Quando a crise financeira estourou em 2008, alguns analistas cravaram: o presidente do Federal Reserve daquele tempo, Ben Bernanke, era o homem certo no lugar certo. Afinal, tratava-se de um dos maiores estudiosos da Grande Depressão, dos anos 1930. Para evitar um colapso semelhante, ele adotou medidas capazes de salvar o sistema financeiro de uma quebradeira geral — o grande passo foi ter reduzido a taxa de juros a quase zero e ter promovido uma compra de títulos em larga escala, de modo a inundar o sistema financeiro com liquidez. E, então, os bancos salvaram o mundo, depois de terem causado o problema todo, ao fazer empréstimos imobiliários em excesso, como os famosos subprimes, de alto risco. Na segunda-feira 10, Bernanke dividiu o Prêmio Nobel de Economia com outros dois pesquisadores americanos, Douglas Diamond e Philip Dybvig.
Para a Real Academia Sueca de Ciências, Bernanke mereceu a honraria por suas pesquisas que “melhoraram significativamente nosso entendimento sobre bancos, particularmente durante crises financeiras, além de como regular mercados financeiros”. Por meio de uma cuidadosa pesquisa de fontes históricas e modelos estatísticos, ele mostrou, em um influente texto de 1983, como a corrida às instituições financeiras foi decisiva para a Grande Depressão ter sido tão longa e profunda, com a falência de metade dos bancos dos Estados Unidos. Antes do raciocínio dele, atribuía-se o estrago a aspectos monetários, em especial ao governo não ter impresso dinheiro suficiente. As falências, portanto, seriam causa e não consequência da depressão. Os outros dois profissionais criaram o modelo Diamond-Dybvig, também de 1983, para explicar a importância de os bancos existirem. Eles atuam como intermediadores vitais entre quem está disposto a emprestar dinheiro, desde que ele fique prontamente disponível para eventualidades, e os tomadores de empréstimos que precisam de recursos por longo tempo até que possam devolvê-los.
Imagine se todo mundo precisasse vender parte de sua casa sempre que fosse fazer uma compra no supermercado, em vez de simplesmente usar o cartão de crédito. No entanto, a dupla desenhou um alerta: as instituições financeiras são vulneráveis a corridas bancárias caso rumores sobre a incapacidade de pagar todos os seus correntistas se espalhem. Diamond e Dybvig sugeriram, então, que governos podem evitar esse risco promovendo garantias de segurança para os depósitos do sistema financeiro. Se colapsos econômicos tão dramáticos quanto a Grande Depressão não ocorreram nas últimas duas décadas, mesmo com as crises de 2008 e da Covid-19, muito se deve às investigações da trinca.
Clima é política
Há décadas, o lugar-comum diz que já não se fazem intelectuais como antes na França de Sartre. O filósofo Bruno Latour era a comprovação do equívoco dessa afirmação. Filho de uma família produtora de vinho, cedo começou a pensar nos conflitos da humanidade pelo avesso. Foi pioneiro ao refletir sobre a ecologia — muito antes de o tema ganhar espaço. Para ele, seremos incapazes de “entender as posições políticas se não dermos um lugar central à questão do clima e sua negação”. Um de seus trabalhos mais conhecidos no Brasil é Onde Aterrar? Como se Orientar Politicamente no Antropoceno. Morreu em 9 de outubro, aos 75 anos, em Paris.
Publicado em VEJA de 19 de outubro de 2022, edição nº 2811