Uso do glifosato, agrotóxico mais vendido no mundo, é mantido no Brasil com restrições | Agronegócios


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu manter, com restrições, o uso do glifosato, o agrotóxico mais vendido no mundo e no Brasil. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 9 de dezembro, e marcou o fim de uma reavaliação do produto que se iniciou ainda em 2008.

Em março de 2019, o órgão já havia publicado um parecer que concluía que a substância “não apresenta características mutagênicas e carcinogênicas” – ou seja, que não causa câncer – e que “não é um desregulador endócrino”, não interferindo, portanto, na produção de hormônios.

Por outro lado, o químico é alvo de processos no exterior que relacionam o seu uso ao desenvolvimento de câncer. Estudos de instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram à mesma conclusão.

No final do ano passado, o órgão estabeleceu que, para aplicar o defensivo nas lavouras, os agricultores devem utilizar tecnologias que reduzam em 50% a deriva para doses acima 1,8 mil gramas por hectare.

A deriva é a dispersão das gotas do agrotóxico para fora da lavoura no momento da aplicação do produto, o que pode provocar contaminação de áreas próximas à plantação.

Já para doses acima de 3,7 mil gramas por hectare, além da redução da deriva em 50%, a Anvisa exige uma margem de segurança de 5 metros no limite externo da plantação, em regiões próximas a moradias ou escolas.

O que é o glifosato e para que serve?

Trata-se de um princípio ativo, isto é, uma molécula desenvolvida na fabricação de produtos químicos. Inicialmente, o glifosato surgiu na indústria farmacêutica e também chegou a ser usado para limpar metais. Porém, se popularizou nos herbicidas da Monsanto, que hoje pertence à Bayer.

Ele serve para matar as plantas silvestres que estão na área antes do plantio de uma safra.

A predominância desse pesticida, segundo agrônomos, se deve à sua eficácia, maior que qualquer outro produto de sua categoria (herbicida). O glifosato pode controlar mais de 150 espécies de plantas daninhas, em diversas culturas.

Não é comum ele ser usado durante o ciclo de produção porque pode afetar o cultivo principal. Mas uma exceção é na soja, maior cultura agrícola do Brasil. Isso porque as plantas transgênicas possuem resistência, então é possível utilizar o agrotóxico durante todo o ciclo.

Por outro lado, as ervas daninhas também aumentaram a resistência ao pesticida, o faz com que o glifosato esteja sendo misturado a outros, para funcionar melhor.

O Brasil autoriza seu uso no plantio de algodão, ameixa, arroz, banana, cacau, café, cana-de-açúcar, citros, coco, feijão, fumo, maçã, mamão, milho, nectarina, pastagem, pera, pêssego, seringueira, soja, trigo e uva.

Na União Europeia, a Áustria e Alemanha, decidiram banir o uso do glifosato.

Já o Ministério da Agricultura da França afirmou, em dezembro do ano passado, que irá conceder auxílio financeiro a agricultores que concordarem em interromper a aplicação do químico nas lavouras.

No México, o governo anunciou, no final de 2020, que o uso do agrotóxico será eliminado até 2024 e que ele será substituído por uma alternativa “sustentável e culturalmente apropriada”. Durante o período de transição, o glifosato não será usado em nenhum programa do governo mexicano.

Os Estados Unidos usam o agrotóxico, mas, por lá, ele é alvo de uma série de processos contra a empresa alemã Bayer, que chegou a fechar um acordo bilionário para encerrar as ações na Justiça em junho de 2020. As alegações são de que o herbicida Roundup, à base do glifosato, causa câncer.

Em março de 2019, por exemplo, um júri de São Francisco (EUA) decidiu, por unanimidade, que o químico contribuiu para o linfoma não Hodgkin (LNH) de um morador da Califórnia, Edwin Hardeman. Ele usou o herbicida com regularidade de 1980 a 2012 em sua propriedade em Sonoma County.



Fonte: G1