Dólar deve se manter a redor de R$ 5,30 e dificultar viagens ao exterior este ano; entenda os motivos | Economia


Em 2021, o dólar opera como uma verdadeira monta-russa, respondendo de forma rápida à instabilidade política e à vulnerabilidade do país diante da segunda onda da Covid-19.

Em janeiro, a moeda norte-americana chegou a ser cotada a R$ 5,50. Em maio, caiu para R$ 5,22. Tamanha oscilação do dólar criou “pontas de iceberg” no gráfico da cotação entre o final de fevereiro e o final de abril — quando a moeda registrou seu período de pico e bateu R$ 5,79, em 9 de março.

Essa flutuação do dólar não deve favorecer quem planejar viajar ao exterior este ano — assim como a pandemia também não deve colaborar, obviamente. Ainda que a moeda norte-americana tenha registrado queda em maio, economistas consultados pelo G1 afirmam que a divisa deve permanecer no pamatar de R$ 5,30 no segundo semestre, em linha com o último boletim Focus.

Entre os fatores que seguram o dólar neste nível estão a instabilidade política do país — incluindo a CPI da Covid —, a lentidão na vacinação e a inflação nos Estados Unidos (confira mais detalhes abaixo).

A instabilidade política do país mantém a economia brasileira fragilizada e o real sob constante pressão. Em maio, ganharam evidência a CPI da Covid e as investigações envolvendo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que apuram a suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira do Brasil para os Estados Unidos e para a Europa.

“A CPI virou uma grande arena de disputa política e, se essa discussão se inflamar, cria-se um grande risco percebido fazendo com que a taxa de juros tenha de ser maior para compensar o cenário”, explicou André Perfeito, economista-chefe da Necton.

Até o dia 19 de maio, o Brasil havia aplicado pelo menos uma dose em 17% da população. Isso coloca o país em 73º lugar no ranking de 190 nações e territórios. Na América, o Brasil fica em 9º lugar. O país mais bem posicionado do continente é o Chile, que aplicou pelo menos uma dose em 47% da população.

Com a pandemia ainda fora de controle e a confirmação de novas cepas vindas do exterior, como a indiana, o mercado permanece inseguro sobre quando o país, de fato, conseguirá retomar seu crescimento econômico, avaliou Marcelo Coutinho, diretor-executivo de câmbio do BankRio.

“O Brasil entrou no processo de compra de insumos e vacinas atrasado, apesar de ter um histórico de vacinação bom. Incertezas sobre quanto tempo o Brasil vai retomar sua economia por conta da pandemia, em detrimento dos países desenvolvidos, afugenta investidores”, explicou Coutinho.

Em abril, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA subiu 0,8%, resultado acima do esperado pelo mercado. Em 12 meses, o índice registrou variação de 4,2% — a maior desde setembro de 2008, quando chegou a 4,9%. Em março, a variação anual havia sido de 2,6%.

Juros em alta, dólar, inflação e pandemia: especialista explica o que vem pela frente na economia brasileira

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Com a divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) na quarta-feira (19), os mercados globais aumentam a aposta de retirada antecipada de estímulos e as taxas futuras encerraram a sessão regular em alta expressiva naquele dia.

De acordo com Perfeito, uma eventual alta dos juros longos nos EUA — os que estão fora do alcance do Fed — “pode enfraquecer ainda mais o real e levar o dólar a subir de preço no país“.

Situação fiscal do país

A explosão da dívida pública e o risco de um descontrole da situação fiscal é apontado pelos analistas como um dos principais fatores de incerteza doméstica, podendo inclusive inviabilizar uma retomada sustentada da economia brasileira.

Segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, as contas do governo registraram um superávit primário de R$ 2,101 bilhões em março — o melhor resultado para meses de março em sete anos. Ainda assim, o Tesouro Nacional avaliou que o Brasil continua sendo um dos países emergentes mais endividados do mundo: com 90% do PIB. Para o fim deste ano, o órgão estimou que a dívida recue para 87,2% do PIB.

Como contraponto, a balança comercial registrou superávit recorde de US$ 10,349 bilhões em abril, segundo o Ministério da Economia. Ou seja, as exportações superaram as importações, com entrada de dólares no país. No mês passado, as vendas externas somaram US$ 26,481 bilhões e as compras do exterior totalizaram US$ 16,132 bilhões, segundo números oficiais.

No acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, o governo informou que a balança teve saldo positivo de US$ 18,257 bilhões, valor 103,9% maior do que o registrado em no mesmo período de 2020, quando foi registrado um saldo positivo de US$ 8,955 bilhões.

De acordo com Fábio Gallo, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), o aumento de preço das commodities favorece o Brasil, fazendo com que mais dólares entrem no país com o aumento das exportações.

“O dólar deveria estar mais baixo porque o Brasil está batendo recorde de exportação, mas, com as incertezas que o país está vivendo, as empresas brasileiras no exterior não estão trazendo dólar para cá. Além disso, qualquer instabilidade que a gente tiver aqui, a moeda norte-americana pode subir novamente”, concluiu.



Fonte: G1