De janeiro a agosto, investimento direto é o menor desde 2009; retirada de aplicações é recorde | Economia


Os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 26,957 bilhões de janeiro a agosto deste ano, informou o Banco Central nesta quarta-feira (23).

Com isso, houve queda de 41% frente ao mesmo período de 2019, quando somaram US$ 46 bilhões. O valor é o menor para o período desde 2009, quando totalizaram US$ 18,972 bilhões. Ou seja, foi a menor entrada de investimentos no país em 11 anos.

De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o investimento direto se caracteriza por uma relação de longo prazo entre a empresa investida, que está no Brasil, e a investidora, no exterior.

“O que estamos vivendo hoje é uma situação internacional pode-se dizer inédita e afeta de formas diferenciadas os componentes do balanço de pagamentos, como o investimento direto. O mais provável é que [os investimentos estrangeiros] voltem quando a situação tiver um menor nível de incerteza aos patamares anteriores”, disse ele.

Retirada de aplicações financeiras

Além disso, os números do BC mostram retirada pelos investidores de US$ 28,281 bilhões de aplicações financeiras no Brasil nos oito primeiros meses deste ano. O valor inclui ações, fundos de investimentos e títulos da renda fixa.

Segundo ao BC, essa é a maior saída de recursos de aplicações financeiras da economia brasileira desde o início da sua série histórica em 1995, ou seja, em 26 anos. No mesmo período do ano passado, US$ 7,509 bilhões ingressaram no país em aplicações financeiras.

Os números do fluxo cambial, por sua vez, mostram que foi registrada uma saída de US$ 15,215 bilhões nos oito primeiros meses deste ano. O valor contabiliza todas as entradas e saídas de dólares da economia brasileira, seja com aplicações financeiras ou relacionadas com a balança comercial brasileira (contratações de câmbio para exportações e importações).

De acordo com dados do BC, os primeiro oito meses do ano também registraram a maior retirada de recursos da economia brasileira desde o início da série histórica, em 1982, ou seja, em 38 anos.

No mesmo período de 2019, US$ 6,526 bilhões haviam deixado o Brasil. Em todo o ano passado, quase US$ 45 bilhões foram retirados do país.

Segundo Fernando Rocha, do Banco Central, depois do pior momento da crise – em março, abril e maio –, os dados mostram melhora.

“Dados mais recentes do balanço de pagamentos [contas externas] como um todo são melhores do que os dados de março e abril, por exemplo. Parece haver uma melhora, mesmo que seja gradual, incompleto, um caminho para essa melhora”, disse ele.

Os números do BC contrastam com as declarações desta terça-feira (22) do presidente Jair Bolsonaro. Em discurso veiculado na 75ª Assembleia das Nações Unidas (ONU), ele afirmou que estaria havendo aumento investimentos no país, e que isso comprovaria a “confiança do mundo” no governo brasileiro.

“O Brasil foi, em 2019, o quarto maior destino de investimentos diretos em todo o mundo e no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento de ingresso de investimentos em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova a confiança do mundo no nosso governo, disse o presidente”, disse Bolsonaro.

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Segundo dados do BC, porém, os investimentos diretos também recuaram no primeiro semestre, para US$ 22,841 bilhões, com queda de 26,6% na comparação com o mesmo período do ano passado (US$ 31,147 bilhões). Foi o menor valor para o período desde 2009 (US$ 13,895 bilhões), ou seja, em 11 anos.

Em julho deste ano, um grupo de 29 instituições financeiras de todo o mundo enviou uma carta aberta a diversas embaixadas brasileiras, pedindo demonstrações de que o país está comprometido em acabar com o desmatamento. Juntos, esses investidores administram recursos no valor de R$ 20 trilhões.

No texto, o grupo demonstrou preocupação com os relatos de desmanche das políticas ambientais e de direitos humanos e das agências de fiscalização no Brasil.



Fonte: G1