As maiores empresas brasileiras entendem que áreas de compliance robustas são fundamentais para garantir a resiliência no longo prazo, com foco na sustentabilidade do negócio, na imagem e na reputação. Foi essa a conclusão a que chegou uma pesquisa realizada em 2022 pela Deloitte em parceria com o instituto Rede Brasil do Pacto Global. Das 113 empresas ouvidas, 88% têm uma área dedicada a ações de conformidade e 89% avaliam que a preocupação com esse setor contribui para melhorar o resultado financeiro da organização.
Prestes a completar 70 anos de existência, a J&F Investimentos, holding dos irmãos Joesley e Wesley Batista, lidera essa tendência há anos. É um dos maiores grupos empresariais do país e trabalha para seguir no topo, conciliando uma estratégia de negócios consolidada com um esforço global de governança.
Nos últimos anos, o grupo investiu 250 milhões de reais no maior programa de compliance do mundo. O esforço contribuiu para a companhia sustentar uma rota de crescimento ininterrupto há cinco anos, o que não impediu a empresa de ver a receita bruta aumentar mais de 100% e chegar a 365 bilhões de reais em 2021.
No mesmo período, em meio a uma crise global sem precedentes, contratou mais de 24 000 novos colaboradores, atingindo 267 000 funcionários em todo o mundo, além de envolver em sua cadeia produtiva cerca de 1 milhão de fornecedores. O grupo é o maior empregador do país, com mais de 160 000 colaboradores no Brasil.
“Qualquer empresa que quer chegar aos 70 anos precisa olhar para o compliance e a governança como condicionantes para o sucesso e a sustentabilidade do negócio. O crescimento dos nossos negócios em paralelo com os investimentos em compliance demonstra isso”, afirma o diretor global de compliance do grupo, Lucio Martins.
Números expressivos
Atualmente, a J&F, que conta com 12 empresas e está presente em 190 países, possui uma infraestrutura global voltada à conformidade, padronizada e seguindo diretrizes muitas vezes mais rigorosas do que as estabelecidas pela legislação – o esforço envolve uma rede formada por 12 líderes, integrantes de um comitê global de compliance.
A dimensão do grupo e a sua capilaridade, no Brasil e no exterior, tornam especialmente desafiador criar uma cultura sólida de conformidade. O trabalho não é simples, e os números dão a dimensão do esforço. Até setembro de 2022, foram 540 reuniões da alta diretoria das empresas da J&F envolvendo o tema compliance, mais de 535 000 colaboradores diretos e indiretos treinados, 24 900 due diligences realizadas, além da exclusão de 1 110 fornecedores que não passaram no crivo do compliance.
Uma auditoria anual, externa e independente, mede os avanços do grupo na área. Mais de 190 itens são auditados para verificar a aderência do programa de compliance da J&F às melhores práticas internacionais da área. Atualmente, a empresa tem 97% de adesão a essas práticas.
Somado a isso, a J&F patrocina o Programa Sementes de Compliance, que no ano passado ofereceu 60 bolsas de estudo integrais na LEC, principal escola de formação em conformidade e Lei Anticorrupção do país. Em 2023, a empresa vai financiar outras 60 bolsas para a segunda edição do curso, voltado para profissionais de todas as regiões do país. A companhia ainda lançou este ano um e-book gratuito, disponível para o público em geral, com orientações para a estruturação de uma cultura de compliance nas empresas.
Para Martins, mais do que retórica, as práticas de conformidade são uma condição primordial para se alavancar negócios e conquistar financiamentos. “Os executivos sabem que a perenidade das empresas só acontece com um efetivo programa de compliance inserido fortemente em sua cultura”, finaliza o diretor de compliance.