MPF decide apurar suposta atuação de Michelle Bolsonaro para favorecer amigos com empréstimos da Caixa, diz revista | Política


A Procuradoria da República do Distrito Federal decidiu investigar a suposta atuação da primeira-dama Michelle Bolsonaro para favorecer empresas de amigos com empréstimos da Caixa Econômica Federal, informou nesta sexta-feira a revista “Crusoé”.

A publicação obteve e-mails e documentos de indicados a receber o financiamento. A primeira-dama teria feito gestões junto ao presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a fim de obter a liberação dos empréstimos para comerciantes e pequenos empresários do setor de serviços.

Um dos e-mails, de uma assessora especial da Presidência da República, enviava à Caixa os documentos dos contemplados. “A pedido da sra. Michelle Bolsonaro e conforme conversa telefônica entre ela e o presidente Pedro, encaminhamos os documentos dos microempresários de Brasília que têm buscado crédito a juros baixos”, dizia a mensagem, de maio passado.

De acordo com a reportagem, os empréstimos foram concedidos por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), lançado pelo governo para oferecer dinheiro com juros baixos e condições facilitadas a micro e pequenas empresas durante a pandemia.

Ainda segundo a “Crusoé”, a maioria das operações foi assinada em uma agência em Taguatinga, cidade vizinha a Brasília, depois que a equipe do presidente da Caixa encaminhou os pedidos da primeira-dama.

A TV Globo procurou o Palácio do Planalto a fim de obter a versão do governo e aguardava resposta até a publicação desta reportagem.

A assessoria da Caixa Econômica Federal divulgou a seguinte nota:

“A Caixa informa que a concessão de crédito para empresas via Pronampe exige enquadramento prévio pela Receita Federal do Brasil e rigorosa análise de riscos do banco, que ocorre mediante processo totalmente automatizado, independente e sem interação humana. Até o momento, a Caixa concedeu empréstimos via Pronampe para mais de 240 mil Micro e Pequenas Empresas (MPE), todos eles obedecendo o mesmo procedimento interno.”

MPF investiga se presidente da Caixa pressionou Fiesp e Febraban

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Um procedimento de rotina interno do banco descobriu a lista de indicados da primeira-dama, segundo a publicação.

Ao analisar os processos de concessão de empréstimos, uma equipe de auditores da Caixa percebeu que algumas empresas tinham sido indicadas por uma “PEP”, sigla que quer dizer “pessoa exposta politicamente”.

Segundo a “Crusoé”, um documento dizia: “Cliente veio através de lista de empresas indicadas pela primeira-dama Michele Bolsonaro ao presidente Pedro Guimarães”.

Outro confirmava a informação: “Direcionamos para análise e tratativas necessárias solicitações de microempresários de Brasília enviadas pelo gabinete da primeira-dama Michelle Bolsonaro”.

De acordo com a revista, ainda que não tenham sido encontrados indícios de que os valores liberados extrapolavam os limites nem de que as empresas beneficiadas não poderiam ser atendidas, chamou a atenção dos auditores o caminho dos processos — de cima para baixo, contrariando as regras e o fluxo de etapas que costumam ser obedecidas quando os pedidos são feitos por clientes comuns, em uma agência qualquer.

A apuração do caso deverá ser feita no inquérito que, entre outros pontos, investiga a suposta pressão política de Guimarães sobre a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) a fim de impedir a entidade a aderir a um manifesto organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) (vídeo acima).

O texto pedia “harmonia e colaboração” entre os poderes da República e foi entendido dentro do governo como um ataque ao presidente Jair Bolsonaro.

Nesta quinta-feira (30), a Febraban confirmou ao Ministério Público Federal que Guimarães ameaçou retirar o banco da entidade se fosse mantido o apoio ao manifesto (vídeo abaixo).

Febraban confirma ao MPF que presidente da Caixa ameaçou sair após manifesto da Fiesp

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O suposto favorecimento a amigos da primeira-dama teve repercussão negativa entre parlamentares e partidos de diferentes posições ideológicas nesta sexta.

O líder da Minoria na Câmara, deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), anunciou que os partidos de oposição (PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB e Rede) acionaram o Ministério Público Federal para pedir que Michelle Bolsonaro seja investigada por tráfico de influência.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), anunciou que pediu esclarecimentos ao ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a liberação dos empréstimos pela Caixa. A bancada do partido Novo na Câmara também disse ter feito requerimento semelhante ao Ministério da Economia.

“Acabamos de protocolar na Câmara pedido de explicações ao ministro Guedes e ao presidente de Caixa sobre crédito facilitado pra empresários amigos por intermédio de Michelle Bolsonaro. Essa família é assim, mamata para os seus”, escreveu Gleisi em uma rede social.

O partido Novo também se manifestou em rede social: “Para o Novo, a intermediação é imoral e ilegal. Por isso, cobra do ministério cópias dos e-mails e contratos com as empresas beneficiadas e respostas quanto aos critérios que fundamentam a concessão de crédito”.



Fonte: G1