Privatização da Eletrobras: após aprovação de acionistas, entenda o projeto e veja os próximos passos | Economia


Com a privatização, o governo deixaria de ser o sócio majoritário da empresa. Hoje, ele detém mais de 60% desses papéis, e o objetivo é ficar com 45%. O governo pretende transformar a Eletrobras numa “corporation”, uma empresa privada sem controlador definido. Modelo semelhante foi adotado na privatização da Embraer.

A medida provisória que viabiliza a privatização da Eletrobras foi sancionada em julho do ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro. Se concretizada, essa será a primeira estatal de controle direto da União a ser privatizada pelo governo Bolsonaro. A expectativa é que a venda do controle acionário pode render R$ 100 bilhões aos cofres públicos.

Segundo o governo, a privatização irá recuperar a capacidade de investimentos da empresa em geração e transmissão de energia e pode reduzir a conta de luz. Entidades do setor, no entanto, afirmam que a conta vai ficar mais cara, porque deputados e senadores incluíram no texto medidas que geram custos a serem pagos pelos consumidores.

O próximo passo é a avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o modelo de venda proposto pela União. O governo quer fazer a privatização até maio, porque avalia que, após essa data, não seria aconselhável devido às oscilações do mercado diante da proximidade das eleições.

Acionistas aprovam processo de venda da Eletrobras

Acionistas aprovam processo de venda da Eletrobras

Veja o que já se sabe sobre a privatização da Eletrobras:

  1. Como ficará a participação do governo na Eletrobras?
  2. Qual é o modelo de privatização proposto?
  3. Quem poderá comprar as ações?
  4. Qual será o impacto na conta de luz?
  5. Quais são os próximos passos?
  6. O que ficará de fora da privatização?
  7. Qual é hoje o tamanho da Eletrobras?

1. Como ficará a participação do governo na Eletrobras?

Atualmente, o governo tem cerca de 60% das ações da Eletrobras. Com a capitalização, esse percentual cairá para 45%. Ou seja, o governo deixará de ser o acionista controlador.

Para realizar o processo de privatização e, consequentemente, diminuir a participação da União no controle da empresa, será feita uma operação de capitalização. Se a participação da União não chegar a 45% na oferta primária, será feita uma oferta pública secundária de ações.

2. Como será a capitalização?

Nesse processo, o governo vai emitir papéis da companhia na bolsa de valores. A ideia é que os investidores comprem essas novas ações, o que vai fazer com que o governo diminua a participação da União no controle da empresa.

A capitalização e a potencial venda futura das ações remanescentes em poder da União pode destinar cerca de R$ 100 bilhões aos cofres públicos.

A União terá ação preferencial de classe especial, a “golden share”, que dará poder de veto nas deliberações sobre o estatuto social da empresa. Isso significa que, mesmo após perder o controle majoritário, o governo seguirá com poder de veto para determinadas decisões da Eletrobras.

3. Quem poderá comprar as ações?

A compra das ações estará liberada a investidores institucionais e pessoas físicas. Além disso, a previsão é que os trabalhadores possam comprar ações da empresa usando o dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), assim como aconteceu com as ações da Petrobras e da Vale.

Empregados e aposentados da própria Eletrobras e de suas subsidiárias terão prioridade para adquirir até 10% do total das ações ofertadas.

4. Qual será o impacto na conta de luz?

O governo tem reafirmado que a privatização resultará em benefícios para a população e pode reduzir a conta de luz dos consumidores residenciais já a partir de 2022, uma vez que tornará o setor mais competitivo. Estimativa do Ministério de Minas e Energia aponta para uma redução de até 7,36% na tarifa.

No entanto, entidades do setor e analistas afirmam que a conta de luz vai ficar mais cara, porque deputados e senadores incluíram no texto medidas que vão gerar novos custos a ser pagos pelos consumidores, entre as quais:

  • Exigência de contratação de termelétricas movidas a gás no Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste;
  • Reserva de mercado para contratação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs);
  • Prorrogação, por mais 20 anos, dos contratos das usinas construídas por meio do Programa de Incentivos às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa).

As usinas termelétricas movidas a gás oferecem uma energia mais cara do que as hidrelétricas, eólicas e solares, por exemplo. Os parlamentares também determinaram a construção dessas usinas em locais sem infraestrutura de transporte de gás natural, gasodutos, portanto, terão de ser construídos, o que pode elevar os custos para os consumidores de energia.

Já a criação de reserva de mercado para Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) pode encarecer a conta, segundo especialistas, porque contraria o princípio da livre concorrência nos leilões.

5. Quais são os próximos passos?

As próximas etapas até a venda do controle acionário da estatal são as seguintes:

  • Homologação da operação pelo TCU (Tribunal de Contas da União);
  • Oferta primária de ações ao mercado.

6. O que ficará de fora da privatização?

Uma nova estatal será criada para administrar a Eletronuclear (que controla as usinas de Angra) e a Itaipu Binacional: a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar). As duas são hoje subsidiárias da Eletrobras, mas não serão privatizadas.

7. Qual é hoje a participação da Eletrobras no setor elétrico?

A Eletrobras é a maior companhia do setor elétrico da América Latina, responsável por cerca de um terço da energia elétrica do Brasil e quase metade das linhas de transmissão que cortam o território nacional.​​

A Eletrobras detém atualmente 43% das linhas de transmissão do país, num total de 76.230 km, e é responsável por cerca de 29% da geração do Brasil, com 50.676 MW de capacidade instalada.

Em 2020, teve receita operacional líquida de R$ 29,08 bilhões e lucro líquido de R$ 6,34 bilhões.

O valor de mercado atual da Eletrobras na bolsa é de R$ 53,3 bilhões, segundo dados da Economatica, com base na cotação de fechamento de terça-feira (22).

A companhia tinha 26.008 empregados em 2016, número que caiu para 12.527 funcionários ao fim de 2020, após o plano de reestruturação conduzido nos últimos anos em preparação para a capitalização da estatal.



Fonte: G1