Guerra de Lula contra o BC não produziu resultado, mas deixará vestígios


A decisão do governo federal de jogar para abril a apresentação da nova âncora fiscal veio ontem como um sinal claro de que ninguém mais ali acreditava mais que o Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, pudesse iniciar nesta quarta-feira uma redução da taxa básica de juros. O colegiado encerra hoje sua reunião. E o que se espera é uma Selic firme no atual patamar de 13,75%.

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A ideia de sensibilizar o Copom a baixar os juros era o principal motivo da pressa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em divulgar o projeto do novo arcabouço fiscal ainda nesta semana. Haddad queria mostrar que o governo está fazendo a lição de casa. Mas, mesmo que entregasse um trabalho impecável, o cenário internacional jogou contra.  Uma vez confirmadas as expectativas, as atenções devem se voltar agora para a justificativa que o Copom dará para a manutenção da taxa. E, principalmente, para qualquer indicação de redução futura.

O problema é que os efeitos negativos da guerra declarada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central tendem a persistir. Lula atacou duramente o BC, com reforço da alta cúpula do seu partido. Foi para cima do presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Condenou sucessivamente a autonomia do banco. E o maior fruto disso parece ter sido alimentar o discurso da oposição de que o BC não pode se curvar às pressões do novo governo. Como se baixar os juros já na reunião de hoje fosse um sinal de fraqueza diante de Lula.

Todo mundo perde com isso. E o fato é que a equipe de Lula ainda precisa, sim, fazer a lição de casa. Uma das tarefas é resolver a briga interna que atrapalha a elaboração da proposta da nova âncora fiscal. Pelo que  se falou até agora, fica a impressão de que a demora do governo pouco tem a ver com a eficiência do mecanismo proposto por Haddad em conter os gastos públicos. Em geral, o que se escuta nos bastidores é que há uma “satisfação geral” nesse quesito. O problema é que Lula e a ala política simplesmente não querem ter que frear despesas.

O governo parece buscar uma fórmula mágica em que o Estado conseguiria resgatar a confiança do mercado sem precisar reduzir gastos de maneira significativa, inclusive na área social. Afinal, isso poderia impactar na popularidade de Lula e, quem sabe, até pavimentar a volta do bolsonarismo. Ou seja, o olho está onde não deveria: lá em 2026.

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