Série histórica do emprego formal não pode ser comparada com novo Caged, dizem analistas | Economia


Uma mudança feita pelo Ministério da Economia em 2020 na metodologia do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) faz que os dados recentes não possam mais ser comparados à série histórica, avaliam economistas ouvidos pelo G1.

Com a alteração metodológica, desde janeiro do ano passado, o cálculo do Novo Caged passou a considerar outras fontes de informações. Além da pesquisa realizada mensalmente com os empregadores, o sistema também puxa dados do eSocial e do empregadorWeb (sistema no qual são registrados pedidos de seguro-desemprego).

A mudança tem impacto grande porque, segundo analistas, a declaração dos vínculos temporários à pesquisa do Caged é opcional – mas a inserção no eSocial é obrigatória. O Novo Caged, portanto, gera resultados maiores ao considerar esses vínculos, que eram subdeclarados no sistema antigo.

O economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do IBRE/FGV, avalia que essa é apenas uma das mudanças que inviabiliza a comparação dos dados mais recentes com a série histórica anterior.

Ottoni aponta outros fatores, como o fato de haver mais empresas reportando dados do que no passado – isso, porque cresceram as sanções para as companhias que deixam de informar as movimentações de emprego. A declaração de trabalhadores temporários também passou a ser obrigatória, enquanto antes, apenas 17% dos temporários eram reportados.

“Na minha opinião, é errado comparar saldos da série de janeiro de 2020 para cá com saldos da série anterior. São metodologias distintas, com fonte de dados distintas”, disse Ottoni.

O economista sugere comparar as próximas divulgações apenas com os dados divulgados de 2020 em diante, sob a nova metodologia.

Em março, o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, defendeu que os dados do novo Caged possam ser comparados com o formato antigo da pesquisa. Segundo ele, é preciso apenas fazer uma “ressalva” de que a metodologia foi alterada.

Veja, no vídeo abaixo, a flutuação do Caged ao longo do ano de 2020 – já sob a nova metodologia:

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Dados e nível de atividade

Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a nova metodologia do Caged gerou um “descolamento” dos dados do emprego formal com o nível de atividade, impossibilitando uma comparação.

“Na nova metodologia, há dificuldade de reportar as demissões e, mais complicado, quando se comparara com atividade, a gente vê uma discrepância muito grande. Antes, havia proximidade grande do Caged com IBC-Br, as duas curvas andavam com muita proximidade. De um ano para cá, descolaram: PIB caindo e Caged apontando para uma recuperação em V super forte”, disse.

Para ele, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) parecem ser mais confiáveis, embora o IBGE tenha mudado a forma de coletar os dados, por conta da pandemia.

“A Pnad dá uma sinalização melhor do que está acontecendo hoje com o emprego, os dados estão mais coerentes e aderentes com o nível de atividade”, declarou Vale.

Em meados do ano passado, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já indicava que a comparação estava prejudicada.

“Observa-se que o eSocial capta um volume de informações mais amplo que o Caged”, diz o documento, que também já apontava o problema de considerar a declaração obrigatória dos vínculos temporários no eSocial.

O estudo avalia que, como não é possível identificar os vínculos temporários no antigo Caged, foi feita uma análise a partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociai (Rais) 2017 e 2018, que mostrou que apenas 17% dos vínculos temporários foram informados no Caged nesses mesmos anos.

“Dessa forma, entende-se que o volume de movimentações no eSocial, na média, tende a ser superior àquelas verificadas historicamente no Caged, uma vez que neste sistema os vínculos temporários são subdeclarados”, concluíram os pesquisadores, no documento.



Fonte: G1