O mercado já precifica como certo um aumento de 0,5 ponto percentual nos juros, levando a Selic, a taxa básica de juros da economia, de 13,25% para 13,75%. A decisão do Copom será anunciada no final do dia desta quarta-feira, 3, mas o mercado não vê espaço para grandes surpresas. Se concretizada, será a 16ª vez que o Banco Central eleva os juros na tentativa de controlar a inflação que acumula alta de 11,89% em doze meses.
Com uma nova alta já esperada, a expectativa do mercado agora é a postura que o BC vai adotar na condução da política monetária daqui pra frente, se o banco vai cumprir as sinalizações de fim do ciclo altista ou deve deixar espaço para novas altas e um juro alto por tempo prolongado. Ou seja, o comunicado da decisão é mais aguardado do que ela em si.
Estados Unidos e Europa convivem com uma inflação não vivenciada há décadas pelos países, e a piora desses índices nos últimos meses colocaram uma forte pressão nos planos do BC de afrouxar a política monetária por aqui. A expectativa de encaminhar a Selic para a faixa terminal de 13,75% era alta, mas a deterioração do cenário econômico global com elevações de juros nas principais economias do mundo e os riscos ficais no cenário doméstico diminuem as perspectivas para o fim desse ciclo.
Com o agravamento da situação externa e interna, esta última provocada pelas medidas de cunho eleitoral do governo Bolsonaro, o mercado começa a precificar se há espaço para mais algum ajuste adicional, com a Selic terminando o ano no patamar de 14%. “Acredito que o BC chegue a uma taxa de pelo menos 14% neste ano. O próprio Boletim Focus divulgado nesta semana trabalha com a expectativa de que o juro básico suba de 13,75% para 14% para o fim do ano, o que é influenciado pelo cenário de deterioração da expectativa de inflação para o ano que vem”, diz Fabio Louzada, economista e fundador da plataforma Eu me banco.
Apesar da inflação estar demonstrando leves sinais de arrefecimento neste ano, o mercado projeta um transbordamento da alta dos preços para o próximo ano e também uma Selic mais alta do que estava previsto anteriormente. As perspectivas inflacionárias estão em sua quinta semana consecutiva de queda no Boletim Focus, com o mercado projetando o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) em 7,15% no final do ano, abaixo dos 7,30% da semana anterior e dos 7,96% de um mês atrás. “Sabemos que se trata de um alívio temporário devido às decisões do governo em relação à diminuição do imposto de ICMS diminuindo preços de gasolina e energia, o que passa uma sensação de melhora. Porém, não temos o problema da inflação resolvido. Isso deve levar o Copom a subir juros novamente nesta semana como tentativa de controlar a inflação”, diz Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital. Apesar da desaceleração prevista para este ano, o IPCA aumentou de 5,30% para 5,33% em 2023, e a Selic escalou para 11%, contra a projeção anterior de 10,5%.