Iniciativa brasileira voluntária ganha prêmio por reconstruir rosto de pessoas com câncer facial – Notícias





O Brasil possui alto índice de diagnósticos de câncer de boca e face, que acometem mais de 20 mil pessoas no país a cada ano. Como consequência da doença, ficam sequelas que podem causar severas desfigurações na face. Em reconhecimento aos profissionais que dedicam tempo e disposição para recuperar a autoestima de pessoas com rostos desfigurados, o Instituto Mais Identidade se destacou entre as 21 Organizações Não Governamentais (ONG’s) finalistas no Programa VOA 2021 e conquistou o 1º lugar pelo trabalho voluntário realizado em pacientes com algum tipo de trauma facial.


Quem convive com alguém diagnosticado com câncer facial sabe que, muitas vezes, a autoestima do paciente é comprometida bem como o convívio social, uma vez que atividades, como trabalhar e realizar as funções do dia a dia, ficam restritas. Sensibilizados em proporcionar uma melhoria na vida de pacientes com algum tipo de sequela por traumas, doenças ou acidentes, profissionais do Instituto Mais Identidade realizam, gratuitamente, reabilitação bucomaxilofacial aliando tecnologia à competência de dezenas de profissionais comprometidos em recuperar a autoestima de outras pessoas.


Neste ano, mesmo em meio à pandemia e seguindo todos os protocolos de segurança, o Instituto realizou 10 reconstruções faciais em pacientes na cidade de Natal (RN), que terão cirurgias e próteses instaladas em janeiro de 2022. A conquista veio com auxílio de campanha de arrecadação financeira feita na internet.


O projeto teve início em 2015 e já ajudou a reconstruir a face de 30 pacientes. Tanto empenho rendeu, de forma inesperada, o reconhecimento do Programa VOA 2021, ao trabalho desenvolvido nesse ano em parceria com os mentores da AMBEV-VOA, conforme explica o responsável pelo projeto, o cirurgião-bucomaxilofacial Luciano Dib.  “Ao longo do ano, recebemos mentoria em gestão, que gerou esse projeto de atuação semipresencial em Natal, com campanha de captação de recursos via financiamento coletivo, proporcionando o atendimento dos pacientes. Os avaliadores da AMBEV selecionaram organizações que participavam do programa para a final e o Instituto Mais Identidade foi premiado em 1º lugar, sendo a Organização de Destaque do Ano”, comemora o especialista.


Formado em Odontologia, Luciano Dib é pesquisador da Universidade Paulista (UNIP) e revela sentir um misto de realização e emoção por poder contribuir para o resgate da qualidade de vida de pessoas com câncer na face. “Sinto que é a minha missão de vida fazer para o paciente tudo aquilo que está ao nosso alcance e um pouco mais. Sempre falo para meus alunos estudarem mais, pesquisarem mais, porque quando descobrimos algo, estamos abrindo uma portinha de esperança para que aquele paciente encontre perspectiva para seguir em frente”, destaca.


Pesquisa e tecnologia como aliadas

Através da convivência e do aprendizado com professores do Brasil e do exterior, Dib trouxe técnicas de implante e prótese que puderam ser desenvolvidas aqui no país no programa de pós-graduação da UNIP. Para tornar o trabalho possível, o instituto recebe apoio da Universidade Paulista, que cede laboratório de última geração, com impressoras 3D, para esculpir próteses para os pacientes.


A tecnologia funciona a partir de modelos obtidos com fotografias digitais feitas com smartphones, o que possibilita que pacientes possam ser atendidos em locais distantes da sede do Instituto, que está situado na cidade de São Paulo.


A técnica de construção de próteses faciais com recursos digitais foi desenvolvida como pesquisa no Programa de pós-graduação Stricto Sensu em Odontologia da UNIP, em uma parceria entre o Instituto Mais Identidade e o designer digital Cícero de Moraes, reconhecido como um dos mais importantes pesquisadores na reconstituição forense.


Denominada Mais Identidade, a técnica utiliza a câmera fotográfica de um smartphone para tirar uma série de fotos padronizadas de um paciente com deformidade facial com o objetivo de captar a sua anatomia. Assim, o rosto é digitalizado em 3D a partir de software gratuito e livre, para que seja realizada a reconstituição digital da porção afetada, que servirá como base para a construção da prótese facial que será impressa em 3D. Esse protótipo é transformado com materiais específicos, como silicones ou resinas, para concluir a prótese facial com acabamento e estética próximos às características do paciente.


A metodologia internacionalmente reconhecida promove a escultura das próteses por meio de técnicas digitais de alta precisão. No entanto, a tecnologia por si só não faz todo o trabalho, sendo necessário ter uma equipe multidisciplinar do Instituto Mais Identidade, composta por cirurgiões-dentistas, médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, designer digital e administradores, totalizando 10 membros fixos além de diversos alunos de pós-graduação e graduação.


Autoestima recuperada

Uma das pacientes acompanhadas pelo projeto é Denise Vicentin, 55 anos, residente em São Paulo. Aos 22 anos, ela foi diagnosticada com um tumor no palato, um Adenoma Preomorfico. Da descoberta de novos tumores até o câncer, foi submetida a sessões de radioterapia que acarretaram em problemas de visão. Assim, ela viu seu rosto perder a identidade.


Em 2017, Denise recebeu ajuda de uma pessoa que a apresentou ao cirurgião bucomaxilofacial Luciano Dib e ao Instituto Mais Identidade. Acompanhada por uma equipe multidisciplinar, o tratamento começou de dentro para fora com apoio psicológico até chegar ao tão esperado momento de se olhar no espelho, depois de anos evitando ver o próprio reflexo.

Nesse processo, Denise teve parte do seu rosto preenchido com prótese oferecida pelo Instituto Mais Identidade. “Tinha a sentença de ficar na sala de cirurgia devido a tamanha gravidade. Graças a Deus, posso dizer que sou um milagre”, comemora Denise.


Para Luciano Dib, que acompanhou o caso da Denise, a recompensa é a gratidão estampada na face dos pacientes. “Eu digo, até de forma emocionada, que isso é, sem dúvidas, a minha maior motivação. A chance de poder ajudar essas pessoas a ter um motivo para abrir os olhos e viver mais um dia”, declara.


Fonte: Agência Educa Mais Brasil



Fonte: Fonte: R7