Rita: ‘Devia a 10 cartões e tremia de abstinência’ | Economia


Assim que pegou o primeiro salário, Rita começou a se endividar. Mas ela notava que, desde pequena, não conseguia fazer com que as coisas parassem em suas mãos ou bolsos, mesmo que fosse um saco de balas. Aos 18, ela pagava uma dívida para entrar em outra.

A compulsão pelas compras foi aumentando até que Rita se viu em um buraco: tinha 10 cartões de crédito – e gastava com todos.

“Tudo que você imaginar de loja, eu tinha cartão. Roupas, bancos, casa de show, material de construção, móveis. Acabava o limite de um e eu comprava em outro. Em algumas lojas, tinha uma fila enorme pra pagar a fatura. Mas, se você comprasse algo, eles te deixavam passar na frente. Então eu comprava uma roupa nova cada vez que ia pagar a fatura”, conta.

“Eu vivia infeliz e desesperada porque nunca tinha dinheiro para nada e não sabia como iria pagar as 10 faturas todo mês.”

Rita é um pseudônimo. Ela e outros participantes dos Devedores Anônimos contaram suas histórias ao g1.

Rita morava no apartamento do pai. Quando a filha tinha três anos, uma bala perdida atravessou a janela da casa. Nas semanas seguintes, outras balas começaram a furar as paredes. Sem dinheiro para bancar um aluguel e aterrorizada pela criança, se mudou com a filha e o marido para o quartinho nos fundos da casa da avó.

Quando contou sua história na outra irmandade que participava, todos indicaram que Rita procurasse os devedores anônimos. Em 2004, ela entrou pela primeira vez em uma sala do DA. A primeira lição era também a mais difícil: parar de comprar.

“Era muito difícil para mim, como se eu tivesse que parar de me drogar. Senti até a crise de abstinência, me tremia toda, suava, tinha dores no corpo”, conta.

“Muitas vezes fiquei apertada porque queria resolver tudo de uma vez”. Resolver tudo de uma vez é tentar pagar todas as dívidas, esgotar o dinheiro e não ter o suficiente para viver. E, muitas vezes, mesmo zerando as economias, a quantia não é suficiente para quitar a dívida.

Entrar na irmandade não foi uma história com um final de conto de fadas. Durante os anos, ela passou por mais alguns momentos de instabilidade e aperto. Mas não voltou mais “para aquela loucura”, diz.

“É importante dizer que é uma doença que não tem cura. E eu não estou livre dela, né? Conto com a força do grupo. É como se eu fosse um celular descarregado. Vou lá para recarregar.”



Fonte: G1