A crise causada pela pandemia do coronavírus atingiu diretamente o negócio de pequenos empreendedores e muitos precisaram mudar totalmente a área de atuação.
Teve também quem começou a empreender exatamente durante a crise, aproveitando a mudança no comportamento de consumo e o aumento na busca por comidinhas caseiras.
O G1 conversou com 4 empreendedoras que precisaram se reinventar nos últimos meses.
As principais lições que aprenderam com as mudanças foram:
- Manter o negócio enxuto, sem funcionários e com poucos gastos;
- A importância da divulgação boca a boca;
- Vendas pelo Instagram e pelo WhatsApp;
- Estudar e buscar cursos sobre a nova atuação.
O que aprendi com a crise: esta semana, o G1 publica uma série de reportagens sobre as lições aprendidas pelos pequenos empresários durante a crise – e os ensinamentos que podem ser aproveitados por outros empreendedores.
- Segunda-feira (10/5): humanização do atendimento
- Terça-feira (11/5): transformar conhecimento em produto
- Quarta-feira (12/5): mudança de atuação e estrutura enxuta
- Quinta-feira (13/5): fortalecimento de marca e conexão com o público
Ana Rosa Guedes resolveu empreender durante a pandemia. Largou o emprego no RH de uma empresa para se tornar sócia em uma padaria artesanal, a Miolo Mole, em São Paulo. Seu primo, o padeiro Rodrigo Leal Laranjeira, tinha aberto a loja poucos dias antes da chegada da Covid-19, mas o negócio não estava indo bem.
Juntos, eles reformularam a padaria e viram o faturamento aumentar 4 vezes nos últimos 10 meses. Com esse crescimento, eles tiveram que mudar até a categoria do negócio de Microempreendedor Individual (MEI) para microempresa.
Um fator decisivo para essa guinada foi a troca de endereço para um local com maior circulação de pessoas e em um bairro com maior poder aquisitivo, em outubro de 2020.
Ana e Rodrigo têm uma padaria artesanal que cresceu durante a pandemia — Foto: Arquivo pessoal
“Tínhamos plano de mídia, mas acabamos segurando por conta da alta demanda. Vamos deixar no boca a boca, de forma orgânica e sustentável”, conta Ana.
Com a alta nas vendas, a padaria precisaria contratar dois funcionários, mas por conta da pandemia, os sócios optaram por manter o negócio enxuto. O que não significa que não queiram crescer ainda mais.
“Em dois anos queremos criar uma marca para ser franquia. A gente vai se adaptar e virar uma fábrica e distribuir para outras lojas”, explica a empresária.
Para Ana, a pandemia ajuda nas vendas porque as pessoas estão saindo menos e comprando mais comida para comer em casa. Mas é também a crise que tem desacelerado o crescimento da empresa.
“A circulação de pessoas é menor e elas estão com medo de gastar. Se não tivéssemos no meio da pandemia, imagino que a padaria teria deslanchado mais”.
Mudança total no trabalho
Meire Zavagli é dona de duas vans de transporte escolar. Ela é motorista e transporta crianças de um colégio em Osasco, na Grande São Paulo, que até hoje mantém as aulas virtuais. Desde a chegada da pandemia, não pode mais exercer seu trabalho.
Com a ajuda de pais que continuaram pagando a mensalidade por algum tempo e com uma reserva de dinheiro que tinha, conseguiu se manter em 2020. Ela também pagou integralmente o salário de três funcionárias – uma motorista e duas monitoras – até outubro.
Em janeiro deste ano, sem previsão de conseguir voltar a atuar na sua área, Meire decidiu empreender em algo novo e lançou a Meirita Petiscos Gourmet, onde vende comidinhas árabes para compartilhar.
“A gente não teve ajuda de ninguém, nem do governo. Eu estava desesperada, então arregacei as mangas e fui fazer. Sou descendente de libaneses e resolvi vender comidas árabes que faziam sucesso aqui em casa”, conta Meire.
