Plantas de cobertura e forrageiras são estratégias para recuperação de solo do RS


O agronegócio gaúcho perdido cerca de R$ 3 bilhões por conta das enchentes, que atingiram o Rio Grande do Sul entre abril e maio deste ano. Os especialistas estimam leve ao menos uma década para a recuperação e na agropecuária, isso passa pelo cultivo de plantas de cobertura e forrageiras em rotação de culturas recompor os nutrientes do solo.

Por isso, o Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e da Emater-RS/Ascar, divulgaram nota técnica sobre o uso de plantas para a recuperação de solos atingidos pelas enchentes.

Recuperação do solo com plantas de cobertura e forrageiras

A chuva que durou mais de 10 dias no estado, levou décadas de uso de práticas de manejo do solo, o que impactou a biodiversidade, a estrutura e a fertilidade dos solos. Os bilhões de reais perdidos foram estimados pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).

Após as enchentes, há áreas que tiveram remoção de solo e áreas que tiveram deposição de sedimentos, alguns arenosos e outros argilosos. Em todas as áreas o solo, a estrutura é frágil, situação comum em solos que sofreram remoção da camada superficial, ou totalmente sem estrutura, que é a condição de áreas de deposição superficial de sedimentos.

Esses fatores determinam que há más condições físicas para o desenvolvimento das raízes das plantas, para a infiltração e para a retenção de água, entre outros impactos.

A nota técnica divulgada UFRGS, Seapi e Emater-RS/Ascar destaca que, o cultivo de plantas de cobertura do solo ou de espécies forrageiras, em rotação com culturas comerciais, é a única estratégia capaz de recuperar as propriedades biológicas, físicas e químicas dos solos degradados no Rio Grande do Sul.

O objetivo da nota é orientar os produtores que o uso de plantas para a recuperação de solos é uma abordagem eficaz e sustentável, que aumenta a resiliência do ecossistema e a produtividade agrícola, garantindo a viabilidade em longo prazo das atividades agrícolas na região.

Uso de plantas para a recuperação de solos atingidos pelas enchentes

Palhada e sistema radicular das plantas são essenciais no processo de recuperação dos solos.Palhada e sistema radicular das plantas são essenciais no processo de recuperação dos solos.
Palhada e sistema radicular das plantas são essenciais no processo de recuperação dos solos. Fotos: Amanda Posselt Martins/Fotojet

Em todas essas áreas há a necessidade de construir ou recuperar a estrutura do solo, processo que é basicamente de natureza biológica e que somente pode ser obtido pelo cultivo intensivo de plantas de cobertura do solo.

“Apesar de ser essencial a sua combinação com práticas mecânicas e com uso de insumos, o cultivo de plantas de cobertura do solo ou de espécies forrageiras, em rotação com culturas comerciais, é a única estratégia realmente capaz de recuperar as propriedades biológicas, físicas e químicas dos solos degradados.”, diz a nota.

As plantas servem como fonte de recursos para diversos organismos que habitam o solo. A biomassa vegetal, ao se decompor, dá origem à matéria orgânica, que é crucial para a formação de um solo com qualidade, pois os resíduos vegetais e animais decompostos contribuem para a estruturação do solo, a infiltração e a retenção de água e a ciclagem e disponibilidade de nutrientes.

“O processo é vital para restabelecer a biota do solo, que atua na construção da estrutura física e promove um ambiente favorável para a atividade microbiana que, participa dos ciclos biogeoquímicos de nutrientes, como o nitrogênio, realizando o processo de disponibilização de nutrientes para as plantas que são essenciais para o seu crescimento e não são obtidos via fotossíntese”, explica.

As raízes das plantas agem como bioestruturadores, penetrando no solo e criando poros que melhoram a infiltração de água e a aeração, além de contribuírem para a estabilização da estrutura do solo.

O papel das plantas vai além de simplesmente cobrir o solo: elas atuam como engenheiros ecológicos, reconstituindo as condições necessárias para o funcionamento do ecossistema.

Tipos de plantas que atuam na recuperação dos solos

Diversidade de plantas acelera os processos de recuperação dos solos. Diversidade de plantas acelera os processos de recuperação dos solos.
Diversidade de plantas acelera os processos de recuperação dos solos. Foto: Divulgação/Epagri

A prática de cultivar simultaneamente diferentes espécies de plantas com diferente qualidade de resíduo vegetal e ou diferente sistema radicular tem demonstrado grande eficácia na recuperação de solos.

O uso combinado de diferentes espécies com características diferenciadas de biomassa e sistema radicular traz benefícios para o aumento dos teores de carbono, nitrogênio e demais nutrientes no solo.

  • Gramíneas, como a aveia, o azevém, o milheto e o sorgo: seus sistemas radiculares densos e profundos, são eficazes na captura de carbono atmosférico e na incorporação no solo na forma de matéria orgânica, gerando palhada que persiste mais na superfície do solo e o protege do potencial erosivo das chuvas.
  • Leguminosas, como a ervilhaca, a ervilha forrageira, o cornichão, o tremoço e os trevos: quando em simbiose com os rizóbios, têm a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico, convertendo-o em formas que podem ser utilizadas pelas plantas.
  • Brássicas, como o rabanete forrageiro e o nabo forrageiro: possuem grande capacidade de reciclar o nitrogênio e o potássio de camadas profundas do solo.

 



Portal Agro2