por mais que eu tinha a ledora, eu tenho certeza que se eu estivesse com a minha prova em braile eu conseguiria fazer mais concentrada, menos nervosa, e ia poder ler. Tinha muito gráfico, muitas figuras, então era tudo olhe o gráfico e responda a questão. Tinha resposta que a alternativa era em gráfico. Ficou muito difícil.”

Ao ser procurado na segunda-feira (22) após a primeira etapa do Enem, o Inep informou que a estudante não havia solicitado a prova adaptada. Nesta segunda-feira (29), o instituto não comentou o motivo de Letícia ter recebido a prova convencional mais uma vez, mesmo já tendo sido alertado sobre o erro anterior alegado pela família.

Letícia Gabriele Nunes Araújo, de 18 anos, quer refazer a prova do Enem em braile — Foto: Ronaldo Gomes/EPTV

Família diz que Inep errou

Letícia sonha cursar faculdade de artes cênicas em São Paulo (SP). Quando se inscreveu para o Enem, Letícia e a mãe, Daiane Nunes Nogueira, dizem que informaram que a jovem é cega. Segundo Daiane, a filha nasceu com uma malformação congênita no nervo óptico, sem reversão.

As duas enviaram ao Inep um relatório médico do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, informando que a estudante tinha a necessidade de realizar provas em braile.

A mãe conta que Letícia recebeu ligações do Inep para confirmar a necessidade da adaptação antes do primeiro dia. No entanto, na hora de fazer a prova, o caderno entregue a ela nos dois dias foi o convencional. Ela lamenta que o esforço da jovem ao longo do ano para estudar para a prova tenha sido em vão.

“Eu me sinto triste pela situação. Eu não queria que tivesse acontecido isso. O erro não foi nosso, foi um erro deles. A gente quer correr atrás para que ela não seja prejudicada. Ela fez olimpíadas de matemática.”

A mãe de Letícia, Daiane Nunes Nogueira, segura laudo do HC de Ribeirão Preto sobre a cegueira da filha — Foto: Ronaldo Gomes/EPTV

Ao contrário do que o Inep afirma, Daiane diz ter os documentos comprovando a solicitação para a prova adaptada da filha.

“Eu tenho todos os documentos escritos que ela pediu a prova adaptada, para fazer a prova em braile, e não tivemos nenhum retorno. Eles ligaram para ela duas vezes e ela falou que necessitava da prova de braile. Agora fica a palavra deles contra a nossa, mas a gente tem tudo que realmente ela pediu a prova em braile.”

De acordo com o Inep, os pedidos de reaplicação de prova podem ser feitos por candidatos em casos específicos de problemas logísticos durante a aplicação.

Entre os problemas descritos como logísticos pelo Inep está “erro de execução de procedimento de aplicação pelo aplicador que incorra em comprovado prejuízo ao participante”.

O participante afetado pode solicitar a reaplicação em até cinco dias após o domingo (28). O formulário está disponível no site enem.inep.gov.br/participante e os casos são julgados, individualmente, pelo Inep.

Gráfico da prova convencional do Enem aplicada à Letícia em Ribeirão Preto, SP — Foto: Ronaldo Gomes/EPTV

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Fonte: Fonte: G1