Seca provoca mais de 200 mil focos de incêndios em 2024 no Brasil, aponta Embrapa


Um mapeamento feito pela Embrapa mostra que a seca no Brasil, de maio até o fim de setembro de 2024, provocou mais de 200 mil focos de incêndios. O número é mais que o dobro da estiagem do ano passado, quando foram registrados cerca de 90 mil focos de calor no país.

O estudo apontou que as áreas mais impactadas pelas queimadas deste ano ocorreram em áreas de formação florestal, principalmente na Amazônia e no Pantanal, sendo os estados de Mato Grosso, Pará e Amazonas os mais atingidos.

Seca provoca recorde focos de incêndios em 2024

Mapeamento das áreas impactadas mostra principais pontos em áreas florestais.Mapeamento das áreas impactadas mostra principais pontos em áreas florestais.
Mapeamento das áreas impactadas mostra principais pontos em áreas florestais. Foto: Reprodução/Embrapa

O município de São Félix do Xingu, no Pará, teve 3.846 queimadas em áreas de mata, sendo o que registrou o maior número de focos no Brasil. Os municípios paraenses de Altamira e Novo Progresso, e o amazonense Apuí também registraram mais de 2 mil focos de queimadas em 2024.

Dentro e fora de áreas de matas, seis municípios brasileiros tiveram mais de 5 mil focos de queimadas: São Félix do Xingu (PA), com 7.657 focos; Altamira (PA), com 6.687 focos no mesmo período; Apuí (AM), com 5.906 focos; Corumbá (MS), totalizando 5.860 registros; Novo Progresso (PA), com 5.498 queimadas; e Lábrea (AM), chegando a 5.205 focos.

Recuperação das áreas afetadas por incêndios

Segundo o pesquisador de Agrometeorologia da Embrapa Milho e Sorgo (MG), Daniel Pereira Guimarães, o cenário de forte estiagem em 2024, com maior intensidade as áreas de floresta, apresenta peculiaridades e desafios para a recuperação desses biomas.

“A vegetação florestal não está adaptada aos impactos das queimadas e tende a perecer, enquanto as áreas de campo, como as de Cerrado e pastagens, se recuperam mais facilmente com a chegada do período chuvoso. Outra questão diz respeito ao grande volume de matéria seca existente nas áreas de mata cuja queima provocou os altos índices de poluição atmosférica no país”, analisa.

Impactos na agricultura

Nas áreas agrícolas, os canaviais foram os mais afetados pelas queimadas. Nas áreas agrícolas, os canaviais foram os mais afetados pelas queimadas.
Nas áreas agrícolas, os canaviais foram os mais afetados pelas queimadas. Foto: Divulgação/Unica

As áreas agrícolas também foram muito afetadas, e os canaviais os mais impactados, com a ocorrência de mais de 4 mil focos de queimadas em 2024. Em 2023, foram registrados 650 focos.

“Veremos perdas tanto pela ação do fogo quanto pela queda de produtividade causada pelo estresse hídrico”, apresenta. Segundo Guimarães, a estiagem terá impactos na próxima safra. “As áreas de cultivo de soja se encontravam em época de pousio e as perdas estão relacionadas com a queima da matéria orgânica e da cobertura do solo. Já as lavouras de café tiveram baixa incidência de queimadas, mas terão forte impacto devido à deficiência de água na zona radicular. Condição similar ocorre nas áreas de fruticultura”, relata.

O que provocou a estiagem?

Na avaliação do pesquisador, a forte estiagem foi causada pela perda de água dos solos em razão das altas temperaturas, dos baixos índices de umidade relativa do ar e da ação dos ventos, causando uma estação de inverno atípica, com secagem precoce das gramíneas e uma perda excessiva de folhagem nas áreas florestais.

“Esses impactos já eram claramente observáveis em agosto de 2024, quando vários estados já apresentavam excessiva escassez hídrica nos solos. Essas mudanças são também percebidas nas alterações dos índices de vegetação obtidos das imagens de satélite. A forte estiagem na região amazônica foi prevista com antecedência pelos modelos de previsão de clima. Os resultados foram os altos índices de queimadas e a escassez de água nos rios da região”, apresenta.

Prevenção

O pesquisador reforça que as condições de umidade dos solos e os níveis de estresse da vegetação permitem que ações sejam tomadas, como campanhas educativas, proibição do uso de queimadas e ações de fiscalização, com pelo menos dois meses antes do período crítico.

“A mitigação desse problema nacional depende do monitoramento e da previsão das condições climáticas, da análise da geolocalização dos focos de incêndios em tempo real em integração com as bases de relevo, uso do solo e Cadastro Ambiental Rural (CAR), além da fiscalização das áreas de risco com o apoio de sensores remotos”, conclui.



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