Pesquisa do Sabin comprova danos do cigarro eletrônico, como inflamação e disfunção alveolar

A inalação dos aerossóis contendo nicotina, propilenoglicol, glicerina, acetato de vitamina E e outros aditivos – encontrados nos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), mais conhecidos como cigarro eletrônico, vapes e pods – pode interferir nas funções pulmonares e levar a danos respiratórios, como a disfunção alveolar e inflamação maciça. Trabalho conduzido por especialistas do Sabin Diagnóstico e Saúde, apresentado no Congresso Brasileiro de Radiologia, detectou aspectos radiológicos desta condição em exames de tórax dos usuários.

A radiologista do Sabin Carolina Neves Luis Ronan Souza, que integrou o estudo em parceria com a Universidade Federal do Triângulo Mineiro, explica que o cigarro eletrônico se desviou do propósito original de ser uma alternativa menos nociva ao tabagismo convencional, reduzindo doenças associadas. “Pelo contrário, essa nova modalidade do ato de fumar gerou um crescimento exponencial de usuários de nicotina pelo mundo, especialmente entre jovens e adolescentes”, alerta Carolina.

Doença pulmonar grave associada ao uso de DEFs, a EVALI (sigla para E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury) ganhou destaque em 2019, quando uma onda de 2.800 casos de lesões pulmonares severas foi identificada nos Estados Unidos. Desde então, milhares de casos foram relatados, com ampla distribuição geográfica e afetando predominantemente adultos com idade média de 24 anos. Além da nicotina e dos aditivos encontrados nos DEFs, certos líquidos para vaping contém metais pesados, como chumbo e níquel.

As manifestações clínicas da EVALI incluem sintomas respiratórios como tosse, dor torácica e dispneia. Já entre os aspectos gastrointestinais, estão náuseas, vômitos e dor abdominal, além dos sistêmicos febre, calafrios e perda ponderal. Segundo a radiologista do Sabin, pela sua gravidade, essas lesões pulmonares frequentemente resultam em hospitalizações prolongadas e, em alguns casos, em óbito.

Diagnóstico

A tomografia computadorizada é o método de imagem com melhor capacidade para detectar esse tipo de lesão, sendo comuns padrões de opacidades em vidro fosco bilaterais difusas, pneumonia lipoídica, opacidades nodulares ou com aspecto de árvore em brotamento, pavimentação em mosaico, consolidações em bases, pneumonia eosinofílica, pneumonia em organização, hemorragia alveolar difusa, bronquiolite respiratória com doença pulmonar intersticial associada.

De acordo com o estudo, considerando a pluralidade de apresentações desta condição, é fundamental detalhar a histórico clínico e questionar o uso dos DEFs na avaliação de pacientes com quadros respiratórios, sobretudo na população de adolescentes e jovens, que não se autodeclaram fumante, apesar de consumir DEFs.“Na radiologia torácica é imprescindível que os dados clínicos do paciente sejam coletados de forma cuidadosa, para que possa se pensar na hipótese de EVALI, em pacientes com quadros respiratórios dramáticos”, contesta Carolina Neves

Legislação contra o cigarro eletrônico

Desde 2009, é proibida a comercialização de cigarro eletrônico no Brasil e, neste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) renovou a proibição. Quem for pego vendendo os dispositivos pode responder pelo crime de contrabando, mesmo que não tenha sido o importador. Porém, apesar da legislação, pesquisa da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), aponta que o número de pessoas que usavam cigarro eletrônico quadruplicou no Brasil entre 2018 e 2022. Saiu de 500 mil para 2,2 milhões de usuários.

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