Um levantamento divulgado nesta quarta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que, antes da pandemia, quase 38% da população brasileira tinha alguma dificuldade de acesso à água tratada. Além disso, mostrou que quase 20% vivia em domicílios com mais de duas pessoas dormindo em um mesmo cômodo e que 2,6% sequer tinha banheiro em casa.
Os dados são de 2019 e foram coletados por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). A partir deles, o IBGE construiu os Indicadores Sociais de Moradia no Contexto Pré-Pandemia de Covid-19. O objetivo, segundo o instituto, foi identificar a parcela da população que tinha condições de, no ambiente doméstico, tomar medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus.
“No contexto atual, no qual autoridades de saúde apontam a importância do distanciamento social e da lavagem das mãos com água e sabão para o combate à pandemia, o IBGE considera fundamental disponibilizar informações que auxiliem a superação da crise e a proteção da população frente ao grave quadro de saúde pública global”, avaliou o analista do estudo, Bruno Mandelli Perez.
De acordo com o estudo, apenas 62,2% da população contava com água tratada por meio de rede geral de distribuição, com abastecimento diário e estrutura de armazenamento. Outros 22,4% moravam em domicílios sem abastecimento diário ou estrutura de armazenamento de água, enquanto 11,9% eram abastecidos por outra forma que não a rede geral. Além disso, 3,4% dos domicílios não estavam ligados à rede geral de água nem contavam com canalização.
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As regiões Norte e Nordeste eram as que tinham as piores condições de acesso à água tratada. No Norte, 10,7% da população residia em domicílios sem canalização interna de água e abastecidos principalmente de outra forma, que não a rede geral de distribuição de água. No Nordeste, essa proporção era de 7,9%. O IBGE enfatizou que na média nacional essa proporção era de 3,4%.
Entre os estados, o Pará era o que tinha a maior proporção de pessoas nessa condição: 13,8%.
Antes da pandemia, quase 4 em cada 10 brasileiros tinham dificuldade de acesso à água tratada — Foto: Reprodução/IBGE
O IBGE destacou que havia déficit mesmo entre os domicílios que eram abastecidos pela rede geral de água. Nas áreas urbanas, 10,4% das pessoas não contavam com fornecimento diário de água tratada.
Nas áreas rurais a situação era ainda mais grave, uma vez que 18,8% das pessoas moravam em domicílios sem acesso à rede geral de abastecimento e sem canalização interna.
Mais de 5,4 milhões de brasileiros sem banheiro em casa
Outra precariedade enfatizada pelo estudo foi a falta do cômodo usado para higienização pessoal no domicílio. Faltava banheiro na casa de mais de 5,4 milhões de brasileiros, o que corresponde a 2,6% de toda a população do país. Na região Norte, essa proporção chegava a 11%.
Além do déficit no acesso à água tratada, dificultando a higienização da população, a pesquisa mostrou que as condições de moradia de parcela significativa dos brasileiros se mostravam contrárias ao distanciamento social, uma das principais medidas de contenção ao coronavírus.
De acordo com o estudo, quase 10% da população vivia em domicílios com seis ou mais moradores, o que é considerado adensamento doméstico excessivo. Para além disso, 19,7% dos brasileiros viviam em casas com mais de duas pessoas dormindo em um mesmo cômodo.
“Isso mostra a dificuldade de alguns brasileiros de praticarem o isolamento social no domicílio caso algum morador apresente algum sintoma”, apontou Bruno Perez.
A análise regional apontou que em alguns lugares triplicava a proporção de pessoas vivendo em casas com grande adensamento. É o caso do Amapá (32,5%), da região metropolitana de Macapá (32,4%) e da capital, Macapá (32,0%), que apresentaram a maior proporção de pessoas vivendo em domicílios com seis pessoas ou mais.
IBGE mapeou o adensamento domiciliar no Brasil. Amapá era o estado com a maior proporção de pessoas vivendo em um mesmo domicílio. — Foto: IBGE
A Região Norte também era a que tinha a maior proporção da população (35,4%) dormindo em cômodos com mais de duas pessoas. O estado de Roraima liderava esse ranking, com quase metade da população (46,5%) dormindo em quartos muito adensados.
Pretos e pardos mais vulneráveis
O IBGE destacou que a população preta e parda era a mais vulnerável tanto em relação ao acesso à água tratada quanto ao adensamento domiciliar.
Enquanto 4,8% das pessoas pretas e pardas viviam em casas que não tinham a rede geral como principal meio de abastecimento de água e nem canalização interna, entre os brancos essa proporção era de apenas 1,6%.
Já a proporção de pretos e pardos vivendo em casas com seis ou mais moradores era de 12,3%, contra 6,5% entre a população branca.
Fonte: G1