Vale diz que meta de minério para 2021 é conservadora | Negócios


A meta de produção de minério de ferro da Vale em 2021 é “conservadora” e haveria espaço para um aumento maior na comparação com 2020, ano em que a empresa ficará abaixo de seus objetivos, disse nesta quarta-feira (2) o diretor-executivo de Ferrosos da mineradora.

Conforme as metas revisadas para este e o próximo ano reveladas mais cedo, a produção de minério de ferro da Vale poderia aumentar em até 11,7% em 2021 ante 2020.

A companhia estima sua produção na faixa de 315-335 milhões de toneladas no ano que vem, ante 300-305 milhões de toneladas agora esperadas para 2020.

“O racional para isso, para o ponto menor do intervalo (de 2021), consideramos a nossa capacidade hoje, com alguns possíveis riscos operacionais, de chuvas ou manutenções, considerando nenhuma evolução no plano de recuperação. É um número bem mais conservador”, explicou o diretor Marcello Spinelli, durante o Vale Day.

“O ponto maior do intervalo, consideramos que vamos receber algumas autorizações e os novos ativos vão entrar em operação dentro do programado. Mas também consideramos algumas contingências, algumas frustrações. Então podemos ter alguns aumentos, mas preferimos ser mais conservadores, colocando 335 milhões como produção máxima para 2021”, acrescentou ele.

Os volumes projetados para o próximo ano pela companhia – que já foi a maior produtora global de minério de ferro, posto perdido para a anglo-australiana Rio Tinto – ficam abaixo até mesmo do que a empresa havia estimado originalmente em 2019 para 2020.

Logotipo da Vale em sede da empresa no Rio de Janeiro — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Já a produção de 2020 deve ficar abaixo da meta projetada mais cedo no ano, de 310 milhões a 330 milhões de toneladas, enquanto a companhia ainda lida para retomar capacidade em meio a efeitos do desastre de Brumadinho (MG), em janeiro de 2019, em um ano em que sofreu efeitos da pandemia e também de chuvas que reduziram a flexibilidade das operações.

No Vale Day do ano passado, antes de uma revisão nas metas, a companhia havia projetado entre 340 milhões de 355 milhões de toneladas para 2020 e 375-395 milhões para 2021.

Anteriormente, Spinelli havia dito que a companhia estava produzindo em um bom ritmo no quarto trimestre, “na casa de 1 milhão de toneladas ao dia”, mas também tinha citado riscos de atrasos, como o caso do projeto Serra Leste.

A companhia anunciou apenas ao final de novembro a obtenção da licença para retomada e expansão de Serra Leste.

Analistas do Bradesco BBI afirmaram que o guidance de produção inferior foi um pouco decepcionante, mas que não justificava nenhuma mudança estrutural na visão para a companhia. O banco tem recomendação ‘outperform’ para os papéis da Vale, com preço-alvo de 18 dólares para os ADRs.

Na mesma linha foi o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, que reiterou a manutenção do posicionamento favorável à compra do ativo e classificou “o evento como neutro”.

“Embora a queda (no guidance) represente uma surpresa frente nossas expectativas de alcance ao ‘lower bound’ da meta anterior, acreditamos que, se a companhia atingir uma produção próxima ao ‘upper side’ da nova meta, a surpresa negativa pode ser compensada pelo efeito caixa causado pela redução da oferta”, disse.

“Ademais, o alcance adiciona uma produção residual a 2021 e 2022 para que Vale alcance os 400 mtpa (milhões de toneladas ano) requeridos pela companhia ao término de 2022.”

No longo prazo, a empresa espera ter capacidade de 450 milhões de toneladas, para ter maior flexibilidade de operação.

A Vale estimou investimentos de US$ 4,2 bilhões em 2020, estável ante previsão revisada anteriormente, enquanto projetou um capex de US$ 5,8 bilhões em 2021.

Na média dos próximos cinco anos, o investimento anual será de US$ 5,5 bilhões. Dentro deste valor, a companhia espera investir US$ 4,5 bilhões em atividades de manutenção e US$ 1 bilhão para crescimento.

A Vale também apontou desembolsos de caixa para descaracterização de barragens de US$ 400 milhões em 2021, US$ 500 milhões em 2022 e US$ 300 milhões nos próximos anos até 2025.

Devidos a ajustes nos projetos de descaracterização e obras para melhorias da segurança, a Vale espera registrar uma provisão adicional de aproximadamente US$ 670 milhões (valor nominal) para a execução do plano de descaracterização nas demonstrações financeiras do quarto trimestre, disse a companhia.

Com isso, o total dessas provisões somará, aproximadamente, US$ 2,7 bilhões (valor nominal) em 31 de dezembro de 2020, valor que está sujeito a revisão.

Essas provisões deverão fazer frente às descaracterizações de 29 estruturas e barragens a montante até 2029. Em 2019, foram feitas três descaracterizações, em 2020 outras duas, e mais três estão esperadas para 2021.

A dívida líquida expandida (considerando 100% da distribuição do fluxo de caixa) deverá fechar 2020 em US$ 10 bilhões, caindo para US$ 8,6 bilhões no próximo ano e US$ 7,4 bilhões em 2022.

Para 2021, a Vale estimou impacto negativo no fluxo de caixa de US$ 640 milhões da divisão de carvão, ante US$ 1,1 bilhão em 2020, enquanto vê outros US$ 350 milhões negativos com a unidade de níquel VNC, ante US$ 380 milhões neste ano.

Já a fundação Renova, criada para realizar reparações pelo desastre da Samarco, terá impacto negativo no fluxo de caixa de US$ 550 milhões em 2021, ante US$ 400 milhões em 2020.

O diretor financeiro da Vale, Luciano Siani, reiterou que a empresa segue buscando um acordo global junto ao Estado para reparações pelo desastre de Brumadinho, e que a empresa separou R$ 19 bilhões. Contudo, ressaltou ele, isso não impedirá pagamentos de dividendos extraordinários referentes ao ano de 2021.

A empresa apresentou também metas para melhorar a segurança, prevendo redução em 50% da exposição de empregados a riscos até 2025, e citou que terá uma abordagem mais proativa na gestão de riscos, ao suspender nove operações e projetos preventivamente para melhorar a segurança.

Já a produção de cobre foi estimada em 390 mil toneladas em 2021 e em 455 mil toneladas na média de 2022 a 2024, enquanto a divisão de níquel terá 200 mil toneladas em média entre 2021 e 2023.

Segundo apresentação, a empresa alcançará capacidade de 500 mil toneladas de cobre com projetos que já estão no plano, incluindo Salobo III, Alemão e Cristialino, com a região de Carajás sendo a plataforma para a companhia crescer nesse metal.

Além disso, a companhia espera aumentar a produção de níquel a partir das unidades do Atlântico Norte, confiante de que o negócio apresentará forte geração de caixa, diante do potencial do metal para ser utilizado em produção de baterias.

A Vale também apresentou pela primeira vez meta dentro do escopo 3 de redução de 15% as emissões líquidas relativas à sua cadeia de fornecedores e clientes, até 2035.

O percentual de redução considera como base o ano de 2018, quando foram contabilizadas 586 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MTCO2eq) oriundas da sua cadeia de valor.

A meta, que já considera o aumento de capacidade de produção para 400 milhões de toneladas de minério de ferro a ser atingida ao final de 2022, será revista em 2025 e, depois, a cada cinco anos. Hoje, 98% das emissões de CO2 da Vale são provenientes de escopo 3.

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Fonte: G1