Saiba por que a Unicamp terá pela 1ª vez nos vestibulares obras escritas em outros idiomas além do português | Campinas e Região


Para entender os objetivos das escolhas destas obras e outras sete que serão inseridas gradualmente nas provas, o g1 conversou com o diretor da comissão organizadora (Comvest), José Alves de Freitas Neto. Veja abaixo as listas com a indicação em destaque dos textos incluídos em cada edição.

Nesta reportagem, você vai saber:

  • 1) Qual o objetivo de recorrer a obras que não têm origem na língua portuguesa?
  • 2) Quais as contribuições de “Alice no país das maravilhas” para o vestibular?
  • 3) Qual a importância da obra de Chimamanda, considerando-se o atual contexto?
  • 4) A inserção da obra de Krenak é o primeiro diálogo do vestibular tradicional com a cultura indígena?
  • 5) Cartola, Caio Fernando Abreu, Conceição Evaristo e José Paulo Paes. Quais as reflexões esperadas dos estudantes?
  • 6) Qual a importância manter clássicos de Machado de Assis e Lima Barreto?
  • 7) A prova ficará “mais fácil” ou “mais difícil” com a nova proposta da Unicamp em literatura?

O diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto — Foto: Antoninho Perri / Unicamp

1) Qual o objetivo de recorrer a obras que não têm origem na língua portuguesa?

Segundo o diretor da Comvest, o propósito de colocar obras que não são de língua portuguesa é privilegiar o diálogo que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe sobre o acesso dos estudantes às produções literárias, tanto em escala local e regional, quanto global.

“Há uma perspectiva em que você tem obras importantes, obras de referência produzidas em outras línguas, e que também são importantes para poder apresentar aos estudantes. Então, de alguma forma, nós estamos fugindo do engessamento que tem dentro de uma narrativa de uma literatura nacional ou de literatura exclusivamente portuguesa, para trazer questões que sejam pertinentes aos jovens” explicou.

2) Quais as contribuições de “Alice no país das maravilhas” para o vestibular?

Freitas Neto ponderou que a obra de Lewis Carrol é apresentada como uma literatura juvenil, mas ao mesmo tempo tem referências e diálogos sobre simulacros, dúvidas, reflexões sobre o “espelho” e temáticas que provocam questionamentos aos estudantes.

“No momento de tantas manipulações, de tantos discursos ou narrativas falseadas, entender o universo de Alice e esse caráter curioso, de pergunta e essa indagações estimulam para que os estudantes possam fazer as correlações possíveis entre o universo de Alice, o país das maravilhas e perceber a quantidade de enganos que têm nessas narrativas”, frisou.

Animação inspirada no clássico ‘Alice no país das maravilhas’

3) Qual a importância da obra de Chimamanda, considerando-se o atual contexto?

Professor de história no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), o diretor da Comvest ponderou que a escritora nigeriana é consagrada e exerce importante papel de militância para discutir o feminismo, sobretudo por ser uma autora mulher e negra.

“Consequentemente esses contos reúnem parte das suas preocupações teóricas e são assuntos que estão na pauta dos direitos humanos, na pauta da representatividade e da diversidade, que a Unicamp tem refletido nos últimos anos”, explicou.

4) A inserção da obra de Krenak é o primeiro diálogo do vestibular tradicional com a cultura indígena?

Freitas Neto avaliou que o ensaio “A vida não é útil” é relevante por instigar reflexões sobre o colapso ambiental, e a inclusão de um intelectual indígena gera maior visibilidade e representatividade ao grupo.

“Quando a Unicamp faz um vestibular indígena e recebe aproximadamente 130 alunos a cada ano, significa que nós estamos não apenas incorporando os alunos, mas buscando as suas referências. Eu diria que faz parte deste processo de aprendizagem mútuo, dos estudantes com a universidade, e da universidade com as referências das culturas e povos indígenas”, avaliou.

