Ético e agregador, Guardia ajudou a construir um país melhor | Blog Ana Flor


Em meados de 2018, quando a campanha presidencial começou a esquentar e os mercados estavam nervosos, Eduardo Guardia, ministro da Fazenda, ligou para o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, e combinou uma estratégia: encontrar com todos os assessores econômicos dos presidenciáveis e mostrar a real situação das contas do país.

Além de conduzir a área econômica em um fim de governo, era preciso contribuir para que o novo governo tivesse todos os instrumentos para começar uma gestão sem perder tempo tomando pé da situação.

Guardia morreu nesta segunda-feira (11) em São Paulo, aos 56 anos, depois de lutar contra um câncer.

Morre, em São Paulo, o economista Eduardo Guardia

Morre, em São Paulo, o economista Eduardo Guardia

Paulo Guedes, ministro da Economia, lembrou hoje da transparência e firmeza de seu antecessor.

“Foi uma ajuda inestimável. Excelente pessoa, excelente profissional, extraordinariamente cooperativo durante a transição. Gentil, generoso”, afirmou ao blog.

A estratégia de ajudar quem cuidava da área econômica dos candidatos mostrava a preocupação com a coisa pública e com o olhar preocupado com o país.

“Uma pessoa ética, passava uma honestidade total. Mesmo quando tínhamos divergências, podíamos confiar um no outro. Foi um dos melhores parceiros com quem trabalhei. Ele fez diferença para o Brasil”, disse Goldfajn, que se tornou amigo de Eduardo.

Logo após assumir a cadeira de ministro — depois de dois anos como secretário-executivo — Guardia enfrentou o que para ele foi um dos maiores testes: a greve dos caminhoneiros de 2018.

“Foi muito difícil aquele período, mas Guardia pegava os problemas e ia para cima resolver com uma calma e ao mesmo tempo empolgação”, disse Mansueto Almeida, que trabalhava com ele no BTG.

“Estava no auge da sua carreira profissional. Um homem público que ainda tinha muito a contribuir para o Brasil”, disse Almeida nesta segunda-feira.

Reservado, sempre avesso aos holofotes, Guardia impressionava pelo foco e obstinação que tinha ao tentar desmontar obstáculos.

Desde a época em que foi secretário do Tesouro, no final do governo Fernando Henrique Cardoso, teve participação na construção dos principais arcabouços fiscais, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Teto de Gastos, além de normas importantes para consertar as contas da União, como a reforma da Previdência.

Por mais de um ano, trabalhou discretamente na solução para a negociação da cessão onerosa, com diversos ministérios e a Petrobras.

“O Guardia não foi só um craque da área econômica pública e privada, mas também um líder e articulador que costurou e montou a equação da cessão onerosa, com a sacada de um acordo de confidencialidade subscrito por todos os participantes”, disse Márcio Félix, ex-secretário executivo do Ministério das Minas e Energia.

À frente do Ministério da Fazenda, conduziu um grupo obstinado, que havia sido apelidado meses antes de “dream team” da economia: Mansueto Almeida, Ana Paula Vescovi, João Manoel Pinho, Marcos Mendes, Jorge Rachid.

“Vi o economista mais completo da nossa geração construindo um país mais justo. Para além de economia, o Edu sabia de empatia e de escutar. Tinha disciplina, foco, valores elevados e sabia propor soluções. Era gentil, respeitoso e agregador. Ao invés de falar em perda, melhor cultuar e honrar a sua história”, disse Vescovi ao blog.

“Foi uma vida breve, mas que construiu muito para o país e para aqueles que tiveram o privilégio de trabalhar e conviver com ele”, disse Mendes.

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Fonte:G1