Uma investigação mundial em que telefones “criptografados” foram vendidos ao crime organizado resultou em uma operação com mais de 800 prisões e a apreensão de drogas, armas, dinheiro e carros de luxo, disseram autoridades nesta terça-feira (8).
A operação “Trojan Shield” (“Escudo de Troia”, em tradução livre) foi concebida em 2018 pela polícia australiana e pelo FBI, a Polícia Federal americana. Os celulares foram “plantados” durante três anos e podiam ser monitorados.
O FBI ajudou a infiltrar 12 mil aparelhos em 300 grupos criminosos em mais de 100 países, afirmou Calvin Shivers, da Divisão de Investigação Criminal da Polícia Federal americana, a repórteres em Haia.
Quase 20 milhões de mensagens foram interceptadas.
A agente especial do FBI, Suzanne Turner, durante coletiva de imprensa sobre a operação “Escudo de Troia” nesta terça (8) — Foto: Mike Blake/Reuters
A operação envolveu também a polícia europeia e resultou em prisões na Austrália, na Ásia, na Europa, na América do Sul e no Oriente Médio de envolvidos no tráfico internacional de drogas.
Também foram apreendidos milhões de dólares em dinheiro e 30 toneladas de drogas (incluindo mais de oito toneladas de cocaína) em todo o mundo.
Não há informações sobre a participação do Brasil na operação.
Foto sem data fornecida pela polícia da Nova Zelândia mostra maconha apreendida na operação “Escudo de Troia” — Foto: Polícia da Nova Zelândia via AP
A “Trojan Shield” começou quando autoridades americanas pagaram a um traficante de drogas condenado para dar-lhes acesso a um smartphone e instalou o “ANOM”, um aplicativo de mensagens criptografadas.
Telefones “criptografados” passaram então a ser vendidos para redes de crime organizado, por meio de distribuidores no submundo do crime, por US$ 2 mil cada um (mais de R$ 10 mil).
Os celulares não tinham e-mail nem serviço de ligação ou GPS e era necessário enviaram um código por outro usuário do ANOM para que o dispositivo funcionasse. O serviço de mensagens “seguro” era escondido em um aplicativo de calculadora.
“Os aparelhos circulavam organicamente e se tornaram populares entre os criminosos, que confiavam na legitimidade do aplicativo porque figuras reconhecidas do crime organizado os defendiam”, afirmou a polícia da Austrália em um comunicado.
A infiltração acabou em março deste ano, quando o usuário “canyouguess67” apontou no WordPress que o ANOM era uma “farsa” e que um dispositivo que havia testado estava “em contato permanente” com os servidores do Google e transmitia dados para outros não seguros na Austrália e nos EUA.
“É preocupante ver uma série de endereços IP vinculados a muitas corporações dentro da Five Eyes””, dizia a publicação antes de ser removida. Five Eyes (“Cinco Olhos”) é o nome da aliança de inteligência entre Austrália, EUA, Canadá, Reino Unido e Nova Zelândia.
VÍDEOS: as últimas notícias internacionais
Fonte: G1