Em 5 anos, real perdeu quase 30% de seu poder de compra | Economia


Com tanta inflação, de março de 2018 a março de 2022 o real perdeu 27,57% de seu valor e poder de compra. Em outras palavras, com o mesmo valor agora a gente consegue comprar apenas dois terços do que comprava naquele ano.

Real perdeu poder de compra nos últimos anos — Foto: g1

Essas porcentagens se refletem todos os dias na vida dos brasileiros, que encontram preços mais altos para os mesmos produtos e serviços. E a inflação afeta os orçamentos das famílias de maneira diferente de acordo com a faixa de renda.

Para as mais pobres, o aumento dos preços dos alimentos e do gás de cozinha consome boa parte da renda no início deste ano. Em pelo menos 11 capitais, apenas os itens da cesta básica já equivaliam a mais de 50% do salário mínimo em março. Já as famílias de renda alta sentiram muito os reajustes dos preços de transporte, puxados pelo aumento da gasolina.

Por que ‘sentimos mais’ os aumentos

O economista Fabio Louzada, analista CNPI e CEO da escola Eu Me Banco, explica que o brasileiro parece “sentir mais” o peso da inflação porque vivemos “o pior cenário em termos de inflação versus reajuste de salários.”

“O brasileiro sente mais a inflação porque está nos produtos e serviços que a população mais consome no dia a dia: gasolina, gás de cozinha, alimentos, energia elétrica e aluguel. Complementando, vem o salário do consumidor que teve poucos reajustes nesse período, principalmente por conta da pandemia”, explica Louzada.

“Nos outros anos, por mais que a inflação subisse, os salários também subiam, então afetava um pouco menos o poder de compra.”

O aumento da inflação é explicado por fatores nacionais e internacionais, diz Louzada. “Quanto maior a instabilidade global, mais os investidores tiram dinheiro dos emergentes. A pandemia foi o principal fator nesse período, seguida da guerra na Ucrânia”, diz.

Crise hídrica e fenômenos climáticos em 2021, que alongaram períodos de secas e cheias, também afetaram a produção de alimentos e energia elétrica, diminuindo a oferta de produtos no mercado.

Além disso, o “aperto monetário” feito pelo Banco Central, com aumento da taxa de juros, não está sendo de fato efetivo para reduzir a inflação, avalia Patrícia Campos, supervisora da área de preços do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

“A política adotada é o aumento da taxa de juros, mas ela não trata a inflação na sua causa porque a economia brasileira está parada“, explica.

Os juros altos também afetam o poder de compra do brasileiro, que conseguem consumir menos produtos, já que os empréstimos também ficam mais caros.

Sentindo o poder de compra diminuir, mais de 60% da população teve que cortar gastos nos últimos seis meses, segundo uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no final de abril. E mais de 30% teve que fazer cortes “grandes ou muito grandes” nas despesas.



Fonte:G1