Desemprego cai, mas às custas de empregos de baixa qualidade; entenda os motivos | Economia


A taxa de desemprego no Brasil ficou em 13,7% no trimestre encerrado em julho, redução de 1 ponto percentual em relação à taxa de desemprego dos três meses anteriores (14,7%) e a menor taxa de desemprego no ano. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE. No levantamento anterior, referente ao trimestre encerrado em junho, a taxa de desemprego ficou em 14,1%.

Apesar da queda no número de desempregados – que passou de 14,4 milhões no trimestre encerrado em junho para 14,1 milhões em julho, a recuperação do mercado de trabalho se dá com empregos de baixa qualidade. Veja abaixo os dados da pesquisa que mostram essa tendência.

Desemprego – julho/21 — Foto: Economia g1

Subocupados batem recorde

Os trabalhadores subocupados por insuficiência de horas trabalhadas – aqueles que trabalham menos horas do que poderiam – chegou a um número recorde de 7,7 milhões de pessoas – aumento de 7,2% no trimestre terminado em abril, com mais 520 mil pessoas.

Esse dado indica que parte da recuperação do emprego vem se dando em vagas de baixa qualidade, com poucas horas de trabalho.

Em relação ao ano anterior, o indicador subiu 34%, quando havia no país 5,8 milhões de pessoas subocupadas.

Número de trabalhadores subocupados bateu recorde em julho — Foto: Economia/G1

Informais puxam alta da ocupação

Em um ano, o número de informais cresceu mais de 5 milhões. Esse grupo, que inclui aqueles sem carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores ou empregados por conta própria) ou trabalhadores sem remuneração, somaram 36,3 milhões de pessoas e uma taxa de 40,8%.

Segundo o IBGE, o trabalho informal foi o principal responsável pelo aumento da população ocupada e e teve o maior crescimento dos últimos tempos.

“Em um ano, o número de informais cresceu 5,6 milhões. O avanço da informalidade tem proporcionado a recuperação da ocupação da PNAD Contínua”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

No trimestre anterior (terminado em abril), a taxa foi de 39,8%, com 34,2 milhões de informais. Há um ano, esse contingente era menor, 30,7 milhões e a taxa de informalidade era de 37,4%, o menor patamar da série.

Evolução ao longo de um ano do contingente de trabalhadores informais no país — Foto: Economia/G1

Mais da metade (53%) dos trabalhadores informações estão ocupados no trabalho por conta própria — Foto: Economia/G1

Trabalho por conta própria foi o que mais cresceu

Dentre as categorias de trabalho que representam a informalidade, a de conta própria foi a que mais cresceu.

O número de trabalhadores por conta própria ficou em 25,2 milhões, recorde da série histórica, com altas de 4,7% (mais 1,1 milhão de pessoas) ante o trimestre anterior e de 17,6% (3,8 milhões de pessoas a mais) na comparação anual.

“O trabalho por conta própria tem sido a forma que mais pessoas estão encontrando de ingressar no mercado de trabalho. Em outros momentos de crise, a gente já havia observado que essa categoria é a primeira a ser afetada, mas também a primeira a começar a reagir”, diz a pesquisadora.

Trabalho por conta própria puxa alta da ocupação — Foto: Economia g1

Número de empregos sem carteira assinada sobe

O número de empregados sem carteira assinada no setor privado subiu 6%, para 10,3 milhões, ou acréscimo de 587 mil pessoas no trimestre. No ano, o aumento foi de 19%, com mais 1,6 milhão de pessoas.

Já o crescimento do número de empregados com carteira de trabalho (excluindo trabalhadores domésticos) foi menor, de 3,5% (1 milhão de pessoas a mais), passando para 30,6 milhões frente ao trimestre anterior. Em relação ao mesmo trimestre de 2020, o avanço foi de 4,2% (1,2 milhão a mais).

O rendimento real habitual do trabalhador vem em queda: no trimestre encerrado em julho, ficou em R$ 2.508 – 2,9% abaixo do registrado nos três meses imediatamente anteriores, de R$ 2.583.

Na comparação com julho de 2020, a queda é ainda mais acentuada, de 8,8%: há um ano, o rendimento real habitual foi de R$ 2.750.

Renda do trabalhador brasileiro vem encolhendo mês a mês — Foto: Economia/G1

A queda indica que os novos empregos que têm contribuído para a retomada do mercado de trabalho são de baixa remuneração: assim, apesar da alta nos postos, a massa de rendimento real habitual (o conjunto das remunerações pagas), ficou estável tanto em relação ao trimestre imediatamente anterior quanto frente ao mesmo período de 2020, segundo o IBGE.

“Essa queda do rendimento pode estar associada a um crescimento da ocupação baseado em trabalhadores com menores remunerações. Parte significativa da expansão da ocupação vem da informalidade. Então, hoje tem muito mais trabalhadores informais do que existia no ano passado. Além disso, a gente não pode esquecer que o crescimento da inflação que vem ocorrendo nos últimos meses também contribui para essa queda”, explica Adriana.



Fonte: G1