5) Cartola, Caio Fernando Abreu, Conceição Evaristo e José Paulo Paes. Quais as reflexões esperadas dos estudantes?

Ao ponderar sobre as outras obras inseridas, o diretor da Comvest explicou que as canções de Cartola surgem no contexto de substituição de “Sobrevivendo no inferno”, dos Racionais MC’s, e que os demais autores escolhidos para a lista de obras obrigatórias contribuem no âmbito de temáticas sociais.

“Temos valorizado as poesias que são cantadas porque afinal de contas essas músicas são de grande domínio do público e tem grande inserção. De alguma forma também reflete aspectos líricos e que permitem problematizar […] O mesmo pode se dizer de Caio Fernando Abreu, a temática da vida gay, repressão, do contexto da sociedade brasileira e preconceitos existentes, e as angústias por parte das figuras e sujeitos narrados. A mesma coisa podemos falar de Conceição Evaristo, uma escritora negra e que tem batalhado para estar na Academia Brasileira de Letras, clamando pela ancestralidade e produções que envolvem origens, a população negra e apresentar o universo aos estudantes. E José Paulo Paes é um autor pouco conhecido, explorado e tem uma poesia instigante.”

6) Qual a importância manter clássicos de Machado de Assis e Lima Barreto?

A Comvest frisou que obras clássicas seguem relevantes na composição da prova de literatura.

“O que nós tivemos nessa proposição, inclusive transição, é ter um mix que envolve literaturas e obras mais novas e outras que sejam clássicas. Permanecer com Machado e Lima Barreto é também dizer que o cânone ou aquilo que está consagrado tem reflexões muito importantes aos jovens que estão se preparando para ingressar na universidade”, falou o professor.

7) A prova ficará “mais fácil” ou “mais difícil” com a nova proposta da Unicamp em literatura?

Segundo Freitas Neto, o nível do vestibular da Unicamp será semelhante ao das edições anteriores.

“Acreditamos que a prova não fica nem mais fácil, nem mais difícil, mas fica mais próxima dos estudantes por conta dos temas que estão sendo explorados. Então, toda prova tem uma calibragem para ter questões de nível médio, fácil e mais complexo, e isso continuará assim. O que nós queremos é que os estudantes estejam estimulados a conhecerem as obras, a estarem próximos, e consequentemente ter um bom desempenho”, salientou.

  • Olhos d’Água, de Conceição Evaristo;
  • Canções escolhidas, de Cartola;
  • Casa Velha, de Machado de Assis;
  • Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol;
  • Niketche – uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane;
  • A Tarde, de Olavo Bilac;
  • Carta de Achamento a el-rei D. Manuel, de Pero Vaz de Caminha;
  • O Ateneu, de Raul Pompeia;
  • Conto “Seminário dos ratos”, Lygia Fagundes Telles;
  • A vida não é útil, de Ailton Krenak;
  • Prosas seguidas de odes mínimas, de José Paulo Paes;
  • Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto;
  • Morangos mofados (contos escolhidos), de Caio Fernando Abreu;
  • Olhos d’Água, de Conceição Evaristo;
  • Canções escolhidas, de Cartola;
  • Casa Velha, de Machado de Assis;
  • Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol;
  • Niketche – uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane;

Vestibular da Unicamp usará dez canções de Cartola — Foto: GloboNews

  • No seu pescoço, de Chimamanda Ngozi Adichie;
  • Prosas seguidas de odes mínimas, de José Paulo Paes;
  • Olhos d’Água, de Conceição Evaristo;
  • A vida não é útil, de Ailton Krenak;
  • Casa Velha, de Machado de Assis;
  • Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto;
  • Morangos mofados (contos escolhidos), de Caio Fernando Abreu
  • Canções escolhidas, de Cartola;
  • Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol;

O escritor Ailton Krenak — Foto: GloboNews

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Fonte: Fonte: G1