Produtores paulistas podem demorar até 3 anos para recuperar perdas com geadas | São Paulo


O prejuízo ainda está sendo calculado pelos produtores. Um diagnóstico, porém, já é certo: as geadas atingiram lavouras de praticamente todas as regiões do estado de São Paulo e seus efeitos podem durar até 2024.

Três anos é, por exemplo, o tempo que alguns produtores de café de Caconde, cidade na região de Campinas, devem levar para recuperar totalmente a produtividade da lavoura.

“A gente sabe que vai levar, no mínimo, três anos para o restabelecimento de uma safra plena, de acordo com o que a gente vinha tendo na cafeicultura local”, explica Ademar Pereira, produtor de café e presidente do Sindicato Rural de Caconde.

De acordo com Pereira, em pelo menos 2.000 hectares de propriedades rurais no município, a lavoura de café foi queimada pela geada do dia 20 de julho. “O que nos assustou foi a intensidade dessa geada, e a altitude que conseguiu atingir as nossas lavouras. Nós temos lavouras de 1.000 metros, aonde jamais chegou geada. A última geada, de 1994, não tinha atingido [essa altitude]. Isso deixou nosso produtor muito assustado. Nosso parque cafeeiro é de aproximadamente em 13.000 hectares, sendo um dos maiores do estado de São Paulo. A atividade principal do município é a cafeicultura.”

São Paulo é o terceiro maior estado brasileiro produtor de café, com produção de 6,1 milhões de sacas em 2020, de acordo com estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Só perde para Minas Gerais (maior produção nacional; 34,6 milhões de sacas em 2020) e Espírito Santo (13,9 milhões de sacas ao longo do ano passado).

Caconde é um dos principais parques cafeeiros do estado de São Paulo, formado por mais de 2.300 propriedades produtoras, a maioria dedicada à produção de cafés especiais. A estimativa do Sindicato Rural de Caconde é que cerca de 600 dessas propriedades tenham tido 100% da lavoura afetada pelas geadas.

De junho para cá, o estado de São Paulo registrou três fortes geadas, com impactos mais intensos nas lavouras das regiões do Vale do Ribeira, no Sul do estado, e do Alto Tietê, cinturão verde responsável pela produção que abastece a região metropolitana da capital paulista com diversos produtos, especialmente hortaliças.

Para agravar o impacto para os produtores, essas geadas em sequência ocorrem após um longo período de seca, vivenciado desde o inverno de 2020 em diferentes regiões do estado, segundo o engenheiro agrícola Antoniane Arantes, da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CATI/CDRS), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo.

“Com a passagem da primeira e da segunda onda de ar polar, a gente teve um efeito danoso para as culturas olerícolas, folhosas, alface, rúcula, e essa quebra da produção é ocasionada pela queima de frutas, de folhas. Esse efeito de geada acaba chegando no bolso do consumidor, a gente vai ver um aumento de preços, em especial, com essa terceira onda da geada”, explica Arantes.

Outra cultura fortemente impactada pelas geadas é a da cana-de-açúcar. Em Jardinópolis, na região de Ribeirão Preto, por exemplo, houve produtor que perdeu 20% da lavoura.

Na região de Piracicaba, áreas até maiores das lavouras também foram queimadas pelas geadas, segundo produtores da Coopercana.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) informou por meio de nota que “está realizando uma nova análise para verificar o impacto das geadas, ocorridas neste mês, nos canaviais”.

De acordo com a entidade, a expectativa inicial para esta safra era de redução de aproximadamente 10%. No entanto, esse percentual poderá ser maior em decorrência das incidências climáticas.

Maior produtor nacional, o estado de São Paulo é responsável por 53,7% da produção de cana-de-açúcar do país, de acordo com dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.

A UNICA deve concluir, em agosto, um balanço sobre o prejuízo provocado pelas geadas.

Na região do Alto Tietê, produtores de hortaliças perderam toda a produção, prestes a ser colhida, em razão das geadas.

No extremo da Zona Sul da capital paulista, agricultores também registraram perdas.

Na propriedade da produtora Regiane Bispo, em Engenheiro Marsilac, 20% da plantação de alface lisa foi perdida. “Perdemos alfaces de outras variedades também. Hoje, a gente está cobrindo com palha as plantas mais sensíveis para evitar mais perdas”, diz.

A previsão para a sexta-feira (30) é de mínima de 3º C na capital paulista, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), da prefeitura.

Há a possibilidade de ser registrada a menor temperatura já calculada na cidade desde que o CGE começou a medição da temperatura por subprefeitura, em janeiro de 2004.

O agronegócio é parte importante da economia paulista.

Em 2020, o peso do setor representou 14% do (Produto Interno Bruto) PIB do estado, a maior participação da série histórica calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

De acordo com o Instituto de Economia Agrícola, a balança comercial do setor no primeiro semestre de 2021 foi de US$ 25 bilhões (R$ 127,6 bilhões), 28% a mais do que o valor registrado no mesmo período de 2020.

Os cinco principais produtos do agro no estado de São Paulo são cana-de-açúcar; carne de boi; soja; laranja para indústria e carne de frango, segundo o IEA.

Impacto está sendo calculado, diz ministério

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou por meio de nota que “não tem ainda um levantamento preciso sobre os efeitos causados por condições climáticas como a seca e a geada que estão ocorrendo no pais. A Conab está realizando o trabalho de monitoramento desse impacto nas lavouras”.

Em relação aos impactos na produção de café, o ministério disse que “os efeitos devem se expressar somente na próxima safra em 2022”. “A atual safra (2021) já foi colhida – que é de bienalidade negativa, ou seja, de menor produção, como é esperada com base no ciclo da cultura – mas suficiente para atender a demanda de consumo interno e os contratos no mercado externo.”

Mesmo assim, informou o ministério, representantes do governo federal “estão se reunindo com lideranças de cooperativas e bancos para levantar as demandas dos produtores atingidos”. “O Funcafé disponibilizou para os agentes financeiros R$160 milhões na linha de crédito para recuperação de cafezais danificados, com juros de 7% a/a, prazo de até sete anos, com carência de até três anos. Esta linha se presta para atender a produtores (pequeno, médio ou grande) que tiveram perdas em decorrência de geada e seca.”

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Fonte:G1