Por que a queda do euro abaixo da paridade com o dólar importa? | Economia

A moeda única europeia caiu abaixo da paridade com o dólar pela primeira vez em 20 anos, golpeada pelos crescentes temores de recessão na zona do euro.

Nesta quarta-feira (13), o euro caiu mais cedo para US$ 0,9998 e já perde quase 12% no ano. O euro havia começado 2022 em alta performance antes de a guerra na Ucrânia turbinar a inflação e prejudicar o panorama de crescimento do bloco.

Euro atinge o mesmo valor do dólar pela primeira vez em 20 anos

Euro atinge o mesmo valor do dólar pela primeira vez em 20 anos

Entenda o significado desse marco:

Uma queda abaixo de 1 dólar é rara. Desde sua origem em 1999, o euro passou muito pouco tempo abaixo da paridade. Na verdade, a última vez que lá esteve foi entre 1999 e 2002, quando afundou para uma mínima de US$ 0,82 em outubro de 2000.

Cédulas e moedas de euro só foram introduzidas em 1º de janeiro de 2002, com a divisa existindo antes deste dia somente como uma unidade contábil para transações transnacionais.

Em sua relativamente curta história de duas décadas, o euro é a segunda moeda mais procurada para reserva global de valor e seu volume diário de negociação em relação ao dólar é o maior entre todas as moedas no mercado global de câmbio, que movimenta U$ 6,6 trilhões por dia.

Mas está tudo fraco diante do dólar?

Verdade. Moedas como libra esterlina e iene também caem no acumulado deste ano, em parte devido às mais agressivas altas de juros norte-americanas que impulsionaram o apelo do dólar, enquanto temores de uma recessão global levaram investidores a se aglomerar no refúgio chamado dólar.

A expectativa é que o Banco Central Europeu (BCE) comece a subir os juros em seu encontro de 21 de julho. O Federal Reserve (Fed) elevou as taxas em 75 pontos-base em junho.

Temores crescentes de que a disparada nos preços de combustíveis na Europa tornem a zona do euro mais suscetível a riscos de recessão também explicam por que o euro está sendo atingido tão fortemente agora.

Alguns bancos globais estão prevendo recessão para a zona do euro já no terceiro trimestre.

Alguns economistas acham que não. O Nomura tem estimativa de curto prazo de US$ 0,95. Analistas dizem que, até o panorama econômico melhorar, o euro vai continuar sob pressão. Mesmo que o BCE suba os juros, o Fed está elevando ainda mais, atraindo dinheiro para os Estados Unidos.

O euro pode também ser atingido por riscos de fragmentação, em que os custos de empréstimo de países mais fracos crescem mais do que os de seus pares mais ricos.

Um elemento favorável para o euro é que ficar “vendido” na moeda comum (ou seja, apostar em sua depreciação) já é uma estratégia popular nos mercados de câmbio e o posicionamento negativo no euro está se aproximando de níveis históricos. Isso deve dificultar que a divisa caia bruscamente.

O que isso significa para o BC europeu?

Uma grande dor de cabeça. Deixar a moeda cair impulsionaria uma inflação já em patamar recorde, aumentando o risco de que a alta de preços se consolide em um nível acima da meta do Banco Central Europeu (BCE), de 2%.

Mas lutar contra o declínio do euro a mínimas em 20 anos exigiria altas de juros mais rápidas, o que poderia gerar ainda mais miséria para uma economia que já enfrenta uma possível recessão.

Estudos frequentemente citados pelo BCE sugerem que uma depreciação de 1% na taxa de câmbio aumentaria a inflação em 0,1% em um ano e em 0,25% em três anos.

Uma intervenção pode estar a caminho?

O BCE até então tem minimizado a fraqueza do euro, argumentando que não possui nenhuma meta de taxa de câmbio, mesmo que a moeda importe como parte dos cálculos da inflação mais abrangente.

O euro despenca quase 12% em relação ao dólar no acumulado deste ano. Mas com base num índice do euro ponderado por moedas dos principais parceiros comerciais do bloco monetário a queda é de apenas 3,6%.

Para alavancar o euro, o Banco Central Europeu poderia sinalizar um aperto mais agressivo da política monetária, incluindo alta de juros de 50 pontos-base em setembro e movimentos adicionais em outubro e dezembro.

Analistas consideram que uma posição mais agressiva na política monetária (conceito em inglês traduzido pela palavra “hawkish”) é improvável dada a deterioração no cenário de crescimento.

Fonte: Portal G1