Por que as pessoas estão transmitindo suas horas de sono em lives nas redes sociais?




Usuários dormindo por horas a fio têm se destacado no algoritmo das plataformas. Eles dizem que sonecas aumentam engajamento, atraem seguidores e podem até render dinheiro. Brasileiro transmite noite de sono com boneco Chucky no TikTok
Reprodução/TikTok
O velho sonho de ganhar dinheiro dormindo na internet foi atualizado na era das lives.
Atentos a um estranho interesse do público, usuários de redes sociais estão transmitindo suas horas de sono ao vivo, na esperança de aumentar seu engajamento e até faturar – literalmente – de olhos fechados.
Em março, Brian Hector, um americano de 18 anos, disse ao “The New York Times” que ganhou cerca de US$ 10 (aproximadamente R$ 55) ao exibir uma noite tranquila de sono aos seus mais de 300 mil seguidores no TikTok.
Não há provas de que o relato seja verdadeiro. O fato é que, todas as noites, transmissões desse tipo rendem chats movimentados e se destacam no algoritmo da plataforma.
Entre os adeptos brasileiros, há quem pegue no sono ao lado de bonecos Chucky, dos filmes “Brinquedo Assassino”, e os que aparecem dormindo em posições ainda mais bizarras (e até perigosas), como mordendo um biscoito ou escorado em uma geladeira aberta.
Em alguns casos, usuários burlam a ferramenta e transmitem uma imagem estática, com trilha de som ambiente.
“É uma prática polêmica. Alguns usuários acham que estamos faltando com o respeito a eles ao dormir numa live”, diz ao G1 o tiktoker Diego Henrique Silva, de Barueri (SP). Ele faz lives dormindo em tempo real, mas também já usou o serviço para transmitir fotos.
Dá para ganhar dinheiro?
O ato de dormir numa live não fere as regras do TikTok. Utilizada principalmente para criação e compartilhamento de vídeos curtos, a rede tem trabalhado para popularizar seu recurso de transmissões ao vivo.
Com ele, espectadores têm a opção de doar “presentes” virtuais aos criadores das lives. Esses ítens podem ser trocados por dinheiro real.
O Twitch, outra plataforma que reúne transmissões ao vivo, usa um mecanismo parecido. Criadores de conteúdo podem receber moedas digitais de seus espectadores, as chamadas Bits.
O serviço, focado principalmente em lives de games, diz em suas diretrizes que não são recomendadas “atividades que comprometam a capacidade de um streamer de acompanhar de perto e monitorar seu stream e/ou chat”.
Mesmo assim, o sono tem se mostrado uma democrática fonte de engajamento na rede.
Diego Henrique Silva faz lives dormindo e transmite imagens estáticas para ganhar engajamento no TikTok
Reprodução/TikTok
Em 2019, após um dia cansativo, o streamer até então com baixa popularidade Jesse D. cochilou por três horas durante uma transmissão.
O trecho recortado da live que o mostra acordando, sem entender por que tinha centenas de espectadores, se tornou um dos vídeos mais vistos da história do Twitch, com mais de 3 milhões de visualizações, segundo o site Kotaku.
Para tentar faturar, usuários ativam na plataforma um recurso que permite aos doadores enviarem sons e mensagens de voz para tentar acordá-los. Eles juram que há quem pague para importunar o sono de alguém.
Na maioria dos casos, no entanto, outros elementos atraem público às lives sonolentas.
Alguns streamers mostram suas rotinas pré-sono e incluem sussurros e barulhos considerados relaxantes pelos fãs de ASMR – técnica que promete causar sensações físicas através de estímulos visuais e auditivos, popular na internet.
Para outros, pouco importa se o dono da live está dormindo ou acordado. As transmissões são como uma tela em branco, em que espectadores podem usar o chat para conversar em tempo real e conhecer gente nova.
É um recurso que, no TikTok, não está disponível em nenhum outro lugar da rede. “O que acho mais interessante é saber que as pessoas interagem no chat e passam a se seguir”, afirma o tiktoker Diego.
O brasileiro diz não faturar com as sonecas na plataforma, mas garante que viu o engajamento de seu perfil aumentar depois que começou a transmitir o sono. “Já ganhei 500 seguidores em três horas de live.”
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Fonte: G1