Lira turca despenca quase 9% após Erdogan defender queda de juros apesar de inflação em alta | Economia


A lira turca chegou a afundar quase 9% nesta terça-feira (23), depois que o presidente do país, Tayyip Erdogan, defendeu os recentes cortes acentuados nos juros e prometeu vencer sua “guerra econômica pela independência”, apesar de críticas generalizadas e apelos para que reverta o curso.

A lira chegou a tocar 12,49 por dólar, atingindo uma mínima recorde pela 11ª sessão consecutiva. A moeda já perdeu 40% de seu valor este ano, incluindo desvalorização de quase 20% desde o início da semana passada.

Erdogan tem pressionado o banco central para que entre num ciclo agressivo de afrouxamento monetário que busca, segundo ele, aumentar as exportações, investimentos e empregos — mesmo com a inflação disparando para perto de 20% e a depreciação da moeda se acelerando, afetando profundamente a renda dos turcos.

O ex-vice-presidente do banco central Semih Tumen, que foi demitido por Erdogan no mês passado, pediu um retorno imediato às políticas que protegem o valor da lira.

“Este experimento irracional, que não tem chance de sucesso, deve ser abandonado imediatamente e devemos retornar a políticas de qualidade que protejam o valor da lira turca e a prosperidade do povo turco”, disse ele no Twitter.

Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, usa máscara durante discurso em 3 de novembro — Foto: Adem Altan/AFP

O recuo desta terça-feira na moeda turca foi o mais intenso desde que o presidente anterior do banco central foi demitido em março, e sua sequência de 11 dias de perdas é a mais longa desde novembro de 1999. A lira acumula, de longe, o pior desempenho nos mercados emergentes este ano devido principalmente ao que os analistas chamam de uma flexibilização monetária imprudente e prematura.

O banco central da Turquia cortou sua taxa básica de juros na última quinta-feira em 1 ponto percentual, para 15%, bem abaixo da inflação de quase 20%, e sinalizou mais afrouxamento à frente.

A autoridade monetária cortou os custos dos empréstimos num total de 4 pontos percentuais desde setembro, no que os analistas chamam de um perigoso erro de política monetária, já que os rendimentos reais estão profundamente negativos e praticamente todos os outros bancos centrais começaram a aumentar os juros ou estão se preparando para fazê-lo.

O Société Générale disse na segunda-feira que o banco central teria de fazer um aumento “de emergência” em sua taxa básica de empréstimo já no próximo mês, levando os juros para cerca de 19% até ao final do primeiro trimestre de 2022.



Fonte:G1