Maioria das empresas com ações negociadas na bolsa brasileira não tem mulheres em cargos de direção, diz B3 | Economia


Um levantamento inédito da B3, a Bolsa de Valores do Brasil, mostra que a maioria das empresas com ações negociadas no mercado de capitais do país não tem mulheres em cargos de diretoria. Todavia, mais da metade destas companhias já contam com a presença feminina em seus Conselhos de Administração.

A presença feminina em cargos de direção foi observada em apenas 39% das empresas com capital aberto na bolsa de valores brasileira, mas chegou a 55% nos Conselhos de Administração destas companhias.

O estudo foi feito a partir das informações públicas prestadas em documentos regulatórios pelas próprias companhias em junho deste ano. Naquele mês, havia 408 empresas com ações negociadas na B3 que, juntas, somavam 2.196 cargos de diretoria estatutária e 2.596 cargos de conselheiros de administração.

Faltam mulheres nos cargos de direção das empresas com ações negociadas na B3 — Foto: Economia/g1

De acordo com o levantamento, considerando o quadro diretor das 408 empresas listadas na B3, 61% não têm mulheres, 25% têm somente uma mulher e apenas 6% têm três ou mais mulheres.

Já em relação ao Conselho de Administração destas 408 empresas, 45% não tinham participação feminina, 32% têm apenas uma mulher conselheira e somente 6% contavam com três ou mais mulheres entre os conselheiros.

“Acredito que o retrato obtido com esse levantamento nos mostra que, mesmo com uma preocupação crescente dos investidores e empresas, ainda temos um imenso trabalho a ser feito para avançar na pauta de diversidade e inclusão. Isso exige foco, estratégia e comprometimento de todos nós”, avaliou o CEO da B3, Gilson Finkelsztain.

A B3 apontou que a participação feminina varia de acordo com o segmento de listagem [categorias nas quais estão divididas as empresas que operam na bolsa] ao qual a empresa está inserida.

Entre as empresas listadas no segmento Básico, 69% não tem mulheres em cargos de direção. Este percentual é de 52% no Nível I, 61% no Nível II e de 56% no Novo Mercado. Já o percentual de empresas com 3 ou mais mulheres em cargos de diretoria é de 7% no segmento Básico, 26% no Nível I, 4% no Nível II e 3% no Novo Mercado.

Mesmo no segmento com o mais elevado padrão de governança, o Novo Mercado, é baixa a diversidade de gênero entre a alta gestão das empresas — Foto: Economia/g1

Considerando os Conselhos de Administração das empresas de capital aberto, entre aquelas listadas no segmento básico 53% não registram a presença feminina. Esse percentual corresponde a 70% entre as companhias do Nível I, 79% entre as do Nível II e 75% no Novo Mercado.

Questionada, a diretora de Emissores da B3, Flávia Moura, disse que “não admira que ainda tenha um número pequeno de empresas com mais mulheres compondo a sua estrutura, estatutária”, pois a discussão em torno da diversidade de gênero na alta gestão corporativa começou a ganhar intensidade “num passado mais recente”.

Por se tratar de um estudo inédito, a B3 não sabe apontar como tem se dado a evolução da presença feminina na gestão das empresas com capital aberto. Todavia, a diretora Flávia Moura apontou que “na passagem de 2020 para 2021 houve um incremento de 20% de mulheres em cargos de diretoria estatutária” das companhias listadas.

“O que a B3 tem tentado fazer é se posicionar e ser um lugar onde essas conversas possam acontecer. O objetivo desse estudo é trazer conhecimento e, na medida do possível, ajudar as empresas a fazerem suas conexões e acelerarem os seus processos na agenda da diversidade”, completou o diretor de relacionamento com clientes da B3, Rogério Santana.

Com o objetivo de estimular as empresas a avançarem na diversidade de gênero em seus quadros de liderança, a B3 lançou, em setembro, o SLB (Sustainability-linked Bond), um título de dívida vinculado a metas de sustentabilidade.

“Foi o primeiro SLB emitido por uma bolsa de valores em todo o mundo”, destacou a diretora executiva de Sustentabilidade, Pessoas, Marketing e Comunicação da B3, Ana Buchaim.

Enquanto o mais comum no mercado é empresas lançarem SLBs atrelados a metas ambientais, a B3 ancorou o seu novo título a duas metas exclusivamente sociais:

Criação, até 2024, de um índice de diversidade para mostrar quem são as empresas que têm bons indicadores e medir sua performance nessa área.

Atingir, até 2026, o percentual de 35% de mulheres em cargos de liderança na B3 (gerentes, superintendentes e diretoria, o que inclui também os C-level)

“A ideia é convidar as cias a responderem a esse índice. Para uma empresa estar dentro de um índice significa, potencialmente, ter novos acionistas”, acrescentou o diretor de relacionamentos Rogério Santana.

Este SLB se soma, entre outras ações, ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), lançado em 2005 e aprimorado ano a ano.

Segundo a B3, “trata-se de um indicador que ajuda o investidor a analisar o real comprometimento das empresas com as melhores práticas de sustentabilidade e que, também, estimula as companhias a avançar nessa área”.

O ISE avalia iniciativas relacionadas a questões sociais, ambientais e de governança. “A gente entende o nosso papel nesse lugar de mostrar de dar transparência, às empresas que investem em boas práticas de governança”, enfatizou a diretora Ana Bucheim.



Fonte:G1