A sócia-fundadora da Dahlia Capital, Sara Delfim, explica os fatores que mexem com o mercado e com o preço dos ativos.
No mundo dos investimentos não existem garantias. Esse é um dos mantras mais repetidos entre economistas e pessoas ligadas ao mercado financeiro, e ele faz todo sentido. Ao mesmo tempo, não é correto afirmar que investir é fazer uma aposta cega. Longe disso. As empresas, o cenário econômico nacional e internacional, a política de juros e outros fatores dão pistas importantes sobre como as ações podem se comportar. Para explicar o que mexe com a economia e o desempenho das empresas, Sara Delfim, sócia-fundadora e membro do time de gestão da Dahlia Capital, concedeu a entrevista a seguir.
1. Quais fatores levam o preço de uma ação a oscilar?
O preço de uma ação oscila em função de dois fatores: o macro e os microeconômicos, ou seja, aspectos ligados a cada empresa. O fator macro pode ser externo ou interno, incluindo eventos políticos que aumentem ou diminuam a percepção de risco, além de mudanças na política monetária e econômica das grandes potências do mundo. O que acontece com a taxa de juros americana, por exemplo, influencia na precificação de todos os ativos, tais como ações, moedas e títulos de renda fixa. Já os fatores microeconômicos são aqueles que afetam um determinado setor ou empresa. Por exemplo, se o mercado gostasse muito do CEO de uma companhia e esse presidente saísse dela, poderia surpreender o mercado e, por essa razão, o valor das ações poderia oscilar no curto prazo.
2. Como a divulgação dos resultados financeiros de uma empresa pode afetar o desempenho das ações?
A princípio, o que faz uma ação valorizar é a perspectiva de crescimento de seus lucros e dividendos. Se a empresa anuncia resultados mais fracos e o mercado precisa revisar para baixo sua estimativa de lucro do ano, isso faz com que o preço da ação oscile para baixo, e vice-versa.
3. Que sinais uma empresa dá de que está em fase de expansão ou retração e como isso pode ser analisado pelo investidor?
Existem alguns elementos que podem indicar se a empresa está em fase de expansão e crescimento. Um deles é o nível de investimentos em mais capacidade produtiva. Outro é se vai abrir ou fechar lojas, no caso do varejo. Também, se está ganhando market share ou se busca fazer aquisições de outras empresas.
4. Existem produtos financeiros adequados a todo tipo de cenário. Como saber o momento de focar em investimentos de renda fixa ou variável?
Achamos que um investimento não exclui o outro. O ideal para qualquer investidor é ter uma boa diversificação de ativos. Uma combinação eficaz de renda fixa e bolsa pode ajudar a navegar mais tranquilamente em períodos de incerteza ou volatilidade, pois são ativos com correlação negativa, que ajudam a proteger o investidor de eventos inesperados.
5. Que tipo de mudança regulatória pode mexer com o valor das ações?
Mudança regulatória pode acontecer. Se for unilateral, talvez não seja positiva, mas se for consensual entre regulador e setor, não necessariamente é ruim. Exemplo de um evento ruim é se o regulador definir a redução de tarifas, sem que isso seja previsto em contrato. Mas, se o setor ou a empresa concluíram seu ciclo de investimentos, estão com produtividade e retornos elevados, pode haver uma negociação entre as partes. Dessa forma, um percentual dessa eficiência pode ser usado para uma redução tarifária. Isso porque, provavelmente, com menor tarifa, o consumo aumentaria, e assim a empresa não necessariamente perderia dinheiro. Ou seja, tudo depende muito da forma, do porquê e de como o assunto é tratado entre as partes.
Sara Delfim
Gabriel Villas Boas
6. O desempenho de empresas do mesmo segmento, sem deixar de considerar as particularidades de cada negócio, pode ajudar a interpretar os resultados de uma companhia em particular?
Grandes tendências de um setor podem ajudar a interpretar o resultado de uma empresa. Por exemplo, empresas que dependem do crédito para vender seus produtos. Se o setor bancário começar a limitar acesso ao crédito ou aumentar o custo do crédito, provavelmente o setor de consumo enfrentará desaceleração das vendas. Ou, se uma empresa do setor de saúde anunciar pressão de custos ou problema de suprimentos, é muito provável que isso aconteça para as demais empresas do setor. Por isso, é importante analisar o setor como um todo e sempre estar de olho em todas as empresas, mesmo àquelas que não estão na carteira de investimentos.
7. Que tipo de notícia pode mexer com os investimentos?
No geral, notícias ou ruídos afetam investimentos no curto prazo. À médio e longo prazo, o que move o preço das ações é seu potencial de crescimento. Ruídos de eventos políticos e econômicos geram volatilidade de curto prazo. Notícias, por exemplo, de um competidor global abrindo seu business no Brasil podem afetar o preço das ações no curto prazo por medo de mais competição no setor específico. Notícias da falta de uma matéria-prima podem afetar um determinado setor etc.
8. Por que o cenário econômico dos Estados Unidos e da Europa mexe tanto com o mercado financeiro brasileiro?
O que acontece nas maiores economias afeta não apenas nosso país, como o mundo todo. Estados Unidos e China, por exemplo, são os maiores consumidores de matéria-prima, sejam grãos, minério, petróleo etc., e o Brasil tem muita relevância na exportação desses itens. Então, se a China crescer pouco, isso afeta o Brasil. Se a China crescer muito, isso ajuda o Brasil.
9. Empresas que não investem em tecnologia ou têm uma cultura ultrapassada estão fadadas à desvalorização? Como enxergar esses sinais?
É difícil afirmar que essas empresas estariam fadadas à desvalorização. Isso depende do setor, da empresa e do produto. De forma geral, empresas que não se reciclam, cultural ou tecnologicamente, talvez tenham mais dificuldade em driblar a competição ou reter talentos, que querem sempre novos desafios. Alguns dos sinais de que a empresa está num ponto do ciclo em que precisa inovar, é a perda de fôlego, crescimento menor que seus pares, perda de market share e não conseguir posicionar sua marca no top 5 da memória do cliente.
10. Para você, inteligência financeira é…
Investir com cautela, com diversificação e estar sempre preparado e atento aos desafios do mercado, que aparecem repentinamente. É importante lembrar que o tempo joga a favor dos investimentos e não é nosso inimigo. Não se deve ter pressa, mas atitude, disciplina e muito estudo.
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Fonte: Portal G1