Todos os reservatórios que abastecem a Grande SP estão em déficit em relação a 2013, pré-crise hídrica; especialista prevê falta de água em 2022 | São Paulo


Todos os reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo estão nesta terça-feira (31) em déficit de armazenamento de água em relação a 2013, ano que antecedeu a última crise hídrica, de acordo com dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). No total de volume armazenado, a diferença é de 19,2 pontos percentuais.

A comparação com 2013 ajuda a entender a gravidade da situação atual. Se em 2013 tínhamos mais água disponível e houve crise de abastecimento nos dois anos seguintes, a situação atual aponta para uma provável falta de água nas casas da Grande São Paulo no ano que vem, de acordo com o pesquisador Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

“Sistematicamente, conforme indicavam as previsões climáticas realizadas desde o final do ano passado – e atualizadas mensalmente – a situação dos mananciais está piorando. Hoje, temos que todos os sistemas produtores disponíveis em 2013 estão em situação pior. Como resultado, temos 19,2 pontos percentuais menos água armazenada em 2021 do que no mesmo período de 2013. Isso reforça a perspectiva de que esta nova crise hídrica se transforme em uma crise de abastecimento em 2022.”

Para piorar, a previsão para os próximos meses segue sendo de menos chuva e mais seca (leia mais sobre prognósticos climáticos abaixo).

VÍDEO: Veja como estão os principais reservatórios do país

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Nesta terça-feira (31), o Sistema Cantareira, principal fornecedor de água na região e responsável por abastecer 7,2 milhões de pessoas diariamente, opera com 37,1% de seu armazenamento, uma diferença de 10,2 pontos percentuais em relação aos 47,3% armazenados no mesmo 31 de agosto de 2013.

A situação atual do Cantareira é considerada estado de alerta, caracterizada por volume igual ou maior do que 30% e abaixo de 40%. Para ser considerado normal, o reservatório precisa operar com pelo menos 60% de sua capacidade.

O segundo reservatório mais importante da região é o Alto Tietê, que abastece 5,2 milhões de pessoas na Grande São Paulo. Ele opera nesta terça-feira com 44,6% de seu volume, 14 pontos percentuais abaixo do que o registrado em 2013.

A situação mais grave é do sistema Rio Claro, que abastece 1,3 milhão de pessoas. Nesta terça-feira, ele opera com 44,1% de armazenamento, uma queda de 54 pontos percentuais em relação aos 98,1% de 31 de agosto de 2013.

Apenas o sistema São Lourenço não está em déficit, já que começou a operar em 2018 e a comparação se torna impossível, portanto. A contribuição dele é a menor dentre todos os reservatórios, abastecendo 1,1 milhão de pessoas por dia.

Questionada, a Sabesp disse que o sistema atual de interligação entre os reservatórios permite transferência de águas entre as regiões, mas não esclarece como isso pode ajudar na situação atual, quando todos os reservatórios estão com baixo armazenamento.

“A situação atual dos reservatórios coloca por terra aquela suposição de que um sistema produtor poderia compensar a redução de capacidade de outro sistema. Hoje, todos sistemas que operavam em 2013 estão em situação pior. O Sistema São Lourenço, que passou a operar em 2018, atende a pouco mais de 5% do consumo da região metropolitana de São Paulo. Ele não tem capacidade de reverter a situação de escassez em outros sistemas produtores”, afirma Côrtes.

Veja abaixo a situação de cada reservatório que abastece a região metropolitana de São Paulo nesta terça-feira (31), em comparação ao volume de 2013:

Diferença de armazenamento de 31 de agosto de 2013 e 31 de agosto de 2021

Sistema ProdutorPercentual armazenado em 31/08/2013Percentual armazenado em 31/08/2021Déficit 2021-2013
Cantareira47,337,110,2 pontos percentuais
Alto Tietê58,644,614 pontos percentuais
Guarapiranga84,350,234,1 pontos percentuais
Cotia93,158,534,6 pontos percentuais
Rio Grande94,671,922,7 pontos percentuais
Rio Claro98,144,154 pontos percentuais
São Lourenço57,30

Previsão é de mais seca

O agravante da situação atual dos mananciais que abastecem a Grande São Paulo é o de que a previsão para os próximos meses segue sendo de poucas chuvas.

De acordo com dados do Centro de Previsão do Clima do Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e a Sociedade, da Universidade de Columbia, a atual Fase Neutra (sem El Niño nem La Niña) deve permanecer até o final do inverno.

O início do La Niña encontra condições mais favoráveis entre agosto e outubro e o fenômeno deverá permanecer até o verão, que termina em março do ano que vem, como mostra o gráfico a seguir:

Gráfico indica possível incidência de La Niña a partir de agosto, o que se reflete com menos chuvas no Sudeste — Foto: Centro de Previsão do Clima do Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e a Sociedade da Universidade de Columbia

O La Niña é um fenômeno que, ao contrário do El Niño, diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico tropical central e oriental. Mas, assim como o El Niño, gera uma série de mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperatura no planeta.

O que acontece é que o La Niña muda o padrão de ventos na região equatorial, que se tornam menos intensos, e isso muda a chegada das frentes frias da região sul em direção a São Paulo.

Assim, o fenômeno reduz as chuvas na porção Sul do Brasil, e isso pode ter repercussão em São Paulo, dependendo de sua intensidade.

A falta de perspectivas de chuvas torna o cenário ainda pior, de acordo com o professor Côrtes.

“É fundamental que Sabesp apresente os cenários com os quais ela vem trabalhando. É necessário lidar com números efetivos. Não bastam declarações de que não há motivo para preocupação. Os indicadores dos mananciais, ao longo do ano, mostram o contrário. Estamos lidando com o abastecimento de mais de 20 milhões de pessoas.”

O G1 questionou a Sabesp sobre o déficit apontado por Côrtes, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno. Em 13 de agosto, a companhia afirmou em nota, sobre a queda no volume de abastecimento do Sistema Cantareira, que “não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana de São Paulo, mas reforça a necessidade do uso consciente da água”.

“A Companhia vem realizando nos últimos anos ações que dão mais segurança hídrica à RMSP: ampliação da infraestrutura (com destaque para a Interligação Jaguari-Atibainha e o novo Sistema São Lourenço, ambos em operação desde 2018), integração e transferência entre sistemas, além de campanhas de comunicação para o consumo consciente de água por parte da população. Essas iniciativas permitem afirmar que não há risco de desabastecimento na Região Metropolitana neste momento de estiagem e a projeção da Sabesp aponta níveis satisfatórios para os próximos meses até 2022.”

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Fonte:G1