Retomada no INSS: com serviços atrasados, órgão tem queda de braço com médicos peritos | Economia


A reabertura das agências do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) instaurou uma queda de braços entre o órgão e médicos peritos – em que sofrem os segurados. Isso, em meio à pandemia do novo coronavírus e restrição de atendimentos presenciais por quase seis meses.

Enquanto os profissionais da saúde acusam o INSS de não terem feito as adaptações necessárias nas agências para receber os segurados, em ambiente que gera aglomeração e tem público em grande parte idoso, o órgão aponta que os peritos pedem melhorias que estariam além do escopo de prevenção da Covid-19.

Mesmo algumas poucas agências cujos protocolos foram aprovados pelos peritos, no entanto, não retomaram a perícia médica.

Com perícias canceladas, segundo dia de reabertura tem confusão em agências do INSS

Com perícias canceladas, segundo dia de reabertura tem confusão em agências do INSS

Em nota ao G1, o INSS admite que “algumas agências” não atendiam todo o protocolo exigido pela Perícia Médica Federal, mas foram retiradas da lista dos locais que abririam na última segunda-feira (14) e retornarão assim que todos os protocolos forem atendidos, “da forma mais célere possível”.

“Informamos ainda que grande parte das agências apresentaram problemas estruturais relativos à perícia, mas não aos protocolos de segurança em relação à Covid-19, como é o caso de rota de fuga para o perito, o que não impede a abertura para os demais serviços que foram oferecidos normalmente desde a manhã desta segunda-feira: cumprimento de exigência, justificação administrativa, avaliação social e reabilitação profissional”, diz o INSS em nota.

O INSS promete inspeções em conjunto com a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, que representa a Perícia Médica Federal, nas salas de perícia médica entre esta terça e quarta-feira (16). O órgão não informa, contudo, quando pretende retomar plenas atividades – e os peritos contestam essas novas inspeções.

Presidente do INSS admite que faltou planejamento na reabertura das agências

Presidente do INSS admite que faltou planejamento na reabertura das agências

Vice-presidente da Associação Nacional de Médicos Peritos (ANMP), Francisco Cardoso afirma que as poucas agências autorizadas a funcionar ficam em pequenas cidades do interior, a maioria com um único perito e incapazes de suprir inclusive a demanda local.

“Não se pode abrir 10 agências e deixar 900 fechadas. Isso é completamente irresponsável”, afirma.

Para o vice-presidente da entidade, não há como separar “problema relacionado à Covid-19” dos demais “problemas antigos”, pois as agências apresentaram problemas de ventilação adequada, infraestrutura de higiene – como falta de pias, de sabão, de latas de lixo e de limpeza adequada – e sem segurança na entrada.

“Havia previsão de alta demanda e consequente aglomeração de segurados em busca de atendimento, vide o que aconteceu nas capitais, e haveria tumulto com grandes chances de confusão e agressão”, diz Cardoso.

“A Covid-19 exige que o INSS fique em dia com coisas que há anos vínhamos cobrando e eles se faziam de surdos. Agora é a nossa vida e a dos segurados em jogo. Não se negocia isso”, afirma.

Úma nota da ANMP acusa o INSS de adulterar o checklist de obrigações para a retomada das perícias, “flexibilizando e relativizando itens essenciais como limpeza, segurança, ventilação e equipamentos”. Esse checklist é parte de uma portaria para determinar as novas inspeções nas agências – é com base nela que o INSS está refazendo as vistorias nesta terça e quarta-feiras.

A entidade acusa o INSS de tentar desacreditar a inspeção realizada pela Secretaria da Perícia Médica Federal, e diz que não reconhecerá nenhuma “vistoria” feita por agentes externos à categoria.

“Quando o INSS apresentar a lista de agências reformadas aptas a vistoria e a Secretaria de Previdência revogar a “Portaria Conjunta”, permitindo que a SPMF volte a ordenar o fluxo de inspeções, voltaremos a fazer as vistorias. Até lá, nenhum Perito Médico Federal irá se reapresentar nas agências e nos manteremos no trabalho remoto”, diz a nota.

Dificuldades de atendimento

A retomada de alguns serviços de forma presencial nas agências do Instituto do Seguro Social (INSS) levou ao aumento da demanda de segurados por atendimento nos canais digitais e telefônico, como reportou o G1 nesta terça-feira (15).

Os serviços que voltaram a ser feitos nas agências precisam ser agendados, mas, com o excesso de demanda, o telefone 135 na manhã de terça estava com todas as linhas de atendimento congestionadas. Da mesma forma, isso aconteceu na segunda-feira.

O INSS admitiu que a central 135 enfrentou problemas no dia anterior, principalmente para quem ligou do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Agência do INSS de Petrolina reabre com atendimentos presenciais nesta segunda-feira (14) — Foto: Paulo Ricardo Sobral/ TV Grande Rio

Demanda não arrefeceu na crise

Mesmo com as agências fechadas por quase seis meses, o INSS continuou a pagar benefícios que precisam de perícia médica. De janeiro a julho deste ano, foram pagos R$ 46,3 bilhões para os beneficiários de aposentadoria por invalidez, auxílio-doença e auxílio-acidente. Esse valor é 14,4% maior que o pago nos mesmos meses de 2019 (total de R$ 40,5 bilhões).

Já o número de benefícios concedidos teve queda de 4,6% – de 35,8 milhões para 34,2 milhões.

O levantamento foi feito pelo G1 nos boletins estatísticos da Previdência Social e incluem auxílio-doença e aposentadoria por invalidez previdenciário (não ligado a acidente ou doença do trabalho) e acidentário (que tem relação com acidente ou doença do trabalho), além do auxílio-acidente, benefício concedido quando a doença ocupacional ou acidente de trabalho deixam sequelas que reduzem a capacidade laboral.

Houve queda nos valores pagos apenas no auxílio-doença nos primeiros sete meses do ano em relação a 2019. A maior foi no acidentário, redução de quase 14%. Já o previdenciário teve redução de 5,1% no mesmo período.

Os demais benefícios tiveram aumento nos valores pagos. Os maiores incrementos foram no auxílio-acidente (22,7%) e na aposentadoria por invalidez previdenciária (22,2%).

O INSS autorizou a antecipação de um salário mínimo (R$ 1.045) mensal para trabalhadores que estão na fila do auxílio-doença ou que solicitarem o benefício, por conta da pandemia. Com isso, possibilitou solicitar o auxílio-doença mediante apenas apresentação de atestado médico, sem a necessidade de agendar ou realizar perícia médica federal.

Durante os meses em que as agências ficaram fechadas, foram antecipados os pagamentos de 876 mil auxílios doença e de 186 mil cadastrados no BPC (Benefício de Prestação Continuada).



Fonte: G1