Recuperação ao longo de 2020 foi positiva, mas volta da pandemia renova desafios, dizem economistas | Economia


Essa é a análise dos economistas consultados pelo G1, que comentaram a maior contração da economia brasileira desde o início da série histórica atual do IBGE, iniciada em 1996.

No 4º trimestre, inclusive, o setor de serviços, que vinha com dificuldades de se recuperar, parecia reagir. Mas, com redução de renda e o fantasma de novos apertos de circulação, a situação deve ser revertida no 1º trimestre de 2021. Consultorias, inclusive, projetam queda do PIB em todo o primeiro semestre deste ano.

Abaixo, a visão de cada um deles.

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VÍDEO: ‘É sim um tombo histórico’, diz Miriam Leitão sobre resultado do PIB

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados

Sérgio Vale reconhece que os resultados foram positivos se comparados à perspectiva incerta que havia no início da pandemia do coronavírus. As projeções naquela época, afinal, chegavam a estimar em até 9% a queda do PIB brasileiro.

Ao longo do ano, diz, os números mostraram como os segmentos se recuperaram até o 4º trimestre de 2020, com expectativa de sair do cenário de restrições mais rígidas. O economista cita o resultado de “Outras Atividades de Serviços”, que teve um crescimento forte contra o 3º trimestre (6,8%).

“É uma sinalização de que se esperava uma normalização nos segmentos mais afetados pelo distanciamento social. Caminhávamos para uma recuperação mais consistente e fomos atropelados novamente pela pandemia neste ano”, diz Vale.

A segunda onda de Covid-19 preocupa a equipe econômica da MB Associados, justamente porque alia um retorno vigoroso dos contágios com a ausência do suporte dado pelos programas de distribuição de renda.

“O 4º trimestre teve crescimento menor que o anterior e, talvez sem a redução no Auxílio Emergencial, poderia crescer mais. O benefício teve papel importante na entrada da crise e, agora, temos um novo impacto da retirada dessa ajuda”, afirma Vale.

A consultoria projeta crescimento de apenas 2,6% em 2021, com queda de 0,9% no 1º e de 0,4% no 2º trimestre — volta da recessão técnica, portanto. Atraso nas vacinas, retorno da pandemia e redução da renda média estão entre os motivos para a queda.

PIB nos setores de agro, indústria e serviços ano a ano — Foto: Anderson Cattai/G1

Silvia Matos, economista e coordenadora do Monitor do PIB do Ibre/FGV

O Instituto Brasileiro de Economia previa queda maior do PIB de 2020: 4,7%. A surpresa, segundo Silvia Matos, foi uma recuperação um pouco maior do setor de serviços, que tem peso grande no índice.

“Cair 4,1% diante de uma pandemia é positivo, outros países devem cair bem mais. O problema é que a boa notícia ficou para trás, justamente porque é o setor mais afetado pela pandemia do coronavírus”, diz Silvia.

A queda de 12% dos serviços privados, lembra a economista, é histórica e muito além da média do PIB. A necessidade de aumentar leitos afeta também os serviços públicos, que ficam obrigado a postergar consultas eletivas na saúde, por exemplo.

O Ibre/FGV esperava crescimento de 3,5% para 2021, mas deve rever os cálculos por conta do início turbulento do ano, com intensificação dos contágios pelo coronavírus.

“O início do ano já seria desafiador porque a aceleração veio por meio de crédito e políticas compensatórias. A situação fiscal restringe a renovação dos auxílios e o mercado de trabalho, ainda lento, tornam a perspectiva de melhora ainda mais duvidosa”, afirma a economista.

PIB pela ótica da demanda ano a ano — Foto: Anderson Cattai/G1

Gesner Oliveira, economista e sócio da GO Associados

Para Gesner Oliveira, a recuperação da economia surpreendeu bastante entre os meses de maio e novembro, mas as atenções já estão voltadas ao que vem a seguir. Ele destaca a queda de Formação Bruta de Capital Fixo no PIB de 2020, jargão do IBGE para investimentos.

“Na nossa análise, uma saída robusta da crise depende muito dos avanços em infraestrutura. Daí a importância dos marcos legais de saneamento, Lei do Gás etc. Claro que o Auxílio Emergencial ajuda a segurar o consumo e é muito necessário, mas é um paliativo”, afirma Oliveira.

A expectativa da GO Associados para o início de 2021 também é de lentidão em função do agravamento da pandemia. Por carrego estatístico, a consultoria estima alta de 3,6% no PIB deste ano.

“Não teremos recessão, mas também não teremos um salto a ponto de voltar ao patamar pré-pandemia”, diz o economista.

Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda

IBGE divulga PIB 2020 nesta quarta (3): ex-ministro da Fazenda analisa possíveis resultados
IBGE divulga PIB 2020 nesta quarta (3): ex-ministro da Fazenda analisa possíveis resultados

IBGE divulga PIB 2020 nesta quarta (3): ex-ministro da Fazenda analisa possíveis resultados

Também para o ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, Maílson da Nóbrega, o resultado do PIB de 2020 foi menos desfavorável do que se imaginava no início da pandemia.

Ele afirma que o grau de imprevisibilidade do comportamento da economia tornou ainda mais desafiador fazer previsões do índice durante o ano, o que causou revisões severas nos cálculos dos economistas.

“A adesao da população ao isolamento social caiu muito. A pessoas foram às ruas, houve muita irresponsabilidade, comparecimento em massa a praias, bares, festas. Tudo isso fez com que a atividade economica avançasse mais do que se imaginava”, diz Nóbrega.

Como positivo, o ex-ministro cita ações do governo, como o Auxílio Emergencial e programa de preservação de empregos (BEm), que possibilitaram geração de renda e avanço grande do consumo.

“Houve um preço a pagar, que foi o recrudecimento e agravamento da pandemia. O aumento da demanda trouxe junto o aumento de casos e mortes. O país não deveria ter pago esse preço. Era preferível salvar mais vidas do que ter uma recuperação da economia menos desfavorável do que se imaginava”, afirma o ex-ministro.

Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos

PIB de 2020
PIB de 2020

PIB de 2020 ‘foi melhor que o esperado no início da pandemia’, explica economista

O economista Caio Megale concorda que Auxílio Emergencial foi fator essencial para impulsionar renda e que o 3º e 4º trimestres de 2020 indicavam melhora nos índices da pandemia.

“O quadro se alterou significativamente. O PIB normalmente é retrovisor, mas esse é particularmente retrovisor”, diz Megale.

Ele diz que as condições de renda mudaram, mesmo em cenário de retorno do auxílio em 2021, pois o nível agregado da população será menor que o ano passado. Agrava a situação o grau de incerteza da situação fiscal do país, que deixa o mercado financeiro nervoso.

“A PEC Emergencial, que restaura o Auxílio Emergencial, não está com cara de que vem com gatilhos e contrapartidas importantes para melhorar a situação fiscal do país, que é nosso principal Calcanhar de Aquiles no momento”, afirma o economista.



Fonte: G1