O homem que criou alface vermelha usada em saladas no espaço | Ciência e Saúde


Os astronautas também precisam de uma alimentação saudável como quem fica na Terra mas, no espaço, até mesmo lidar com verduras é um grande desafio.

Um dos principais obstáculos é fazer com que alimentos cultivados lá não sejam colonizados por bactérias e fungos, adoecendo a tripulação.

Uma alface está se mostrando uma boa candidata para contornar isso, e seu idealizador nunca podia ter imaginado o destino espacial de sua criação.

Frank Morton estava voltando de um evento para especialistas em melhoramento (através de cruzamentos) de plantas e chefs de cozinha quando uma amiga olhava para o celular e contou para ele: “Olha, plantaram alface na Estação Espacial Internacional.”

Frank Morton se tornou uma referência em alfaces nos EUA, atraindo chefs de cozinha para sua fazenda — Foto: Getty Images/Via BBC

Ele perguntou de qual tipo, mas essa informação não estava disponível naquele momento.

Algum tempo depois, Morton se deparou com uma foto da alface em questão, impressa em uma revista. Ele sabia exatamente que alface era aquela, afinal, era sua própria invenção: uma planta que ele manipulou e batizou de Outredgeous.

As sementes desta alface passaram a ser vendidas para jardineiros e, na clientela, estavam também pesquisadores da Nasa, a agência espacial americana.

Morton é um pioneiro na criação de alfaces, e a fazenda orgânica que ele gerencia junto com a esposa Karen no Estado americano de Oregon se tornou uma meca para chefs e fãs desta folha.

Ele trabalha há quase 40 anos na manipulação de plantas, e há 12, criou a Outredgeous.

Em 1981, quando era um fazendeiro iniciante, Morton começou cultivando dois tipos de alface: uma do tipo romana vermelha e outra verde crespa, comumente usada em saladas. Ele plantou algumas e guardou sementes para o ano seguinte.

Das cerca de 200 mudas que foram plantadas em uma parte do terreno, a partir de sementes da alface verde, veio uma surpresa.

“Bem no meio de todas elas, estava uma alface vermelha”, conta Frank Morton.

Ele imaginou que tivesse ocorrido um cruzamento espontâneo entre as duas variedades e, no ano seguinte, realizou mais cruzamentos — chegando uma abundância de formas e cores.

Como o monge austríaco Gregor Mendel, cujos experimentos com ervilhas foram como um presságio da ciência genética moderna, Frank começou a deduzir como as características da planta eram herdadas: a cor vermelha era dominante, em detrimento da verde; a folha crespa também prevaleceu.

Morton se espantou. Criar plantas e novas variedades lhe pareceu um caminho financeiro promissor, e, ao mesmo tempo, despertou nele uma grande curiosidade.

Há projetos de cultivo de plantas em estufas no solo marciano em estudo — Foto: Nasa

“Algo se acendeu em meu cérebro naquele momento”, conta. “A partir da alface, comecei a explorar outras plantas, como quinoa e pimentão. Eu meio que me apaixonei por elas.”

O fascínio da alface permaneceu, no entanto. Em paralelo com outros projetos, Morton criou mudas cada vez mais vermelhas.

“Eu estava indo a fundo na investigação do quão vermelha você pode deixar a alface”, lembra ele.

Se ele tinha uma planta vermelha, cruzava com outra, na esperança de obter uma cor ainda mais forte. Naquela época, as alfaces eram mais monocromáticas do que hoje, predominante verdes — então, quando a alface Outredgeous apareceu, ela foi bastante incomum.

“Era tão vermelha que, na verdade, a maioria dos jardineiros não a reconhecia como alface. Achavam que era algum tipo de beterraba”, diz Morton. “Era incrível como ela era vermelha. É por isso que lhe dei esse nome (a palavra outrageous, na qual se inspirou, significa, em inglês, algo como chocante).”

Morton ofereceu as sementes da Outredgeous para venda por meio da Johnny’s Selected Seeds, uma empresa de sementes sediada no Estado do Maine.

Quando soube da chegada da planta à estação espacial, ele contatou uma equipe da Nasa e descobriu que, de fato, suas sementes haviam sido compradas por eles.

“Eles disseram que a Outredgeous tinha um crescimento ‘significativamente menor’ de micróbios na superfície da folha'”, lembra Frank de sua conversa com pesquisadores da Nasa.

Esta era uma grande vantagem em relação a outros vegetais testados, como a rúcula e a couve, que tinham se revelado bastante vulneráveis a microrganismos.

VÍDEO: Cozinheira encontra cobra dentro de alface, em Catalão

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Novas aventuras com alfaces

Depois da carreira espacial de sua criação, Morton segue com vários outros projetos. Ele está particularmente intrigado com o potencial da humilde alface iceberg.

“Elas não têm muito sabor e são difíceis de manejar, mas têm uma ‘crocância’ interessante.”

Frank Morton está estudando como torná-las mais atraentes, seja no paladar ou na aparência.

“Estou tentando fazer uma alface vermelho brilhante por fora, e rosa por dentro. Já tenho algumas alfaces muito bonitas, devo dizer.”



Fonte: G1