Mais pobres levarão 14 anos para repor perdas da pandemia, diz relatório da Oxfam | Economia


Enquanto as mil pessoas mais ricas do mundo recuperaram as perdas econômicas durante a pandemia em apenas nove meses, os mais pobres vão levar pelo menos 14 anos para conseguir repô-las, mostra o relatório O Vírus da Desigualdade, divulgado pela Oxfam nesta segunda-feira (25), na abertura do Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça.

De acordo com a ONG, a pandemia tem o potencial de aumentar a desigualdade econômica em quase todos os países ao mesmo tempo – algo que acontece pela primeira vez desde que as desigualdades começaram a ser medidas há mais de 100 anos.

“O vírus matou mais de 2 milhões de pessoas no mundo e tirou emprego e renda de milhões de pessoas, empurrando-as para a pobreza. Enquanto isso, os mais ricos – indivíduos e empresas – estão prosperando como nunca”, diz a ONG.

Em fevereiro de 2020, os mais ricos tinham 100% de suas fortunas. Em março, essa riqueza caiu para 70,3%, voltando aos 100% em novembro. Para se ter uma ideia da velocidade da recuperação, os mais ricos do planeta levaram cinco anos para recuperar o que perderam durante a crise financeira de 2008.

Em todo o mundo, os bilionários acumularam US$ 3,9 trilhões entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020 – a riqueza total deles hoje é de US$ 11,95 trilhões, o equivalente ao que os governos do G20 gastaram para enfrentar a pandemia.

Só os 10 maiores bilionários acumularam US$ 540 bilhões nesse período – o suficiente para pagar pela vacina contra a Covid-19 para toda a população mundial e garantir que nenhuma pessoa seja empurrada para a pobreza, destaca a Oxfam.

“A pandemia escancarou as desigualdades – no Brasil e no mundo. É revoltante ver um pequeno grupo de privilegiados acumular tanto em meio a uma das piores crises globais já ocorridas na história. Enquanto os super-ricos lucram, os mais pobres perdem empregos e renda, ficando à mercê da miséria e da fome”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

Mulheres são mais afetadas

Segundo a Oxfam, as mulheres são maioria nos empregos mais precários, justamente aqueles que foram, globalmente, mais impactados pela pandemia. Se elas tivessem o mesmo nível de representação que os homens nesses empregos, 112 milhões de mulheres não estariam mais sob o risco de perder sua renda ou empregos. É o caso, por exemplo, das áreas de saúde e assistência social que, além de serem mal remuneradas e desvalorizadas, também expõem mais as mulheres aos riscos de contaminação por Covid-19.

Desigualdade de raça tira vidas

Nos Estados Unidos, 22 mil pessoas negras e hispânicas ainda estariam vivas se tivessem a mesma taxa de mortalidade por Covid-19 que as pessoas brancas. As taxas de contaminação e mortes são maiores em áreas mais pobres de países como França, Espanha e Índia. Na Inglaterra, essas taxas são o dobro nas regiões mais pobres em comparação com as mais ricas.

Imposto temporário ajudaria, diz ONG

De acordo com a Oxfam, um imposto temporário sobre os lucros obtidos pelas 32 corporações globais que mais lucraram durante a pandemia poderia arrecadar US$ 104 bilhões em 2020. Isso é o suficiente para providenciar auxílio desemprego para todos os trabalhadores e trabalhadoras afetados durante a pandemia e também para dar apoio financeiro para todas as crianças e idosos em países de renda baixa ou média.

“A desigualdade extrema não é inevitável, mas uma escolha política. Os governos pelo mundo precisam utilizar esse momento de grande sofrimento para construir economias mais justas, igualitárias e inclusivas, que protejam o planeta e acabem com a pobreza”, afirma Katia Maia.

Para ela, a recuperação econômica tem que incluir as pessoas em situação de vulnerabilidade, ou seja, não pode haver recuperação econômica sem responsabilidade social.

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Fonte: G1