Pedir emprego fora da minha área pode prejudicar o currículo? Entenda | Concursos e Emprego


Em meio ao desemprego recorde e a dificuldade cada vez maior de os brasileiros conseguirem se recolocar no mercado de trabalho, uma das saídas tem sido buscar emprego fora da área de estudo ou de experiência.

Para especialistas, conseguir a vaga em outra área pode ser mais difícil por causa da falta de experiência. Mas, dependendo de quais setores o candidato escolhe para direcionar suas tentativas, ele pode se dar bem. E profissionais multidisciplinares, que tenham facilidade para se adaptar a diversas funções, saem na frente.

Antes de tomar a decisão, o indicado é escolher as áreas onde quer atuar. Algumas podem combinar com o segmento de atuação e até pedir habilidades semelhantes. Isso aumenta as chances de conseguir a vaga.

No currículo, é preciso destacar as competências adquiridas em experiências anteriores que farão a diferença para atuar em outra área. E dar destaque a cursos que estejam ligados ao novo objetivo.

Se a decisão de trabalhar em outro setor for temporária, é importante não deixar de se atualizar sobre a área em que sempre atuou.

Já o profissional que pensa em mudar de área em definitivo deve se planejar e fazer cursos para ter condições de concorrer com os demais candidatos.

Veja abaixo o tira-dúvidas com Hugo Capobianco, especialista em Carreira da Consultoria LHH, e Felipe Iotti, head de Recursos Humanos da Gi Group Brasil.

É indicado o candidato aceitar uma vaga em uma área diferente para não ficar sem emprego?

Felipe Iotti: Depende do momento de cada profissional e as dificuldades que possa estar passando. Em linhas gerais, não é indicado aceitar de imediato uma vaga em uma área diferente – a menos que seja o desejo do profissional – assim que perde o emprego. Se possui uma reserva de emergência e teve acesso às verbas rescisórias, o melhor é que busque inicialmente dentro de sua atuação de interesse e, caso os recursos acabem, então ser mais flexível e se abrir para outras oportunidades.

Hugo Capobianco: O profissional deve avaliar com muita clareza qual é a sua necessidade, seja financeira ou psicológica, pois muitas pessoas que precisam trabalhar não conseguem aguardar um emprego na sua área de atuação. O mais indicado é o profissional tentar seguir, quando possível, na sua área, até para continuar se desenvolvendo na sua trilha profissional.

O que isso pode ajudar e prejudicar na carreira?

Hugo Capobianco: Caso o profissional escolha aceitar um emprego fora da sua área, a possibilidade de retomada pode ser mais difícil, certamente não impossível, mas requer alguns cuidados como, por exemplo, o que falar ao entrevistador a respeito dessa mudança. Lembrando que culpar o cenário econômico ou a alta taxa de desemprego não é uma argumentação bem aceita. Portanto, avalie muito bem ao se deslocar para outra área. Um ponto que poderá ajudar é o profissional se encontrar em outra área, em outra atividade, e ampliar sua carreira.

Felipe Iotti: Se a área de atuação for próxima, não haverá necessariamente um prejuízo para a carreira. Pode até ser uma oportunidade para desenvolver outros conhecimentos e se tornar um profissional mais generalista. Caso seja uma atuação muito distinta, que o profissional aceitou apenas por necessidade financeira, há dois cenários:

  • ele pode gostar da área e resolver fazer de fato uma mudança de carreira e escolher se aprofundar no novo departamento.
  • o profissional pode continuar buscando oportunidades em sua área de atuação para não se distanciar muito das práticas da função e conseguir voltar à sua atuação original de maneira mais fácil.

Não acredito que haja prejuízos para carreira, a menos que o profissional se acomode e depois não consiga retornar para sua área inicial. De forma transitória, caso seja uma posição similar, pode haver boas oportunidades de desenvolvimento e chance de aprendizado.

O que esse profissional pode aprender com a mudança de área?

Felipe Iotti: Todas as experiências ensinam algo, seja um conhecimento técnico novo, capacidades comportamentais ou a ter resiliência e inteligência emocional. O importante é que esse profissional enxergue as oportunidades e procure seu autodesenvolvimento sempre. Mesmo que seu interesse seja retornar à área original de atuação, as situações vividas e os desafios da posição em que está podem servir de desenvolvimento profissional.

Hugo Capobianco: O profissional pode adquirir novas competências e descobertas e isso pode lhe dar possibilidade de atuar em carreiras múltiplas ou em portfólio. Tudo bem se reinventar, desde que faça isso de maneira planejada.

As empresas costumam aceitar profissionais de áreas diferentes para as vagas?

Hugo Capobianco: Vejo essa abertura das empresas em aceitar profissionais de outras áreas em posições mais administrativas e operacionais, em níveis de analistas, assistentes e auxiliares, mas não para nível sênior, no qual a exigência de competências e resultados é bem maior.

Felipe Iotti: Se for para áreas semelhantes ou dentro de um mesmo departamento, isso pode ser um facilitador. Além disso, se a empresa deseja um profissional mais generalista, isso também pode ajudar.

Profissionais que já participaram de projetos multidisciplinares podem ter maior facilidade, uma vez que mesmo sem terem atuado em um escopo específico, podem ter acompanhado de perto a atuação de outro departamento, aprendendo sobre o escopo geral e, dependendo do projeto e da atuação, adquirindo conhecimentos específicos.

Como fica o currículo de quem quer se candidatar a vagas em uma área diferente da sua experiência?

