De chips a navios, escassez faz inflação persistir – Notícias


Por Dhara Ranasinghe e Sujata Rao

LONDRES (Reuters) – Disparada dos preços do gás, falta de trabalhadores, escassez de navios –as pressões sobre os preços em todo o mundo podem estar aumentando mais rápido do que o previsto, desafiando a visão de que a inflação será transitória.

Os banqueiros centrais, embora confiantes de que inflação arrefecerá, estão começando a admitir que ela pode ficar elevada por mais tempo à medida que uma série de questões eleva os preços de bens e serviços e aumenta as expectativas de inflação.

Em última análise, suas conclusões determinarão a rapidez com que as autoridades vão reduzir seus trilhões de dólares em estímulo monetário, desembolsados para compensar a crise da Covid-19.

Aqui estão cinco elementos-chave no debate sobre a inflação:

1) ENERGIA

Os preços do gás na Europa e nos EUA dispararam mais de 350% e 120%, respectivamente, este ano. O petróleo está em alta de cerca de 50% e o Goldman Sachs espera que o Brent atinja 90 dólares o barril até o final de 2021, ante cerca de 80 dólares atualmente.

Muitos economistas consideram que os preços mais altos do gás vieram para ficar, devido à desaceleração da produção dos EUA, aumento dos custos das licenças de emissão de carbono para poluidores e freios no uso de combustíveis mais poluentes.

Enquanto isso, na China, onde a inflação ao produtor atingiu 9,5% em agosto, cortes de energia reduziram a produção de bens de cimento a alumínio.

2) CHIPS

Os semicondutores, ou chips como são conhecidos, são minúsculos, mas estão tendo um impacto descomunal nas fábricas globais.

Os preços dos chips subiram e a gigante de semicondutores TSMC está ponderando aumentos adicionais de até 20%. Isso afetará tudo, de eletrônicos e carros a telefones e máquinas de lavar. Mas os próprios fabricantes de chips enfrentam custos mais altos de insumos, desde commodities até energia.

“Parece provável que a escassez de semicondutores persistirá no próximo ano”, disse Jack Allen-Reynolds, economista sênior europeu da Capital Economics.

3) ALIMENTOS

Os preços globais dos alimentos avançaram 30% em agosto em comparação com o mesmo período do ano anterior, mostrou um índice compilado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura — um sinal de disseminação das pressões sobre os preços.

Embora os preços mais altos das commodities agrícolas estejam por trás do salto, analistas do JPMorgan também atribuem a inflação dos preços dos alimentos a pressões relacionadas à pandemia, como interrupções de logística e custos de transporte.

4) SUSTENTABILIDADE

Regras estritas para orientar a transição para um futuro mais sustentável também são responsabilizadas por alimentar a ‘inflação verde’, por exemplo, ao fechar fábricas, veículos, navios e minas poluentes, reduzindo por sua vez o fornecimento de bens e serviços essenciais.

Os preços das permissões para emissão de carbono na Europa dobraram este ano para 65 euros a tonelada. Um preço de 100 euros elevaria os preços da energia no varejo europeu em 12%, acrescentando 35 pontos-base à inflação da zona do euro, estimou o Morgan Stanley em junho.

Existem outros exemplos. A queda nas encomendas de navios devido à aproximação de mudanças nas regras sobre os combustíveis pode ser um fator favorável para os preços de transporte, que já avançaram 280% este ano.

5) SALÁRIOS

À medida que os preços sobem, também aumentam as expectativas de inflação entre os consumidores, que, consequentemente, exigem aumentos salariais.

O quadro de crescimento salarial é misto. Os ganhos médios por hora nos EUA aumentaram 0,6% em agosto e as expectativas de inflação de cinco anos no país estão em torno de 3%, mostram pesquisas.

Em alguns setores do Reino Unido, os ganhos avançaram até 30% este ano. Os custos trabalhistas da área do euro caíram no segundo trimestre, mas a inflação, assim como as expectativas de inflação, está subindo.

“Talvez os mercados estejam um pouco extremos em suas precificações, mas não estou recomendando aos investidores que desistam dessa posição”, disse Jorge Garayo, estrategista sênior de juros do Société Générale.



Fonte: R7