Meire começou um novo negócio durante a pandemia com a venda de petiscos árabes — Foto: Arquivo pessoal
Para deixar o cardápio mais diverso, foi aprender novas receitas na internet. Ela oferece mais de 10 opções, como quibe cru, esfirra, homus e babaganuche, pastinhas árabes tradicionais. Recentemente, incluiu pães recheados na lista. Ela mesma faz as entregas na casa dos clientes.
A empreendedora recebe uma média de 20 pedidos por semana e a divulgação é feita por listas de transmissão no WhastApp e pelo Instagram.
“O que eu acho mais difícil é conseguir a confiança de quem não me conhece e chegar a novas pessoas. Mas tem dado muito certo o boca a boca”, diz Meire.
Seu faturamento ainda não chega a 20% do que ganhava como motorista, mas Meire está feliz em fazer algo novo e voltar a ter um rendimento. Quando a pandemia acabar, ela pretende conciliar as duas atividades.
Descobrindo uma nova paixão
Ana Cristina Neves Correia também é motorista de transporte escolar e se reinventou no último ano. Diferente de Meire, ela se encontrou tanto na nova atividade que não pretende voltar à profissão anterior. Agora, ela empreende fazendo bolos artísticos na Ana Cris Cakes.
Tudo começou em junho do ano passado, quando Ana percebeu que a pandemia não iria acabar tão cedo. Ela decidiu fazer bolos caseiros para vender.
“Minha filha fez um perfil no Instagram pra mim, divulguei entre os amigos e foi um sucesso. Vendi mais de mil bolos em dois meses. Trabalhei muito”, conta.
Em dezembro, mais uma mudança. Ana viu na TV uma entrevista com a confeiteira Bruna Rebelo, famosa por seus cursos on-line onde ensina a fazer bolos especiais.
“Eu me encantei com aqueles bolos, fui fazer o curso e tudo mudou. Em fevereiro comecei a vender bolos artísticos e em um mês vendi 30. Eu estou muito feliz”, comemora Ana.
Ana Cristina fez um curso para aprender a fazer bolos artísticos e está faturando com as vendas — Foto: Arquivo pessoal
A empresária conta com a ajuda do marido, que faz as entregas, e da filha, que faz o conteúdo no Instagram. Além da rede social, ela divulga seus bolos em grupos de WhatsApp do bairro em que mora e conta com a colaboração dos clientes para divulgar seus doces.
O faturamento atual representa 50% do que ganhava como motorista, mas Ana Cristina está animada e trabalhando para chegar nos 100%.
“Achei uma nova profissão, ainda tenho muito a aprender, quero fazer outros cursos e alugar um espaço para ter uma cozinha só para fazer bolos”, planeja.
Valorização do feito à mão
Andria Maria Marques é cabeleireira e trabalha em um salão de beleza de Salvador há mais de 10 anos. Ela também teve que parar de trabalhar totalmente com a chegada da pandemia. A solução foi investir no que sabe fazer além de cortar cabelos: artesanato e doces.
“Fiquei em casa sem poder trabalhar por sete meses. Eu tinha que fazer algo. Faço crochê desde os 11 anos e essa foi minha escolha”, conta.
Andria começou a fazer bonecas de amigurumi, uma técnica japonesa que usa crochê ou tricô. Ela já fazia algumas e vendia para as clientes do salão. Com a pandemia, começou a postar nas redes sociais e a divulgar pelo WhatsApp.
Andria passou a vender bonecas de amigurumi durante a pandemia — Foto: Arquivo pessoal
A ideia deu certo e Andria chegou a vender 20 bonecas por mês. Para complementar ainda mais a renda, aos finais de semana ela investe na venda de tortas e bolos. O carro-chefe é a torta de morango.
“Acho que deu certo pela divulgação boca a boca e porque as pessoas estão valorizando, cada vez mais, produtos feitos à mão”, afirma.
Com a reabertura do comércio na cidade, a cabeleireira voltou à sua profissão, mas continua com as vendas das bonecas e doces.
“Sou muita ativa e minhas mãos combinam com minhas ideias. Fui lá e fiz. Mesmo com as dificuldades financeiras, meu emocional não ficou afetado porque continuei a trabalhar”.
Fonte: G1