Dólar futuro supera R$5,50 com receios fiscais e exterior cauteloso


O dólar voltou a fechar em alta e numa máxima em mais de cinco meses nesta terça-feira, após uma arrancada nos minutos finais dos negócios que no mercado futuro empurrou a moeda acima de 5,50 reais, com o nervosismo acerca de mais despesas no Brasil se somando ao dia de força da divisa norte-americana no exterior.

Na B3, o dólar chegou a 5,5095 reais na máxima, acima do nível psicológico de 5,5000 reais que, para alguns, poderia acionar mais intervenções cambiais por parte do Banco Central.

No segmento à vista, o dólar até acusou queda no começo do dia, quando chegou a recuar 0,41%, a 5,4243 reais, mas um rali nas taxas dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos –movimento que em tese torna o ativo mais atrativo– mudou a direção do movimento.

No fim da manhã o dólar já operava em alta e assim ficou ao longo da tarde. Já perto das 17h (de Brasília) a moeda teve impulso extra em meio a falas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sobre o novo Bolsa Família. As declarações indicaram algum desconforto do presidente do Congresso com a proposta do governo de bancar o benefício apenas com a reforma do Imposto de Renda, que, lembrou, sequer foi votada pelo Senado.

Ao término das operações no mercado interbancário, o dólar subiu 0,71%, a 5,4849 reais, nível mais alto desde 23 de abril (5,4967 reais). Nos últimos dez pregões, a cotação valorizou-se em nove, acumulando ganho de 3,77% no período completo.

O real dividiu com o peso chileno nesta sessão o título de pior desempenho nos mercados globais de câmbio, depois de na véspera amargar a mesma posição. As moedas emergentes caíam pela segunda sessão consecutiva, aproximando-se de mínimas em cerca de 11 meses atingidas no fim de setembro.

Os mercados de câmbio em geral vão ficar em modo cautela até o fim da semana, quando os Estados Unidos divulgarão dados do mercado de trabalho local referentes a setembro. Se a geração de empregos vier forte, investidores vão colocar mais fichas na possibilidade de o banco central norte-americano reduzir oferta de dinheiro barato –o que teria efeito de alta para o dólar.

Enquanto isso, o cenário para o real segue turvo. Um analista de um banco estrangeiro disse que as variáveis que vinham dando suporte ao câmbio nos últimos meses –termos de troca, economia chinesa mais aquecida e curva de crescimento do Brasil para cima– caíram por terra, o que prenuncia, junto com fatores idiossincráticos, um ano de 2022 possivelmente mais difícil para a moeda brasileira.

Mesmo o efeito teoricamente positivo da política monetária mais apertada no Brasil tem sido suplantado pela deterioração do ambiente externo, que vem testemunhando novo rali do dólar por receios variados que vão da China à dívida soberana dos EUA.

A correlação entre os movimentos da taxa de câmbio brasileira e de um índice de moedas emergentes está em alta desde o começo de agosto e oscila no momento perto das máximas desde junho (ficando em torno de 0,145), indicativo de que o real pode estar mais reativo à dinâmica externa.

De acordo com dados do Morgan Stanley, o real foi alvo de mais apostas negativas no intervalo de uma semana, seguindo na lista das moedas que adicionam prejuízos ao retorno total de uma carteira de divisas emergentes. Isso se soma a dados de uma agência dos EUA mostrando que as apostas favoráveis ao real caíram na semana finda no último dia 28 ao menor patamar em quatro meses.

E, por ora, alguns indicadores técnicos seguem apontando dólar esticado. A curva da taxa de câmbio está quase colada na linha superior nas bandas de bollinger, que, se rompida, poderia indicar mais força para o dólar. O índice de força relativa de 14 dias (IFR-14) está em 65,2 –acima de 70, o preço do ativo é considerado elevado além do justificável.

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Fonte: Mix Vale