Felipe Iotti: Todas as experiências são válidas, porém, o que muda é o destaque que damos a elas. No caso de se candidatar para uma vaga em um setor diferente, é importante ressaltar as experiências prévias da trajetória profissional que podem ser relevantes para a área à qual está se candidatando e dar maior enfoque para elas em uma entrevista. Durante o processo é importante ser honesto sobre a trajetória, mostrando como foram suas experiências e quais passagens da carreira podem ser valorizadas pela área à qual concorre.

Hugo Capobianco: O currículo precisa demonstrar alguma sinergia com a nova área, seja algum curso, competência ou mesmo os anseios que o levam a atuar na nova área. Vale destacar a experiência anterior e seguir os mesmos padrões para ter um currículo atrativo.

O que colocar no campo ‘objetivo’ do currículo?

Felipe Iotti: O campo ‘objetivo’ do currículo deve estar alinhado à vaga para a qual o profissional irá se candidatar. Porém, no campo de resumo, é interessante mostrar os principais conhecimentos técnicos e habilidades que esse profissional tem, mostrando em que atuações possui conhecimento e experiência.

Hugo Capobianco: A informação deve ter aderência à vaga, ou seja, quanto mais alinhamento tiver com o perfil da posição, melhor será a sua aceitação.

Como reforçar na entrevista que o candidato quer mudar de área?

Felipe Iotti: É importante ser sincero na entrevista. Mentir sobre seus conhecimentos e habilidades pode gerar um problema futuro, ao ser constatado que uma determinada característica foi inventada apenas para ser aprovado em um processo seletivo.

Mostre ao entrevistador como sua trajetória profissional e os conhecimentos adquiridos podem contribuir para a vaga pode ajudar. Dependendo da empresa, ter profissionais multidisciplinares e com conhecimentos generalistas pode ser valorizado. Assim, entender o que a empresa busca para aquela posição e reforçar seus conhecimentos e experiências ajudarão o entrevistador a entender o motivo pelo qual esse profissional pode ser a melhor escolha.

Hugo Capobianco: O candidato precisa ter muita clareza do que ele quer enquanto atuação profissional e deixar claro para o entrevistador. Mostrar de fato como ele poderá contribuir na nova atuação fará total diferença no processo de avaliação.

Na entrevista, o candidato pode dizer que está buscando aquela vaga porque não está conseguindo emprego na sua área?

Felipe Iotti: Em um processo seletivo, o que mais conta é a forma como mostramos nossa trajetória e o que nos levou até aquele processo seletivo. Recomendo que o foco seja no motivo pelo qual o profissional resolveu aplicar para a vaga e quais competências e conhecimentos possui que fazem sentido para a posição aplicada.

É possível que, devido à situação financeira, um profissional se candidate para uma vaga de nível de senioridade inferior ao que possuía ou até para uma posição totalmente diferente de seu ramo de atuação. Nesse caso, se questionado, não há problemas em falar que está buscando uma atuação diferente pela dificuldade de recolocação devido à situação econômica atual.

Hugo Capobianco: Jamais. Essa resposta seguramente o reprovará no processo.

Em um mercado que pede adaptabilidade e vontade de aprender, não seria positivo essa disposição de mudar de área?

Hugo Capobianco: Sem dúvida que sim, mas isso tem que ter uma sustentação enquanto posicionamento profissional do candidato, até para de fato denotar essa disponibilidade em aprender e adquirir novas competências.

Felipe Iotti: Todas as experiências são válidas e sempre é possível aprender algo, tanto tecnicamente quanto no âmbito comportamental, que podem contribuir para o desenvolvimento profissional.

Conseguir emprego em outra área pode ser mais difícil do que para o mesmo segmento no qual tem experiência?

Felipe Iotti: Tudo depende de quão distante a vaga para qual se aplica está das atribuições atuais. Dependendo da forma como o profissional conta sua trajetória por meio do seu currículo e do discurso na entrevista, o empregador pode ver com bons olhos essa atuação anterior diferente, identificando como o profissional pode contribuir com uma visão diferenciada, trazendo maior diversidade de pensamentos e experiências para o time.

Hugo Capobianco: Não diria mais fácil ou mais difícil, mas tão desafiador quanto. Vivemos em um mercado globalizado e altamente competitivo, portanto, saber como se posicionar e utilizar os melhores recursos e fontes para isso podem fazer a diferença.

É melhor escolher um ramo que exija habilidades parecidas com as experiências anteriores?

Felipe Iotti: Sem dúvidas isso ajudará bastante, pois assim o profissional terá maior facilidade para contribuir na nova experiência. Isso não significa necessariamente algum conhecimento técnico específico, podemos pensar em habilidades comportamentais, de gestão de projetos ou até mesmo um conhecimento avançado em Excel, por exemplo.

Hugo Capobianco: Sem dúvida. Isso pode facilitar o processo e sua visibilidade.

Se o candidato decidir largar sua área e apostar em um novo ramo, o que ele deve fazer?

Hugo Capobianco: Planejar. Esse é ponto principal. Não se “atire” sem saber onde quer chegar, o que quer fazer e o que é possível e viável. Construa seu plano e veja quem poderá orientá-lo a chegar lá.

Felipe Iotti: No caso de uma mudança de carreira planejada, ou seja, na qual o profissional decide por desejo próprio, não por dificuldades financeiras, ele terá mais tempo para investir em seu desenvolvimento para realizar a troca de atuação. Nesse caso, o profissional deve:

  • procurar cursos do ramo que o ajudarão a ganhar conhecimento técnico;
  • buscar pessoas da área para conhecer a rotina ou até mesmo pedir uma mentoria de um profissional mais experiente;
  • participar de projetos multidisciplinares nos quais possa atuar mais próximo da área de interesse.



Fonte: G1