PIB mais fraco mexe pouco com projeções de 2021, mas joga alerta sobre inflação, dizem economistas | Economia


Os analistas dizem que as tendências importantes se confirmaram, como a leve retomada do setor de serviços (0,7%), uma desaceleração da indústria (-0,2%) e um trimestre difícil para a agropecuária (-2,8%), prejudicada pela estiagem.

No último boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, os economistas do mercado financeiro reduziram a estimativa para o crescimento de 5,27% para 5,22%. E no cerne da desaceleração, tanto no Focus como para os economistas ouvidos pela reportagem, estão a preocupação extra com o avanço da inflação e a crise hídrica.

As pressões inflacionárias vieram antes mesmo do período de seca patrocinadas pela desvalorização do real. O câmbio sofre com o desajuste fiscal do país e com as instabilidades ocasionadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

Os ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaças de não reconhecer o resultado das eleições em 2022 e pressões sobre a equipe econômica para contornar políticas de contenção fiscal, como o teto de gastos, são vistos por investidores internacionais como aumento do risco país.

A saída de dólares enfraquece o real e encarece itens negociados no mercado internacional, como o petróleo, minérios e soja, que dão origem à gasolina, insumos para a indústria e ração animal.

Como mostrou reportagem do G1, um possível racionamento pode reduzir a atividade da indústria e gerar repasse do custo extra ao restante da cadeia. Como efeitos secundários, os setores de comércio e serviços aumentam os preços ou diminuem as margens de lucro e investimentos, atrapalhando a normalização da economia.

Além do prejuízo na oferta, a crise hídrica ocasionou o reajuste da bandeira tarifária ao patamar inédito de R$ 14,20 a cada 100 kWh. Trata-se de mais uma injeção inflacionária pelo aumento de custo de habitação.

Veja abaixo a avaliação dos economistas.

VÍDEO: Racionamento de 2001 – Relembre momentos-chave da crise hídrica no governo FHC

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Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados

A MB Associados tinha projeção de 0,4% para o segundo trimestre, com 12,6% no comparativo interanual. Para Sérgio Vale, o segundo dado traz uma melhor análise do curso de recuperação, pois momentos de choque alteram os critérios de dessazonalização do PIB.

“Houve mudança de cálculo pelo IBGE, mas não altera nossa projeção de 4,7% para 2021. Teremos um final de ano afetado pela crise energética, que é o grande risco que se apresenta para o 4º trimestre”, diz Vale.

O economista afirma que, independentemente de alguma variação positiva ou negativa entre os trimestres, a tendência esperada para o comportamento da economia se confirmou. Houve uma melhora do setor de serviços, que ficou à frente da indústria.

Esse é um resultado da vacinação contra a Covid-19 e deve se acentuar nos semestres. O dinheiro que era usado no consumo de bens está gradualmente passando para bares, restaurantes e demais serviços do portfólio.

Destaque negativo – e também esperado – foi a agropecuária, que teve a queda mais forte dos grandes setores. O economista lembra que o segundo trimestre contou com seca que comprometeu as safras de milho, algodão e café.

Vale acrescenta, contudo, que o país acumula uma conjunção de riscos “única” com a soma entre inflação e crise hídrica. Um bom demonstrativo é que a elevação recente das taxas de juros tiveram efeito limitado no controle de preços, porque ainda há crises de estabilidade econômica patrocinadas pelo governo.

“No caso da hídrica, não houve preparação ou antecedência para o que viria. Sobre a inflação, a política fiscal volta ser expansionista e com riscos na condução da política econômica que elevam a taxa de câmbio e pressionam ainda mais a inflação”, diz o economista.

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Silvia Matos, economista do Ibre/FGV e coordenadora do Monitor do PIB

A economista Silvia Matos vê poucas surpresas na divulgação desta quarta-feira, que demonstrou que a economia passa por um processo de normalização em vez de uma aceleração.

Destaque feito para Outros Serviços, que veio acima do esperado em seus cálculos e inclui os serviços que dependiam de presença física dos consumidores, como resultado da vacinação e da maior circulação de pessoas.

A inflação, contudo, é ponto central das preocupações da economista. Mesmo que a disposição a consumir cresça, o resultado final de 2021 pode ser afetado pela corrosão do poder de compra da população.

Além disso, a crise energética pode acarretar um choque de oferta na produção de bens e piorar os resultados da indústria.

“Temos os serviços potencialmente penalizados pela inflação e a indústria possivelmente afetada por um racionamento”, diz Silvia.

Contratadas as novas crises de inflação e energética, Silvia afirma que revisões do PIB devem continuar caminhando para baixo, em especial para quem tinha cálculos mais otimistas.

PIB DO SEGUNDO TRIMESTRE DE 2021



Fonte: G1