Vacina não deve ser exigência, mas vai facilitar viagens de turismo – Notícias



Enquanto autoridades municipais e estaduais anunciam a adoção de “passaportes sanitários” para que os cidadãos possam frequentar determinados lugares, como ocorreu recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro, entidades representativas de diferentes setores discutem a viabilidade da exigência do comprovante da vacina contra a covid-19 em seus segmentos. No mercado de turismo, embora o assunto seja polêmico, há um entendimento tácito de que, mais do que punir quem não foi imunizado, a ideia é “premiar” quem está com o esquema vacinal completo.


“De modo geral, o setor acredita que é mais eficaz flexibilizar regras para quem está vacinado do que restringir o acesso para aqueles que não estão”, afirma Roberto Haro Nedelciu, presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo). “Assim, nosso posicionamento é que nenhum turista seja proibido de fazer uma viagem. Mas, na chegada, os imunizados não precisarão, por exemplo, fazer testes PCR para covid ou se submeter à quarentena”, completa.



O entendimento da Braztoa vai na mesma linha da recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), que no final de agosto afirmou que o certificado de vacinação contra covid não deve ser um requisito para viajar. A organização já havia feito alerta semelhante em abril. A justificativa é que o acesso global aos imunizantes é limitado, e o mero bloqueio da entrada de viajantes não vacinados poderia configurar um ato de discriminação e ofensa aos direitos humanos.


Máscaras seguem obrigatórias


O relaxamento de regras para quem está vacinado não significa, de forma alguma, que os viajantes devem abandonar medidas básicas de prevenção, como o uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização com álcool gel. “A vacina é mais uma camada de proteção. Todos os cuidados que já vínhamos tomando devem ser mantidos”, diz Nedelciu.


O presidente da Braztoa lembra que as operadoras faturaram R$ 15,1 bilhões em 2019, receita que caiu para R$ 4 bilhões em 2020. “Este ano, com o avanço da vacinação e a reabertura gradual das fronteiras, os números têm melhorado mês a mês. Atualmente, há muita procura por destinos nacionais e internacionais e muitos lugares já não têm mais vagas para o Réveillon e o Carnaval de 2022”, conta.


Prejuízo ao setor


Os prejuízos impostos às operadoras de turismo refletem apenas uma parte do problema enfrentado pelo setor, que inclui hotéis, companhias aéreas, administradores de pontos turísticos, empresas de eventos, bares e restaurantes, entre outros. A Divisão Econômica da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) calcula em R$ 179 bilhões o tamanho do rombo no segmento, aí considerando inclusive os negócios que deixaram de ser realizados e os empreendimentos que acabaram fechados.


O cenário que se desenha para 2022, contudo, é otimista. “O Brasil tem aderido à vacina de forma significativa, o que é fundamental para que as perspectivas positivas se confirmem”, diz Alexandre Sampaio, diretor do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade da CNC e presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA). “Além disso, é alvissareira a questão da terceira dose da vacina.”


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Sampaio não vislumbra a exigência do certificado de vacinação como algo viável em todas as frentes do mercado de turismo. “Em bares e restaurantes, por exemplo, não deve funcionar sob o aspecto operacional. Tampouco acho que será necessário nas aeronaves, onde o sistema de filtragem do ar é excelente”, afirma. “Acredito que hotéis e atrativos, como o acesso ao Corcovado ou Pão de Açúcar, por exemplo, possam talvez estudar a adoção de um passaporte”, acrescenta o diretor da CNC.



Hotéis


No ramo hoteleiro ainda não há um consenso sobre o tema. Mas, em princípio, a exigência do certificado só deve ser adotada caso esteja entre as diretrizes das autoridades. “Desde o início da pandemia, a hotelaria vem respeitando as condições sanitárias impostas pelas cidades, sempre implementando medidas para preservar a segurança e a saúde de hóspedes e colaboradores”, destaca Manoel Cardoso Linhares, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih Nacional).


“Para apoiar os hoteleiros, a Abih produziu uma cartilha, chancelada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), com os principais protocolos e medidas para garantir ambientes higienizados no retorno às atividades”, destaca Linhares.


No campo das vantagens oferecidas a hóspedes que estão imunizados, alguns estabelecimentos têm se destacado. Empreendimentos da rede Louvre Hotels Group-Brasil, que atualmente administra 15 hotéis no país das marcas Royal Tulip, Golden Tulip, Tulip Inn e Soft Inn, oferecem descontos de até 15% para quem apresentar o comprovante de vacinação (primeira ou segunda dose).


“Além disso, seguimos cumprindo os protocolos de saúde e segurança estabelecidos pela matriz francesa e auditados pela NSF International”, diz Paulo Michel, CEO do grupo. “Exigências como o uso de máscaras nas áreas comuns devem seguir por mais algum tempo, mesmo com o avanço da vacinação. Dessa forma, entendemos que continuamos garantindo a segurança de todos.”


Aviação


No transporte aéreo, o entendimento é que a exigência do comprovante de vacinação não será necessária, independentemente do destino. “A segurança sanitária a bordo é garantida de modo bastante satisfatório”, diz Ruy Amparo, diretor de Segurança e Operações de Voo da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).


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“Além do uso de máscaras e dos procedimentos diferenciados que as companhias adotaram, como embarque e desembarque de poucos passageiros ao mesmo tempo, o sistema de filtragem e circulação de ar no avião consegue mitigar os riscos de contaminação”, explica Amparo. Os filtros Hepa, segundo ele, captam 99,97% de partículas como vírus e bactérias, e possuem o mesmo sistema utilizado em salas cirúrgicas e UTIs de hospitais.


Tripulação vacinada


O diretor de segurança lembra, ainda, que as aeronaves são desinfetadas a cada voo, com produtos especificados pela Anvisa, e há álcool gel a bordo. “Foi zerado o contato de funcionários do embarque, é proibida (exceto em casos especiais) a alimentação a bordo em voos nacionais e os passageiros são orientados a não viajar caso apresentem algum sintoma suspeito”, afirma Amparo. Incluídos no grupo prioritário do Programa Nacional de Imunização (PNI), tripulantes e funcionários das empresas aéreas já foram vacinados contra a covid-19.


Os protocolos sanitários são uma prioridade para o setor aéreo, um dos mais sacrificados pela pandemia. “Abril de 2020 foi o pior mês da história da aviação brasileira, com diminuição brusca de demanda e oferta. Chegamos a operar somente 163 voos por dia, ou 6,3% da malha que operávamos antes”, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear.


Crescimento da oferta


Houve um avanço em janeiro de 2021, com o número de decolagens diárias chegando a 75% da malha doméstica na comparação com o período pré-pandemia. A partir de fevereiro, no entanto, a nova onda de covid fez com que os indicadores do setor seguissem em baixa até abril, segundo Sanovicz. “Em maio, o número de voos voltou a crescer e estamos no quarto mês consecutivo de crescimento de oferta, impulsionados pela vacinação no Brasil. Em agosto, alcançamos o patamar de 70% da malha doméstica em comparação com a oferta regular.”


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A expectativa é chegar ao fim deste ano com os voos nacionais alcançando entre 80% e 85% do nível pré-pandemia. Se o avanço da vacinação se mantiver e não houver uma nova onda no Brasil, a normalização da oferta deve acontecer no primeiro trimestre de 2022, avalia o presidente da Abear. “A demanda e a oferta por voos internacionais, contudo, deve levar mais tempo para normalizar, entre 2023 e 2024”, afirma Sanovicz.




Fonte: R7