A vitória das big techs contra o Projeto de Lei das Fake News está fazendo preço no mercado, mas não como se imagina. As ações dessas empresas são negociadas localmente por meio de BDRs (Brazilian Depositary Receipts), o papel que representa valores de emissão de empresas com sede no exterior. Embora exista um catalisador doméstico, que é a retirada do PL da pauta da votação, na última terça-feira, 2, após intensa ofensiva das big techs contra a matéria, as BDRs são arbitráveis com atuações externas. “Nova York sempre vai importar muito mais”, afirmou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura. “Um investidor local poderia comprar BDRs das empresas de tecnologia para ganhar exposição a essas empresas, mas quando o investidor estrangeiro ver forte movimento de compra no Brasil ele vai se desfazer da posição”, explicou. É uma correção de disparidade em ‘tempo real’.
As ações das empresas de tecnologia, queridinhas dos investidores, possuem agrupamentos. Microsoft e Apple, por exemplo, são consideradas mais defensivas — ou seguras — por uma dinâmica mais estrutural de “computadorização de tudo”. “Elas se aproveitam do movimento de venda de software, nuvem e hardware”, explicou Borsoi. Outras duas são mais “cíclicas”, que acompanham o movimento da economia, como Google, Netflix e Meta. Entre esses dois grupos, há a Nvidia, que tem apostado em inteligência artificial: dinâmica de software, mas cíclica. “O setor está performando positivamente neste ano com perspectiva de queda de juros internacional e risco inflacionário fora do radar”, afirmou o economista-chefe da Nova Futura.
Apesar disso, a decisão de ontem faz preço no mercado, mesmo que não diretamente. “Para as ações em si a decisão de ontem não tem nenhuma relevância, mas para o nosso cenário sim. Ficou bastante claro que o Governo não tem tanto apoio no Congresso quanto se imaginava”, explicou Borsoi. Segundo ele, a partir disso, são duas leituras possíveis: uma é que o Legislativo não vai deixar passar muitas pautas polêmicas do ponto de vista econômico, como o novo arcabouço fiscal, que ainda não é unanimidade na Faria Lima; a outra é que, com o processo ‘nas mãos’, o Congresso vai para cima do Governo. “Lula não terá espaço para cometer grandes erros”, disse o economista.
Sem a certeza de que o texto terá votos suficientes para aprovação e a pedido de deputados para maior tempo de análise, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) pediu o adiamento da discussão do texto. “Especulamos hoje durante todo o dia alguns caminhos alternativos para que a lei tenha algum mecanismo de fiscalização que possa se cumprir a lei, aplicando inclusive sanções. Mas ocorre que, mesmo após todos esses encontros e ouvindo todas as bancadas, nós não tivemos, eu assumo como minha responsabilidade de relator, tempo útil para examinar todas as sugestões”, disse o relator.