“A privatização carece de capital político. Tivemos a pandemia que deslocou os planos para o segundo semestre do ano passado, e agora tivemos manifestação de candidatos [na eleição legislativa] de que esse processo não seria prioritário”, disse.
“O que falta fazer é aumentar a capacidade de investimento, se não consigo ver perspectiva de prioridade para esse processo, minha contribuição fica perdida”, afirmou Ferreira Jr.
“Vou continuar no Conselho de Administração, se o processo seguir, poderei ajudar”, disse.
O executivo não mencionou nomes, mas a declaração a que fez referência foi de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato à presidência do Senado. O parlamentar disse ao jornal O Estado de S. Paulo que a privatização da empresa não estava garantida e deveria ser feita sem se subter a “entreguismo sem critério”.
“Não estou aqui para questionar. Posso dizer que é uma prioridade do Ministério de Minas e Energia e da Economia, necessário para fazer frente aos desafios fiscais que o país tem. É uma condição necessária, mas, aparentemente, não suficiente”, disse Ferreira Jr.
“Então, [a saída] foi uma decisão pessoal, vendo que a reestruturação da empresa estava cumprida e ela tem hoje capacidade de investimentos modestos, mas suficientes”, afirma.
O executivo elencou conquistas na empresa desde sua chegada em 2016. Ele afirma que reduziu em 50% o pessoal empregado e em 40% os custos fixos, o que levou a um endividamento menor, possibilitando a retomada de investimentos.
Ferreira Jr. afirma, contudo, que a discussão sobre privatizações amadureceu pouco no país e sofre resistência da opinião pública. Assim, novos atrasos no cronograma inviabilizariam a conclusão do processo no curto prazo pela proximidade com as eleições de 2022.
“No quarto ano de mandato, começam as discussões para a eleição [presidencial]. Se não for uma prioridade agora, de viabilizar neste ano, passaria para o ano que vem e encontraríamos dificuldades”, disse o executivo.
“Não quero dizer que não possa ser feito, mas é mais difícil de fazer.”

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Ferreira Jr. pode ter que cumprir quarentena antes de assumir a BR. A partir de 1 de fevereiro, e até que ele possa assumir o posto, a Companhia será liderada interinamente pelo Diretor Executivo de Operações e Logística, Marcelo Bragança, que será apoiado por um comitê de transição.
A saída do executivo, que antes da Eletrobras presidiu por 18 anos a CPFL Energia, vem após poucos avanços na desestatização – Ferreira Jr. é grande defensor da privatização da empresa.
No cargo desde julho de 2016, ele foi nomeado pelo ex-presidente Michel Temer. Depois, foi convidado pelo governo de Jair Bolsonaro para continuar no comando da estatal, sob expectativas de que liderasse a continuidade de planos para a privatização da companhia.
Em dezembro, o governo anunciou que pretende realizar nove privatizações em 2021, entre as quais a da Eletrobras. A venda da estatal, porém, é um dos grandes desafios do governo Bolsonaro.
A expectativa da pasta era que o projeto fosse aprovado ainda no primeiro semestre. Mas, na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que não haverá prejuízo se a votação pelo Congresso Nacional da privatização da companhia ficar para o segundo semestre deste ano.
O governo prevê levantar cerca de R$ 16 bilhões com a privatização da Eletrobras, por meio de uma capitalização da companhia por meio da emissão de novas ações e envolve pagamento de outorgas à União.
O governo anterior, de Michel Temer, falava em promover uma desestatização da Eletrobras, por meio de uma operação em que a empresa emitiria novas ações e diluiria a fatia governamental na companhia para uma posição minoritária. A gestão Bolsonaro passou a adotar o termo “capitalização” para se referir ao processo.
Último balanço mostra que a Eletrobras teve lucro de R$ 95,764 milhões no terceiro trimestre de 2020, queda de 86,6% em relação ao mesmo período de 2019, quando o ganho ficou em R$ 715,872 milhões. A empresa justificou a queda do lucro ao aumento das provisões por redução na geração de energia, por processos judiciais e de contratos onerosos.
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Fonte: G1